terça-feira, 31 de março de 2009

O Hip Hop a um ritmo acelerado!

Como já referimos anteriormente, este blog existe com o intuito de medir a pulsação ao hip hop contemporâneo (daí o nome, claro) sem, contudo, deixar de ressuscitar toda uma geração antecessora que muito fez para manter todo este corpo vivo são. Dos diagnósticos que nós próprios fazemos, esperamos sempre boas notícias, mas na altura que sentirmos o seu pulso fragilizado teremos sempre um bom remédio: Dead Prez! Mesmo que M-1 e stic.man não nos contemplem com novos registos (serei daqueles que direi aos meus netos que 'eu sou do tempo' em que se faziam álbuns como o "Let´s Get Free")... O hip hop precisa deles, eles precisam do hip hop e nós precisamos de Dead Prez. Toda essa envolvência estará, mais do que nunca, materializada no próximo LP do grupo. Aliás, o próprio nome do álbum/mixtape trata de não esconder essa ligação que por vezes parece carnal, tantas são as vezes que nos revemos neles. 'Pulse of the people' é o terceiro volume da saga 'Turn off the radio' e nasce da vontade de dar voz ao coração das pessoas das ruas, aquelas que não se deixam levar pelos media. Como se de um diagnóstico se tratasse, os Dead Prez falam para essas pessoas e por essas pessoas. Não há melhor ingratidão para com eles se não ouvirmos o que têm para dizer. Por isso, 23 de Junho tem de ser o dia mundial da rádio off. Mudem para opção cd e carreguem play nos Dead Prez.
É justo também dizer que por detrás deste registo está um produtor que, nos últimos tempos, tem merecido bastante destaque: DJ Green Lantern. É ele o responsável por todas as batidas desse novo pulso digital. No mic sentiremos também o ritmo cardíaco de Chuck D, Styles P, K’Naan, Bun B e Johnny Polygon.

À parte desta mixtape, os Dead Prez também já preparam novo trabalho discográfico. Depois de dois álbuns, duas mixtapes, dois registos a solo, "Information Age" será o terceiro álbum em conjunto e conta já com um single como amostra. 'Politrickkks' já se ouve por aí e faz jus a toda a história do duo ou não fossem eles um grupo extremamente político, hardcore, revolucionário e defensor da justiça social.

domingo, 29 de março de 2009

Boss AC - Estou Vivo



Boss AC está de regresso com um novo trabalho discográfico intitulado “Preto no Branco”. Em alta rotação, está já o primeiro single do álbum e respectivo videoclip. “Estou Vivo” é uma canção que aborda as vivências, o tempo, os dramas, as alegrias. Esta foi a forma que Boss AC encontrou para fazer a sua catarse, depois do acidente de viação que sofreu. É um manifesto pela vida. Um alerta para não se desistir dos sonhos, nem dos objectivos a que quotidianamente nos propomos e que, volta e meia, achamos impossíveis de materializar. Em suma, Boss AC pretende enfatizar a bênção que é viver. O videoclip foi rodado a meias entre Lisboa e Macau, reflectindo-se no ambiente sónico a influência asiática. Boss AC empreende uma corrida, a da sua vida, passando a sua mensagem, oferecendo os seus conselhos e exorcizando os seus fantasmas. Boss AC está bem vivo e o Hip Hop Nacional dá graças por isso.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Abram vagas nas prateleiras para o que aí vem!

Definitivamente 2009 será mais um ano bastante produtivo em termos de produções discográficas. São muitos os rappers/grupos que marcaram para os próximos meses a concretização de projectos mais ou menos previsíveis, mais ou menos adiados ou mais ou menos aguardados.

Maio dará as boas-vindas ao novo rebento de Busta Rhymes. Mas não se pense que a escolha do mês (e até do ano) reuniu total consenso. Dezembro de 2007, Julho e Dezembro de 2008 e Março de 2009 reclamaram para si o apadrinhamento do sucessor de "Bang Bang" (2006). E se o dia ideal para o lançar aos ouvidos do mundo não teve uma decisão consistente, o próprio nome do álbum também parece ter dado dores de cabeça a Busta Rhymes. De "Before Hell Freezes Over" passou a "Back on My Bullshit", ainda fez-se passar de "Blessed" e "B.O.M.B.", mas finalmente é um dado adquirido que sairá como "Back on My B.S". The Neptunes, Dj Scracth, Cool & Dre, Mr Porter e Pete Rock são alguns dos senhores que ajudaram na concepção. Como testemunhas de Busta no mic, teremos as vozes de Pharrel, Mary J. Blige, Common, Jadakiss e The Game, entre outros. Busta jura que vai ser clássico, mas o primeiro single (entretanto já cá fora) com Linkin Park ('We made it') parece desmenti-lo. Aguardemos que o resto do álbum lhe dê razão.

Quem também deverá reaparecer nas playlists por esse mundo fora será Nas.... e Damian Marley. Nas tinha dito há pouco tempo que andava a cozinhar algumas surpresas e uma delas será então um álbum em conjunto com o filho mais novo de Bob Marley (outra será a participação no próximo trabalho de Dr. Dre). "Distant Relative" deverá sair para os escaparates lá para Junho, mas já hoje serão dados a conhecer dois sons do registo. Recorde-se que Nas e Marley já tinham colaborado no bem sucedido 'Road to Zion'. Aliás, Damian é também presença assídua em músicas de outros rappers tais como B-Real, Redman, Method Man e Snoop Dogg.

Continuando em Junho, os Soul Assassins também pretendem fazer de 2009 o ano do seu regresso ao jogo. O colectivo (afiliado de Cypress Hill) irá materializar a 23 desse mês mais um projecto que, à semelhança dos dois primeiros, contará com a chefia de Muggs (dj e produtor de Cypress). O álbum chamar-se-á "Intermission" e conta com uma lista de convidados que fará questão de misturar a experiência da old school com a irreverência da nova escola: Krs-One, Rass Kass, Dr. Dre., Planet Asia, Bun B, Reef the Lost Cause e Fashawn.
Para quem não sabe, os Soul Assassins são um grupo de indivíduos, tais como RZA, GZA, Everlast, House of Pain, La Coka Nostra (para citar alguns), que de vez em quando se unem sem compromisso para umas parcerias amigáveis. Já não o faziam desde 2000, mas é este o ano que põe fim ao longo hiato.

Já Lupe Fiasco pôs um ponto final no seu... "LupeE.N.D.". Supostamente este trabalho seria mesmo o fim da linha para Lupe, mas afinal o rapper lembrou-se que ainda tem mais para dar (deja vú?). Então vai daí que pensou em lançar três álbuns num ano. Isto há uns meses atrás, porque como quem passa dos oito aos oitenta à velocidade da luz, Lupe Fiasco para já fica-se mesmo por um. Desse novo álbum sabe-se então que se chamará "We Are Lasers", sessenta por cento já está concluído e que, segundo o próprio, se baseia em acontecimentos vividos por ele no secundário. Prevísivel só mesmo o cozinheiro de serviço: Soundtrack, seu parceiro habitual nos cozinhados. Bun B e Kid Cudi estão na calha para a partilha do mic.

Recorde-se que Agosto tem-nos preparado uma das bombas do ano: "Conflosations" será o explosivo, Buckshot e Krs-One os terroristas! Este registo será a estreia do professor do hip hop na label do famoso membro dos Boot Camp Clik, a Duck Down Records. Ora, se a frente de ataque estará mais do que bem entregue, a quem foi confiada a preparação do engenho? Calma... Levando a sério os engenheiros que são dados como certos, diria que até a ETA se esforçará por reclamar tal ataque: Marco Polo, 9th Wonder, Black Milk, Havoc, Khrysis e Illmind... Se acham que a coisa ficará demasiado pesada, então o melhor será ficarem-se pela faixa 'On The Grind' que contará com a voz da sempre melodiosa Mary J. Blige. Quanto a outras alianças, fala-se em 50 cent, Immortal Technique, Heltah Skeltah e Smif N Wessun, mas certezas só mesmo de que o primeiro alerta será dado no fim de Abril quando o single 'Robot' entrar sem licença num qualquer ouvido de um qualquer cidadão distraído.
Como seria de esperar, em cada uma das sessões de gravação de "Conflosations" (que começaram há um ano) vai-se fazendo história...

quarta-feira, 25 de março de 2009

Hip Hop + Fado = Excelência



O Hip Hop é um corpo insaciável e curioso. Em tudo bebe, em tudo arrisca e mexe, para se tornar maior e melhor. A experimentação sonora desenvolvida no Hip Hop é bastante saudável, pois a capacidade que ele adquire em absorver os vários géneros musicais oferece-lhe soluções ilimitadas. Não há barreiras, a liberdade é a palavra de ordem. A influência do Funk, do Jazz, da Soul, passando pelos Blues, Rock, música brasileira, música indiana, entre outras, é por demais evidente no Hip Hop, a nível global. Mas então e o Fado, estilo musical marcadamente português, poderá apaixonar-se ou deixar-se arrebatar definitivamente pelo Hip Hop?



Ousando responder, eu diria que sim. A mescla entre o Fado e o Hip Hop tem-se vindo a intensificar nos últimos tempos. Quando os mágicos das batidas dotam o Fado de uma nova vida, o resultado é sempre surpreendente. Inicialmente, à novidade, poder-se-ia chamar “Estranha Forma de Vida”. Porém, tal como diz o poeta, “primeiro estranha-se, depois entranha-se”. O que acontece é que a música transpira originalidade. Deste cruzamento, o Hip Hop sai reforçado em portugalidade, devido aos condimentos únicos emprestados pelo Fado.



Há quem diga que a alma lusitana se encontra na guitarra portuguesa e não nas vozes do Fado. Sem querer enveredar por essa discussão, subscrevo apenas que a fusão quer entre as batidas e as vozes dos fadistas, quer entre as batidas e o choro das guitarras do Fado, fica sempre muito bem. Solta-se uma frescura ímpar. Nesta feliz parceria, há exemplos de canções em que a simbiose é plena. É o caso de Sam The Kid que nos emociona na fenomenal canção “Que Estranha Forma de Vida”. Samuel Mira encantou-nos ainda com o excelente tema “Viva!”, em homenagem a Carlos Paredes, e na colaboração que materializou com Jorge Fernando em “Pois é”. Recentemente, Boss AC e Mariza brilharam em conjunto no poderoso tema “Alguém Me Ouviu (Mantém-te Firme)”. Estes são apenas alguns exemplos, talvez os mais conhecidos, da união entre o Fado e o Hip Hop. O que ressalta em todos é a agradável sintonia e a excelência do resultado final.



Em Portugal, o Fado é claramente um rico e belo filão para os criadores de batidas. No exterior, o Fado, para além de continuar a ser admirado, já despertou a curiosidade de Exile, que usou um sample de Mariza, no tema “The Sound is God”. Sabe-se igualmente que DJ Premier já tomou contacto com o Fado, pois numa visita a Portugal foi presenteado com um disco de Amália Rodrigues, uma cortesia de D-Mars. Espera-se pois ouvir, um dia, um instrumental de Preemo com o Fado como elemento principal. De mãos dadas, Fado e Hip Hop, um matrimónio para vida. Com certeza.

terça-feira, 24 de março de 2009

Freestyle por todo o País

Quinta-feira no Café Au Lait (Porto) e sexta n'O Século (Lisboa) às 22h será apresentada a nova revista de conteúdo dedicado ao hip hop nacional. No primeiro espaço marcará presença a Body Rock Crew e no segundo Dj Maskarilha. A publicação bimestral chegará às bancas nacionais no próximo sábado e conta com uma tiragem de 4 mil exemplares.
A primeira edição dará destaque a Sam The Kid, Royalistick, DJ Kwan, BLE (writer), entre outros conteúdos.

Trick Daddy convive com lúpus

O rapper Trick Daddy anunciou ontem que na última década vem lutando contra lúpus, uma doença que provoca alterações no sistema imunológico e que afecta em grande número a comunidade afro-americana e hispânica. Foi numa consulta como tantas outras que o rapper recebeu o trágico diagnóstico quando naquele dia pensava apenas tratar da sua pele demasiado seca. Apesar de estar consciente das limitações que o acompanharão para o resto da vida (sensibilidade à luz do sol é uma delas), Trick Daddy mantém-se firme e não pensa sequer em mudar a rotina diária.

No momento, Trick continua a promover a sua autobiografia "Magic City: Trials of a Native Son" e a preparar "Finally Famous: Born a Thug Die a Thug", o seu próximo álbum que deverá estar cá fora ainda este ano.
Recorde-se que foi esta grave doença crónica que Jay Dilla combateu até às suas últimas forças, acabando por as perder poucos dias após completar 32 anos.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Macacos do Chinês - Rolling na Reboleira


Os Macacos do Chinês apresentam o vídeo oficial do primeiro single do álbum “Ruídos Reais”, que ostenta o selo da Enchufada. “Rolling na Reboleira” é uma canção bem construída, humorada, descontraída, que visa essencialmente elevar os espíritos através da boa ambiência incorporada na música. O refrão é deveras contagiante. O vídeo está muito bem feito, retratando as peripécias de dois jovens que tentam basicamente divertir-se, estando, por isso, sujeitos a algumas situações peculiares, sempre na corda bamba entre a rebeldia e a transgressão. No final, há um “Chato” que os livra de boa! “Chato” nesta canção pode soar a paradoxo, mas desenganem-se, a complementaridade é genial! O vídeo é imperdível. Definitivamente, diversão e dinheiro são agentes independentes, em que um não implica necessariamente o outro. Esta canção celebra esse facto. Óptimo!

sábado, 21 de março de 2009

Mos Def entre o cinema e o estúdio

O rapper Mos Def prepara-se para lançar o seu quarto álbum. Esta notícia não será novidade para muitas pessoas, até porque a novidade é mesmo não haver boas novas sobre o (esperadíssimo) lançamento do seu novo trabalho a solo. Ora, o facto de "Ecstatic" ainda não estar nas nossas prateleiras não quer dizer que o mc de Brooklyn esteja totalmente parado. Quer dizer, em termos de produções discográficas é um facto, já no que toca ao meio cinematográfico, Mos Def mantém-se linear em relação aos últimos anos da sua carreira enquanto actor: no mínimo dois filmes por ano. Foi assim em 2008 ("Be Kind Rewind" e "Cadillac Records") e será em 2009 com "Next Day Air" (poster em cima) e "Toussaint".
Ainda sem data marcada (fala-se em Maio ou Junho) mantém-se estagnada a saída do seu quarto álbum de originais. Inicialmente previsto para o ano passado, "Ecstatic" continua sem ver a luz do dia e nós continuamos na imensa escuridão de dúvidas que nos irrequieta. Talvez sentido-se culpado por esse sentimento, Mos disponibilizou-nos (nos últimos meses) dois dos (já confirmados) onze sons que nos consolarão os ouvidos. Para quem ainda não ouviu "Life In Marvelous Times" e "Quiet Dog", pode fazê-lo no space do artista.
"Ecstatic" conta com uma lista riquíssima de produções, tais como Madlib, o irmão mais novo deste, Oh No, Jay Dilla, Chad Hugo (The Neptunes), Pete Rock, Kanye West (por confirmar), Preservation, Just Blaze, entre outros.
Nos últimos concertos Mos Def presenteou os fãs com algumas músicas do novo registo. Entre elas consta "Auditorium", música que aproveita um belíssimo beat ("Movie Finale") que Madlib incluira num dos seus álbuns de instrumentais.

Tracklist (por confirmar) de "Ecstatic":

-Life in Marvelous Times
- Auditorium
- Super Magic
- Priority
- Twilight Speedball
- Pretty Dancer
- History
- Pistola
- Casa Bey
- Wahid
- Quiet Dog

sexta-feira, 20 de março de 2009

Época de Incêndios

A Footmovin’ prepara o regresso às lides com “Incendiários Mixtape”, que sairá a 1 de Abril. A mixtape será rastilhada por Bob da Rage Sense e Sir Scratch, contando com mais incendiários de serviço. Por sua vez, DJ Bomberjack também fez fagulhas, sendo o responsável pela mixagem. O calor já começa a apertar, a altura é, portanto, propícia à deflagração. Quem quiser que chame os bombeiros. Por nós, deixa arder!

Ordem dos Ateamentos:
1) Mr. Morrison
2) Sir Scratch
3) Bob da Rage Sense
4) Blasph, Sir Scratch e Pródigo
5) Capicua
6) Raftag
7) Bob da Rage Sense & Sir Scratch
8) QQ
9) Eva
10) Zuka e Bob da Rage Sense
11) Sir Scratch e Nga
12) Raftag & Bob da Rage Sense
13) Sir Scratch, Lancelot, Bob da Rage Sense e God G
14) Sagas e Bob da Rage Sense
15) Nerve
16) Brasileiro (Teorema)

A solo é que está na moda!

Big Pooh, uma das duas vozes de Little Brother, preparou para os próximos meses nada mais, nada menos do que quatro versões do seu terceiro projecto a solo intitulado "Delightful Bars". Ora, grande parte do conteúdo deste álbum estava programado para sair como mixtape (tal e qual Rapper's Delight, lançado em 2008), mas Pooh achou que era merecedor de uma projecção maior. Até porque, como ele diz, "tinha uma enorme quantidade de material à parte do que iria sair na mixtape". Ainda segundo o rapper, "'Delightful Bars' servirá como ponte entre o primeiro trabalho a solo ('Sleepers') e o próximo ('Dirty Pretty Things')".

As duas principais edições serão "Candy Apple" e "North American Pie", sendo que a primeira só estará disponível via Itunes. Em termos de produção, nomes como Jake One, Illmind, Khrysis e (claro está) 9th Wonder não faltarão. O primeiro single já está em rotação no space do rapper.


Uma nota apenas para dizer que estes constantes lançamentos de registo pessoal por parte de Big Pooh e Phonte só vêm confirmando que o projecto Little Brother terá findado em 2008 na mixtape "...and Justus For All". Isto apesar de Pooh numa recente entrevista ter garantido que ambos se irão juntar ainda este ano numa clara tentativa de proporcionar aos apreciadores do grupo novas razões para continuarem a acreditar que os Little Brother ainda conseguirão manter-se lado a lado.

quinta-feira, 19 de março de 2009

J Dilla Changed Our Lives

J Dilla mudou as nossas vidas. A de todos os que gostam de Hip Hop. Digo-o peremptoriamente. Poderia basear-me somente na minha pessoalidade e exprimir a admiração que nutro por J Dilla. Porém, coloco definitivamente a afirmação no plural, por ter a plena consciência de que J Dilla não tocou somente o meu coração. Ele conquistou o mundo, com o seu talento, com a sua obra extraordinária, com a sua paixão pela música e pela cultura Hip Hop. Onde quer que esteja hoje, J Dilla deve estar orgulhoso e pode descansar em paz, pois deixou na Terra pegadas intemporais, conservadas pelo estatuto de mito dentro da comunidade Hip Hop.

Natural de Detroit, J Dilla cresceu rodeado de música, por influência directa dos seus pais. Em virtude desse facto, precocemente ganhou uma forte educação e paixão musicais. Há quem diga que J Dilla só veio a este mundo para nos presentear eternamente com o seu primoroso dom. James Dewitt Yancey a.k.a. Jay Dee a.k.a. J Dilla rapidamente se notabilizou, tendo sido o mentor do aclamado grupo Slum Village. No seu currículo, são infindáveis as colaborações que fez enquanto MC e produtor. J Dilla criou batidas para gente ilustre, desde The Pharcyde, Common, passando por De La Soul, A Tribe Called Quest, até Busta Rhymes, entre muitos outros. Essas mesmas figuras do rap eram fãs de J Dilla e beneficiaram muito do toque de Midas do genial produtor. Outros arquitectos de batidas, inclusive mais bem sucedidos em termos de vendas, nunca tiveram pejo em afirmar a influência de J Dilla nos seus trabalhos.

Com uma sonoridade difícil de classificar, em virtude da sua versatilidade mas também pelo experimentalismo característico das suas produções, J Dilla fundou um estilo único, onde o extremo bom gosto impera, catapultando-nos obrigatoriamente para um outro universo sonoro. J Dilla introduziu no jogo das produções uma classe, um brilho, um requinte, um sabor, uma emoção, perfeitamente ímpares. Dominando a MPC, namorando com os instrumentos ou empunhando o microfone, Jay Dee realizou um trabalho maravilhoso e inesquecível. Envolto numa aura magnificiente, J Dilla era acarinhado pelas mais diversas celebridades musicais, tanto pelo seu génio como pela sua postura sóbria.

Então por que partiu J Dilla injustamente tão cedo, três dias depois de completar 32 anos? A vida tem mistérios insondáveis é certo, mas ainda assim Yancey teve oportunidade de deixar um vastíssimo espólio e o seu fantástico exemplo de vida. A doença que ceifou a vida de J Dilla – lúpus – corroera-lhe o corpo durante cerca de quatro anos. Desde 2002, altura em que soube do diagnóstico, até falecer, em 2006, “o produtor favorito do teu produtor favorito” foi resistindo bravamente às agruras da doença. Não deixou que a abominável maleita o afastasse da sua paixão. Assim, J Dilla continuou envolvido em projectos, como até aí tinha feito. Apenas na fase terminal, em que a doença ganhara vantagem na batalha entre a vida e a morte, é que J Dilla foi obrigado a largar definitivamente as notas musicais. Porém, já tinha preparado a sua partida, deixando três álbuns originais prontos para serem editados: “Donuts”, “The Shining” e “Jay Love Japan”.

J Dilla deveria ter vivido muito mais tempo, de modo a presenciar, in loco, a toda a aclamação que lhe devotam. Ele merecia. Todavia, J Dilla vive em cada instrumental que criou. Uma a uma, cada batida é uma gota de genialidade que lhe escorreu da alma. J Dilla faleceu mas legou à humanidade um cardápio de canções que nos faz sentir o valor da vida, que nos transmite a emergência de viver, essa dádiva celestial. Yancey, tal como Alberto Caeiro, era do tamanho do que via. Inovador, visionário, sempre empenhado na perseguição da originalidade. Foi um ser humano altruísta, predestinado a alimentar o espírito de todos os apreciadores da arte e ciência de combinar harmoniosamente os sons. Deu-nos música como quem nos dá matéria essencial para a vida. Preciosa, única, apaixonante. Por isso, é eterna a existência e obra de James Dewitt Yancey.

O exemplo de J Dilla e a sua criação despertam-nos para a vida. Lembram-nos que não há tempo a perder para nos entregarmos ao que realmente amamos. Ele, que preencheu os seus dias a fazer arte, incita-nos através desse modelo a sermos determinados, perseverantes, lutadores e corajosos. A estes predicados juntou-se o talento em J Dilla. A sua música entra-nos pelos canais auditivos, numa osmose de êxtase e de nirvana, atravessa todo o nosso corpo e infiltra-se no nosso espírito até atingirmos a satisfação plena.

O maestro James Dewitt Yancey nasceu a 7 de Fevereiro de 1974 e faleceu a 10 de Fevereiro de 2006 mas, assim como com o mestre Alberto Caeiro, entre a data do seu nascimento e a da sua morte todos os dias foram seus. O mais reconfortante de tudo é saber que os dias vindouros também serão eternamente de J Dilla, pois ele é a luz permanente que irradia, desde o céu, a inspiração!

terça-feira, 17 de março de 2009

O regresso de Grand Puba... a solo!


O membro fundador de Brand Nubian regressará às lides discográficas com o seu quarto álbum a solo, num lançamento previsto para Junho próximo. Em Retroactive Grand Puba promete voltar a deliciar os seus seguidores com as habituais e habilidosas abordagens sócio-políticas e um estilo único no mic. Capacidades essas que teimam em manter-se (quase) intactas, como prova o último álbum do grupo nova-iorquino "Time's Runnin' Out", lançado há dois anos. Numa época em que o hip-hop se tende a 'esquecer' de grupos como Brand Nubian, se souber continuar a retirar o melhor proveito do seu natural talento para o jogo de rimas, então estará meio caminho percorrido para um Grand regresso de Puba.

domingo, 15 de março de 2009

Isto é Hip Hop!

Neste impecável vídeo, os Crown City Rockers, grupo sediado em Oakland na Califórnia, prestam tributo ao Hip Hop. Forma de arte e de intervenção cívica, o Hip Hop transformou indelevelmente a face da América e do mundo. Nesta excelente canção intitulada “B-Boy”, o Hip Hop é colocado nos píncaros, saindo dali enriquecido em todas as suas vertentes. Num ambiente descontraído, de festa, onde o divertimento, a alegria e a paz são reinantes, vão sendo desfiadas as proezas e virtudes do Hip Hop, que influenciou vários domínios da sociedade. O Hip Hop foi absorvido pelas pessoas com um tal fascínio que isso teve o condão de reinventá-las. O Hip Hop tornou-se um amor, um vício, um estilo de vida. Em pouco mais de quatro minutos expõe-se o porquê de o Hip Hop vigorar no coração de muitos como uma plena manifestação de vida. Deliciem-se com o vídeo, com a inebriante canção, enfim, com o Hip Hop no seu estado mais puro!

sábado, 14 de março de 2009

Dji Tafinha com Valete - Sou Mesmo Sempre



É ao estilo do clássico '99 Problems' (música e vídeo) de Jay-z que Dji Tafinha (rapper angolano) nos apresenta um dos sons do seu último álbum 'Hardcore', lançado em Dezembro passado. "Sou mesmo sempre" faz jus ao nome do disco: beat com doses aceitáveis de agressividade, num rap/rock que aponta rimas para os real fakes. O refrão meio pop parece-me o momento mais fraco de toda a música. Para este recado foi convidado nada mais, nada menos que Valete (depois de Sam the Kid em 'K.O.'). Para os que acham que o rap de Víris está a ficar demasiado delinquente, não é depois desta participação que vão mudar de opinião, mas esta discussão fica para outra altura.

Resta dizer que o beat foi produzido pelo próprio Tafinha e o vídeo realizado por Nuno 'Videojunk' Marques, que tem o seu testemunho noutros trabalhos realizados para Nigga Poison, Governo Sombra ou Cartell70, entre outros.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Era Uma Vez...

... O Hip Hop, que se deu a conhecer em Portugal sob os auspícios do breakdance. Recuando nas folhas do calendário, foi com o raiar dos primeiros anos da década de 80 que se terá mostrado em terras lusas. Remontando a essa época, portanto aos 80’s, o breakdance em Portugal aparenta ter surgido como uma espécie de moda celebrizada por alguns filmes e concursos de televisão dedicados a essa temática. Esgotado o período da descoberta e da adesão de vários jovens lusos ao breakdance, num período curto compreendido mais ou menos entre 1983 e 1985, conclui-se que se tratou efectivamente de uma moda que, como o próprio nome indica, foi passageira. Apesar da confirmação da sua presença em Portugal, existe uma certa relutância em determinar o breakdance como a primeira manifestação do Hip Hop em Portugal, visto que os breakdancers moviam-se não ao ritmo do rap mas sim ao som do break-beat. Em suma, o desgaste rápido a que foi sujeito o breakdance, nesse tempo, não lhe terá permitido atingir, por cá, o âmago daquilo que é o movimento Hip Hop, tendo-se ficado somente por uma mera manifestação isolada, que não englobou todas as outras vertentes da cultura Hip Hop. O breakdance apareceu e desapareceu com a mesma velocidade, sem possibilidades de deixar as sementes necessárias, nesta terra lusitana, para que o Hip Hop, enquanto movimento aglutinador de formas várias, começasse a brotar.

As primeiras colunas em Portugal, quer as das aparelhagens quer as dos corpos, a mexerem-se em virtude do ritmo e poesia, vulgo rap, foram invariavelmente alimentadas por cassetes importadas de artistas norte-americanos. Os nomes de Public Enemy ou Run DMC trouxeram a novidade a Portugal. Com eles, passou a existir quem pronunciasse a palavra “rap” entre nós, particularmente nos subúrbios de Lisboa. Exactamente, na zona geográfica do país onde, em finais dos anos 80, viviam mais imigrantes oriundos de África, em especial dos PALOP’s. O paralelismo que pode ser feito entre as situações dos negros da América e a dos negros em Portugal terá contribuído decisivamente para que o rap surgisse primeiro nesse ponto do país, nomeadamente no Miratejo. A discriminação, a exploração laboral, as miseráveis condições habitacionais, a deficiente integração em Portugal, a imputação do fenómeno crescente da violência juvenil, terá levado a que os jovens luso-africanos vissem no rap a forma ideal para contestarem as injustiças de que eram vítimas e a defenderem-se dos ataques de que eram alvo.

Se Guimarães é o berço da nacionalidade, foi no Miratejo que teve início a RAPública portuguesa. O Miratejo é a capital, o sítio emblemático, do rap nacional, tal como o Bronx o é nos Estados Unidos da América. A identificação com a mensagem dos rappers americanos fazia prever que os futuros rappers portugueses abordassem alguns dos tópicos desenvolvidos pelos naturais da América e encontrassem pontos comuns entre as suas vidas, apesar dos países serem diferentes e não se situarem sequer no mesmo continente. Era a prova de que o Hip Hip estava predestinado a ser universal.

Os rappers lusos não esmoreceram perante as dificuldades em serem ouvidos nem, ao depararem-se com os parcos recursos, perderam o sonho de tornar real esse fenómeno que vinha dos States. A improvisação não acontecia só nas rimas. Ela também se fazia sentir no suporte às palavras, em que preferencialmente se recorria ao beatboxing. O Hip Hop nascia em Portugal, sem uma data precisa mas com lugar determinado, o Miratejo; com gente que encontrou empatia e inspiração lá longe e pôs isso aqui em prática; gente que foi alimentado esse pouco até ele se formar numa base segura, de modo a que, mais tarde, se pudessem projectar outros sonhos.

O caminho prosseguiu. Arranjaram-se meios para se passar a mensagem, que se queria crua e forte para entrar de rompante nos ouvidos dos distraídos. O calão é introduzido nas letras de rap, palavras de origem africana também. A mensagem tinha de ser simples, directa, produzida de forma original. Sucede-se a difusão do rap através dos primeiros programas de rádio que cobriam o que os repórteres das ruas tinham para contar. Surgem os primeiros trabalhos: Da Weasel apresentam o EP “More Than 30 Motherfuckers” (1992) e General D, por seu turno, lança igualmente um EP intitulado “Portukkkal” (1994). As gargantas não mais se calariam.

Proveniente dos Estados Unidos da América, o rap inaugurou-se naturalmente com a língua inglesa. Em Portugal, inicialmente, esboçou-se o recurso a um certo hibridismo entre o inglês e o português nas letras de rap. Até se fizeram letras exclusivamente em inglês. Pese a estranheza inicial de se adaptar o rap à língua mãe, o rap em português teve o seu atestado de competência com um MC proveniente também das Américas, mas este vinha do Sul. Brasil, mais concretamente. Gabriel «O Pensador» invadiu Portugal com as suas rimas feitas em português brasileiro. O nosso país confrontava-se com uma mensagem perfeitamente credível, efectuada em pleno com o recurso à língua portuguesa. As rimas no idioma de Camões possuíam o mesmo poderio que as suas irmãs americanas e tinham a vantagem de serem perfeitamente inteligíveis por todos os portugueses. Quebravam-se barreiras, expandiam-se possibilidades. O movimento consolidava-se, ganhava cada vez mais adeptos, o assédio mediático aumentava.

Desta história, ainda fica bastante por contar. O HIPHOPulsação tentará aprofundar mais sobre esta matéria noutras oportunidades. Por agora, quisemos assinalar que desde os primórdios até hoje o Hip Hop foi-se estabelecendo, com um trajecto que teve os seus altos e baixos mas que contemporaneamente frutifica graças aos bravos que heroicamente o ousaram introduzir neste país e que se mantiveram irredutíveis na preservação da sua essência e existência. Para eles, a nossa vénia!

terça-feira, 10 de março de 2009

BIOFONIA: Black Company

A poesia negra

Considerados por muitos os avós do rap nacional (tal como sucede com Kool Herc e Afrika Bambaataa em relação ao movimento hip hop nos EUA, hoje universal), os Black Company nasceram com o movimento em Portugal, retiraram-se aquando do seu crescimento e regressaram com um estilo adequado à época.

Voltando duas dezenas de anos atrás... Foi nas ruas que Maddnigga aka Bambino, Bantú aka Guto e companhia começaram por fazer o que na altura por cá não se ouvia na língua de Camões: rimas faladas em cima de batidas. Obviamente ainda embrião, o rap que inicialmente se apresentava em concertos por esse país fora era sobretudo um jogo de palavras tão puro quanto o mais natural possível. E (naturalmente) ainda pouco compreendido, conhecido e até respeitado em Portugal, o rap dos Black Company sofreu um revés quando, após três anos do seu nascimento, o grupo separou-se. Mas tão rápido quanto o seu desaparecimento foi o regresso de Guto, Bambino e Tucha como Machine Gun Poetry. Desse grupo só restaram mesmo os três elementos, até porque o nome viria a ser mudado definitivamente para Black Company. Makkas e KGB juntaram-se então à formação.

A Rapúblicação de uma Geração Rasca

Depois do primeiro concerto, o grupo da Margem Sul conseguiu espalhar a sua mensagem até chegarem à tv. Daí a virar gravação passou um ano. Em 1994, os Black Company juntaram-se a Boss Ac, Zona Dread, Family, entre outros, numa compilação que marcou tanto uma geração de mc's como uma época de apreciadores da arte que actualmente já apaixona milhões por esse mundo inteiro. A colectânea 'Rapública' ainda hoje é dos álbuns mais vendidos de rap em português. Com esse estrondoso e (talvez) inesperado sucesso, lucraram os rappers que nela deixaram o seu testemunho, lucrou o hip hop nacional e lucraram os Black Company, obviamente. A faixa 'um' ('Nadar') retirada desse cd acomodou-se nos nossos ouvidos e de lá não mais saiu. A não ser quando a letra andou de boca em boca até se consolidar como o primeiro grande clássico do nosso rap. Um ano após esse verão escaldante, ninguém ficou admirado que Bambino e seus manos imortalizassem em disco as suas rimas e batidas. 'Geração Rasca' surgiu com muita expectativa mas desapareceu com falta de reconhecimento. Mesmo assim ficaram faixas como 'Abreu' e 'Geração Rasca'.

Os Filhos fora de série!

Apostados em voltar a retribuir solidamente tudo que de bom o hip hop lhes proporcionava, e depois de três anos em rotação nacional, os Black Company reuniram tropas pra bombardearem-nos com o segundo disco oficial do grupo. 'Os Filhos da rua' saiu directamente para as prateleiras dos críticos e adeptos do movimento. Temas como 'Gina', 'Chico Dread' ou 'Genuíno' ajudaram definitivamente o grupo a marcar o seu território no rap tuga. O hip hop era escutado, era reconhecido, mas, sobretudo, era respeitado!

Sem razão aparente, os Black Company desapareceram do activo. Pelo menos colectivamente, já que continuaram a participar em vários projectos, quer a nível de produção, quer a nível de pequenas participações. Guto abrilhantou o seu caminho a solo com uma parceria discográfica com Boss AC. 'Private Show' foi a contribuição do duo para uma nova abordagem no rap português que passava pelo R&B e a Soul. Seguiram-se 'Chokolate' e 'Corpo e Alma' no repertório de Guto, projectos notoriamente influenciados pelo lado mais soft do rap.

Durante os últimos anos, o rap vem fazendo-se ouvir cada vez mais. E é notório que o movimento hip hop vem sendo cultivado e progressivamente consumido por um número cada vez maior de pessoas, embora nem sempre pelos motivos mais endógenos. Aproveitando este 'boom' da atenção e propaganda dada a este estilo, os Black Company regressaram o ano passado com 'Fora de Série'. Já sem KJB (actualmente na Holanda), os 'filhos da rua' apresentam-se agora num estilo menos old school e mais na onda party. 'Só Malucos' foi single de apresentação e teve direito a participação de Adelaide Ferreira.

Pode-se dizer que os Black Company cultivaram a semente do movimento hip hop em terras lusas, viram crescer o produto (quase) por fora, e voltaram para colher os seus frutos. Nada mais justo.

HIPHOPulsação

E assim, nesta mágica noite, forma-se mais uma artéria pronta a veicular o sangue, a matéria vita, desse enorme e maravilhoso corpo que é o Hip Hop. Esta será a nossa contribuição para mantê-lo cada vez mais vivo e forte, pois acreditamos piamente que, apesar de todas as doenças que possam afectá-lo, o Hip Hop nunca há-de morrer! Portanto, venham aqui medir-lhe a pulsação!