terça-feira, 8 de novembro de 2011

Mundo & Each e Pharoahe Monch @ Hard Club, Porto (05/11/2011)

Quem tinha saudades de uma grande noite festiva de Hip Hop com grandes nomes nacionais e internacionais? Foram várias as centenas que responderam afirmativamente e que quase encheram a sala 1 do Hard Club (com capacidade para albergar cerca de 800 pessoas). Havia duas boas desculpas para uma ida até ao HC apesar do frio pungente desta noite de 5 de Novembro: as apresentações ao vivo da mixtape conjunta de Mundo e Each e do álbum “W.A.R.” do americano Pharoahe Monch. O anunciado showcase de Sir Scratch em cartaz foi abortado por “questões logísticas”, segundo a editora do próprio artista. Os Dj’s D-One e SlimCutz completaram o line up. Maze foi o apresentador de serviço.

Mundo Segundo e Each entraram em cena às 3h quando muita gente ainda entrava na sala (já muito bem composta, mesmo assim). A expectativa em volta da actuação de ambos era grande, pela novidade dos sons e, sobretudo, por estes fundirem dois reconhecidos liricistas exímios em roer cacos. De Each, cara-e-voz-metade de Enigma e habitual companheiro de Mundo nas performances deste a solo, recaía talvez a maior dose de curiosidade, até porque uma coisa é acompanhar Mundo nas dobras, outra é complementa-lo (e ser complementado) em vários temas. Numa primeira auscultação geral dir-se-á que Each não desiludiu, um cenário que só lhe ajudará a colher frutos no futuro. Apesar de tudo, na festa de lançamento no Hard Club sentiu-se algum nervosismo do jovem MC (evidente sobretudo numa hesitação numa das letras), facto que não assombrou a sua boa prestação.

Tenho mais receio do medo do que daquilo que mete medo. Foi uma das novas tiradas retidas de Mundo, que se mantém (como seria de esperar) igual a si próprio, livre de qualquer tipo de apresentação. Das novas faixas destaque particular para a sarcástica “Isso é estúpido” e para “Beleza Interior” que toca na ferida de duas doenças crescentes em todo o Mundo (obesidade e anorexia), temas que, pessoalmente, não recordo terem sido abordados no rap nacional. Após a exposição da nova mixtape e da aceitação positiva da audiência, Mundo e Each despediram-se quando trouxeram a palco “Alucínio” (faixa da mixtape “2º Piso – 17 anos”).

Após a retirada da dupla portuguesa não tardou muito até Pharoahe Monch abrir a bagagem que trouxe de Nova Iorque. Antes disso, foi DJ Boogie Blind quem trouxe os primeiros laivos do talento americano, nomeadamente no que ao djing e turntablism diz respeito. De máscara na cara (fiel à capa do seu novo álbum), Pharoahe Monch surgiu com todo o gás desde o início perante toda uma sala que se incendiou ao mínimo “cheiro” de rap nova-iorquino. E Pharoahe bem cedo se mostrou deliciado com tamanho calor humano emanado pelos presentes (vindos de todo o país, diga-se). “Assassins” (do novo disco) e “Let’s Go” (do álbum “Desire”) foram os temas de uma abertura que prometeu desde logo um intenso espectáculo. Neste caso, pode-se dizer que a idade conta, e a experiência adquirida ao longo de uma carreira com mais de duas décadas reflecte-se na segurança e na normalidade com que Pharoahe contagia uma multidão.

Havia muito público juvenil na sala? Havia. Uma boa parte desconhecia os sons do americano (alguns só mesmo a “Simon Says” – ou talvez somente o get the fuck up)? Verdade. Mas convém dizer que muitos deles ficaram para conhecer as músicas de Pharoahe ou, quem sabe, somente para o dito get the fuck up. Mas ao contrário do que se sucedera com outros artistas estrangeiros que por aqui passaram noutras noites, a plateia era realmente numerosa e estava predisposta a engrandecer a festa. A forma como se viveu, por exemplo, a sequência “Fuck You“/“Desire” comprova isso mesmo. “Clap (One day)” é um dos melhores temas do álbum “W.A.R.” e ao vivo é verdadeiramente delicioso. Pharoahe Monch não trouxe nenhum MC de apoio, contando somente com o contributo de DJ Boogie Blind a partir da mesa dos pratos. Este disc-jockey do colectivo The X-Ecutioners (por onde passaram nomes como o falecido Roc Raida ou Rob Swift – que estará dia 10 no Hard Club com Dealema e Nach) teve, a certa altura, os holofotes virados unicamente para si, aproveitando para exibir todos os seus skills no turntablism. E que skills! Houve muita gente que ficou de boca e ouvidos bem abertos com o que ouviu!

Seguindo no repertório de Pharoahe, havia uma faixa, ou melhor, uma bomba prestes a rebentar no Hard Club, e por ela esperaram centenas de “suicidas” na sala 1. A expressão mais directa que se pode dar para tentar descrever o momento quando estourou “Simon Says” é que o fim do Mundo parecia ter sido antecipado para as primeiras horas do dia 6 de Novembro de 2011. Mas não, felizmente, até porque, surpreendentemente haveria mais música depois desse sonoro pesado do rap mundial que certamente deixou algumas mazelas em parte dos presentes. Já o emcee americano se despedira do público, e após uns minutos entregues a DJ Boogie Blind, Pharoahe regressa ao palco (quando já boa parte da audiência havia saído da sala convencida que a actuação tinha terminado) para encetar a sua tour europeia, precisamente na Cidade Invicta, com “The Light”, outro dos seus deliciosos clássicos. E de Pharoahe Monch foi tudo, e que tudo!

Para quem esperava voltar a sentir arrepios na pele com uma grande noite de Hip Hop isso voltou a acontecer, sem sombra de dúvidas. Casa cheia, amantes da cultura oriundos de todo o país, e artistas sérios e dedicados à sua arte. Mundo e Each aguçaram os ouvidos de quem os aprecia como dupla e corresponderam às expectativas, pese embora só terem actuado cerca de meia-hora, o que soube e saberá sempre a pouco. A expressão “monstro de palco” assenta que nem uma luva a Pharoahe Monch, e o americano pôde voltar ao seu país com a certeza que, pelo menos em Portugal (e certamente noutros cantos da Europa), arrecadou novos fãs. Ele e o seu compatriota, DJ Boogie Blind. Pharoahe Monch abriu, intermediou e fechou o seu show sem nada que se possa lamentar, a não ser a sua saída do palco...

Texto: Sempei
Fotos: Ana Mendes



3 comentários:

  1. Sim Sr., excelente review. Para quem, como eu, não pôde comparecer é um regalo poder ter uma prespectiva de como correu a noite. Continua Sempei. One

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  2. Obrigado Flow Bro. Pena teres perdido esta bonita festa.
    Um Abraço

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  3. Adorava era saber mais sobre o Each!

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