terça-feira, 29 de setembro de 2009

Mais novidades!




5 de Outubro: Live on Stage

MIXTAPE LIVE ON STAGE - Dj Sir - Supremo G - Dj Deeflow

Disponível para download no dia 5 de Outubro ( próxima 2ª Feira )

O projecto Live On Stage conta com a participação de Rusty, D.K., Damani Van Dúnem, Eric P., Jêpê e Discreto ( 3 em 1 ), Contrabando 88.

Para além das faixas da mixtape, também estará disponível para download um ficheiro com videos de sessões de estúdio e concertos, e um apanhado de faixas perdidas do Supremo G.

Para descarregar o projecto, aceder aos seguintes sites:

www.myspace.com/supremog

www.myspace.com/djdeeflow
Bless

Rissa - Authentik 2008 (Experimental Mixtape)

Para quem curte o rap feito em França, aqui fica a mixtape de Rissa. Este, para além de se expressar em francês, usa igualmente as línguas portuguesa e inglesa. Deixo o comentário do próprio a cada tema da sua mixtape. Saquem-na no myspace de Rissa.

1-Intro [Authentik 2008] (French Intro)....
dedicace to the first french hiphop movement "authentik", true mind, true intention,....
2008 cause it's 25th anniversary of Hip-Hop in France.....
Just Peace, Unity, Love & Having Fun. Fuck wrong attitude.....
2-Artisfact [feat. Deezy & Mel-K] (French)....
to introduce each other....
3-Mots de tête [feat. Mel-K] (French)....
Text about all the words comin' in our minds before writing lyrics....
4-La suprématie de la Mélodie (French)....
Just to say all kind of Music is good, we have just to look for....
5-Interlude....
when i made my radio program in France in 06/07....
6-O Puto De Paris (Portuguese/French)....
because, it's the only place where i really come from, even if i have different origine and if i'm movin in another place. a part of me....
7-Un Mec Super Chargé (French)....
My activities...hiphop, never stop. Busy Busy Guy ....
8-Débales (French)....
Rissa & friends in clubs, Paris To New York....
9-Et Je M'en Vais (French/Portuguese)....
My motivation to move a year to NYC....HIPHOP Baby....
10-Freestyle (French/English/Portuguese)....
Freestyle In Montreal @ Radio Centre Ville....
11- J'ai envie de te dire (French)....
some things to say without really importance, just for fun.....
12-Kick The Rythme (English)....
Yes Kick It!!!....
13-NTM SKZ (S.V.P) (French)....
To Fuck Our Mother's French President!....
14-Ne Reviens Pas [feat. Ambre](French)....
Just A Bad Love Story.......
15-Interlude NMTP in EVR....
16-Sunshine [feat. Deezy & Mel-K] (French/Portuguese)....
Go ahead. Make Your Wish....
17-Rissa In New York (French/Portuguese/English)....
My Life in New York in 07/08, emotion, City, everything.....
18-Ramalama (French/English)....
Let the Music PLAY!!!....
19-What Kind Of Future [Feat. DJ Tracks]....
Maybe I Have a Bad Idea 'bout our future, earth, general mind....
20-Outro (French)....
Thanks and Fuck U!!!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Fashawn - Life As a Shorty

Este jovem rapper da Califórnia soma vinte anos e um talento bem graúdo. A 20 de Outubro Fashawn terá, certamente, o seu álbum "Boy Meets World" a rodar por muitos aparelhos sonoros. Para além do prodigioso MC, teremos também as rimas de Evidence, Blu, Mistah F.A.B. e Aloe Blacc. Os instrumentais ficaram a cargo de Exile. Tudo somado, ou muito me engano, ou este disco será uma das relíquias do ano.

Em cima, mais um vídeo de um single do álbum, neste caso "Life As a Shorty" com J Mitchell.

sábado, 26 de setembro de 2009

Roulote Rockers - Projecto de Sábado à Tarde (Crítica)

Roulote Rockers é um trio constituído por DJ Spark, Logos e Raez. Investiram num trabalho conjunto e a consequência desse esforço criativo é o EP “Projecto de Sábado à Tarde”. São 7 temas, um para cada dia da semana, podia concluir-se. Mas o melhor mesmo é ouvir todos duma só vez em cada dia. Mas e se imaginássemos que a história de cada canção fosse mesmo dedicada a cada dia da semana? Bem, então o resultado seria mais ou menos assim...

Domingo: dia de “Definição”. Para a maioria, o Domingo pode ser pachorrento e agonizante porque é véspera da odiosa Segunda-Feira, mas o primeiro dia da semana não é assim para Roulote Rockers. Para estes, é tempo de arriscarem os dedos e os tímpanos em experiências electrónicas, de brincarem livres com os flashes ruidosos da Guerra das Estrelas, enquanto o ritmo é ditado por uma incansável batida que obriga a nossa cabeça a dizer-lhe “sim, sim, sim”, repetidamente. Domingo é por natureza aquele dia em que se traça um plano para que a semana corra sobre rodas. Dessa forma, a Roulote circula pelas ruas, neste Domingo soalheiro, sem nada a temer pois o seu plano está bem alinhavado. Os passageiros seguem de cabeça levantada, as rodas estão bem assentes no alcatrão e há tranquilidade em cada quilómetro que galgam pois, como diz Logos, têm o “crédito da rua”. A estrada que percorrem não tem crateras como a Lua mas tem invariavelmente a sujidade terrena. O que até se liga a Raez, já que se revela um compositor musical fadado para fabricar batidas agradavelmente sujas, gordas e sem resíduos de lixívia ou de cicatrizes deixadas por lipoaspirações. “Definição” é a exibição do trajecto escolhido por Roulote Rockers. Ficamos a saber para onde vão e temos vontade de ir com eles, pois ficamos cientes de que se dirigem para um sítio diferente. A semana e a viagem só agora começaram.

Segunda-Feira: dia “Electrizante”. Roulote Rockers passam o dia apostando num sentido revivalismo dos anos 80, bem cheio de electricidade, claro. O passado é a visão do paraíso para alguns. Assim, com a sua própria máquina de viajar no tempo, o trio mete mãos-à-obra e revisita a era que já lá vai: «Viajei pelos 80’s vi/ Todas as cores onde nasci/ Sonho eléctrico/ Pecado estético». Fisicamente, o passado é imperfeito porque não podemos voltar a ele, mas artisticamente isso é possível. Roulote Rockers são criadores e toda esta classe tem os seus feitiços para matar saudades do que lhes faz falta. Assim, eles para além de serem a cena são também a prova. É nessa memória do passado, desde J Dilla, a Michael Jackson, ao electro-funk, passando pelo boom bap rap, até à queda do Fascismo, que a Roulote encontra as coordenadas para recolher a força, a inspiração e a essência de que necessita. Segunda-Feira é dia de homenagear os tempos idos. Óptima dedicatória.

Terça-Feira: a jornada é dedicada ao “Vício Chave”. O quotidiano cria hábitos aos quais não se pode virar as costas. É nesta perspectiva que os membros da Roulote entendem que o sacrifício merece ser recompensado com o prazer que os corpos suplicam. Eles querem perder-se desenfreadamente nessa “overdose de sensações” que lhes é acenada. «Extâse único, sem preço», por isso se adora o vício. O clima de dependência adensasse para o ouvinte pelo efeito relaxante e pela visão de beleza que o instrumental nos faz ter. Perspectivamos inclusive a nuvem calmante que se avoluma no tecto da Roulote. Há dias de vício puro, de sadia repetição, de louca paz, de arreliável boa onda. Mesmo que arda na carne, arrisca-se a elevação ao céu. Esta Terça-Feira é tão cool!

Quarta-Feira: o dia encastela-se com a junção de saborosos “Pedaços”. Logos e Raez retalham a memória das suas vidas. O dia está agradável, com uma atmosfera tipicamente outonal. A praia está deserta e o sol morno beija-nos a pele. Tempo perfeito para se ver a nostalgia nas ondas do mar. A introspecção encontra terreno fértil para desenvolver raizes e fica mais quente o desejo de se agarrar a vida e a criação. “Pedaços” da vida são como a areia, resvalam-se das mãos, mas vale que se compartimentam na memória. A banda-sonora deste dia é inspirada pela fragância marítima e pelo borbulhar das ondas, num forte azul de subtileza e elegância. Fundamentalmente, a Quarta convida à catarse, que se consuma pela contemplação desse meditabundo oceano. Soberbo para se ouvir no crepúsculo.

Quinta-Feira: “Spark Trek” consta da agenda deste dia. Logos e Raez sentam-se confortavelmente nos bancos da Roulote e somente assistem ao espectáculo que DJ Spark proporciona. Actor principal, Spark interpreta a personagem dum gira-disquista cuja principal missão é salvar a vida a antigos vinis. Assim, DJ Spark tem de impedi-los, a todo o custo, que apanhem a fatídica doença do pó. Fazê-los rodar e rodar é garantir-lhes a sobrevivência que merecem. Sem medo de sujar as mãos, DJ Spark eleva-se pela alegria que oferece aos vinis, chegando por momentos a ver a sua cara reflectida neles, tal é o lustre que lhes dá. Nesta viagem cinematográfica, o papel desempenhado por DJ Spark é um êxito. “Spark Trek” é um filme cheio de acção, onde o protagonista não olha a meios para fazer saltar as faíscas das rodelas de plástico, quais antibióticos para a saúde delas. A plateia aplaude. Logos e Raez também, naturalmente.

Sexta-Feira: 24 horas em que “Aumenta a Munição”. À Sexta, a Roulote deixa o cheiro a alcatrão. Transforma-se em palco. Isso mesmo, dia de actuação de Roulote Rockers. A Roulote está parada mas sente-se a trepidação pela energia, emoção e entrega que se aplica aos preparativos. Hora de mostrar a magia, espalhar a palavra, riscar a música dos antigos e aumentar o volume da batida perfeita. A Roulote derreia-se com o peso de tanta qualidade. E Joe Crack nem está lá dentro porque teve uns afazeres em Nova Iorque. Mas o concerto bomba à mesma e as pessoas que assistem viajam no tempo, em "formato clássico". O público está ao rubro. A potência engorda à medida que sorve o calor dos corpos que vibram. As luzes focam a Roulote, a música atinge-nos a tiro, recarrega-se a “munição. O tempo voa, fim do concerto: «Novas paragens, desenhamos noutro sentido».

Sábado: Com febre ou sem febre, “Giró Funk”! A espontaneidade da proposta desembarca na consumação duma festa ao ar livre, juntando várias pessoas que saem à rua atraídas pela descarga de ritmo dançante. Sábado é dia de liberdade, celebração, criação. As colunas da aparelhagem expelem o Funk que incendeia o espírito das gentes. A sessão é um sucesso. A adesão à música motivará certamente a Roulote a intensificar a sua aposta neste tipo de iniciativas. Sábado é o dia por excelência de se trabalhar o groove e como tal o trio demonstra estar ao nível do mais empenhado, qualificado e exemplar dos operários. Em qualquer parte, o Funk é o rastilho ideal para a transpiração dos corpos. As hostes não resistem, o Funk não pára, o dia é uma criança. Povo, o Funk voltou!

Raez, Logos e DJ Spark parece que só se reuniam aos Sábados à tarde para fazerem música e assim se pode encontrar a explicação para o nome do EP. Mas pode imaginar-se que a impossibilidade de se dedicarem em conjunto e todos os dias a esta forma de arte, tenha resultado numa gloriosa homenagem a cada dia da semana à luz desse desejo contínuo, exclusivo, de fazerem música. Foi nesse âmbito que delineei este roteiro pelo EP “Projecto de Sábado à Tarde” de Roulote Rockers. Neste trajecto, experienciei sensações que me eram desconhecidas nos caminhos do rap português. A rota traçada pela Roulote é de valorizar, estimar e tomar como exemplo. A sonoridade é propícia a fazermo-nos à estrada memorial, sempre tomando em atenção as futuras rotas que se desenharão no mapa. Um novo caminho é mostrado com recurso a paisagens e a lugares do passado. Com Roulote, os dias não são passados no trânsito deprimente. A Roulote soube levar-nos por atalhos que nos conduziram ao melhor dos sítios: a alma. Entendemos a sua “Definição” de rap, pulsou-nos na carne a gingada “Electrizante”, concordámos que o “Vício Chave” é para ser saciado, emocionámo-nos com os “Pedaços” de Funk e com as reminiscências Old-School, aplaudimos repetidamente a película “Spark Trek”, conscientes de que levamos em ombros todo aquele que “Aumenta a Munição”, porque o nosso desejo é claro e é direccionado ao DJ: «Giró Funk»! Ficou revista a semana perfeita de Roulote Rockers. Venham mais dias assim...

Uma brincadeira tão séria

Muito pessoal ainda não terá visto este vídeo, portanto não terá ouvido estas palavras meio a sério/meio a brincar de Chris Rock. À parte do humor tão característico do actor, o 'problema' é real e confrontamo-lo diariamente. A conversa dava pano para mangas (e não só), mas duvido que houvesse consenso mais consensual (passo a redundância) do que este: o Hip Hop já não é o que era.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Havoc - Letter to P e Heart of the Grind



Extraído da nova mixtape de Havoc, "From Now On", eis o vídeo de "Letter to P", um som com um destinatário muito especial: Prodigy, o seu parceiro em Mobb Deep. Havoc já este ano lançara outro trabalho, o álbum "Hidden Files". Em baixo, o single "Heart of the Grind" para os mais desatentos.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Suarez - Blue Note (Crítica)

Emergiu no Alentejo o primeiro disco de rap acústico português. Suarez, MC e produtor nascido em Beja, vestiu a bata de cientista e fez de “Visão de um Estranho” a sua cobaia. Numa iniciativa que não mudará o Mundo mas que pode muito bem transformar o panorama musical nacional (nomeadamente o rap), pegou no seu primeiro álbum, datado de 2007, apagou samples, livrou-se dos loops, desalinhou programações, enfim, dissolveu quase todas as partículas que compunham as suas músicas. O passo seguinte foi agrupar uma gama de músicos (bons músicos, diga-se) que manipulassem uma série de instrumentos vitais para o pretérito. Desde o contra-baixo à bateria, ou do trompete à guitarra (claro), todos eles foram bastante espremidos, de forma a que cada um, nota a nota, reconstruísse a obra imortalizada há dois anos por Suarez. Numa astuta operação de estética, cerca de uma dezena de faixas surgem não só com uma nova aparência, como também carregam consigo uma outra alma. Os sons que no primeiro álbum soavam rude, transparecem agora harmonia. As batidas que antes nos compeliam a agitar incessantemente a cabeça, baloiçam-nos o pescoço suavemente. “Blue Note” é um formato acústico que cheira a Soul, reflete Blues, respira Country (também!) e transpira rap.

É nos moldes mais básicos, acusticamente falando, que Suarez se inicia nesta experiência aventuresca. “Sonhos (Há Muitos)” e, sussurra o rapper, não os devemos concretizar. “Vive com eles, luta com eles”, numa clara nota introdutória de esperança e positivismo. No entanto, com a segunda faixa, rapidamente sopra uma aragem do sul dos EUA, e com ela chega a descrença e pessimismo. Que na verdade é o reflexo da sociedade dos nossos dias. A letra mantém-se actual (e não parece que nos próximos tempos se torne antiquada). Quem não “vive o dia à procura de uma luz”, com “sacrifício atrás de outro mas nada já seduz”? Porque cada vez mais “o que conta é a influência, gritamos e apelamos mas já falta paciência”. As palavras de Suarez escoam a tristeza que carrega por olhar em redor e ver um povo que não faz por honrar o esforço despendido em tempos pela glória numa revolução. Acontecimento que pertence a uma “história onde só já resta o brazão”. No final de contas, “a gente luta e conseguimos “2006 Kg de Cultura”, atingindo a amargura”. Em 2007 ou em 2009, estamos perante um enorme som.

Politicamente incorrecto, liricamente arrebatador e com um flow que, de tão ágil, coerente e certeiro, fortalece a sua atitude convicta e realista, Suarez esgrime argumentos que exprimem o seu valor, quer seja numa batida suja ou numa melodia mais suave. Como os sons que se seguem. “Preciso dum Motivo” (que teve direito a vídeo no primeiro álbum) apresenta-se numa linha diferente da original (como é óbvio), mas mantém a costela ténue porque a letra assim a obriga. As sílabas fluem a cada dedo que passa pelas cordas da guitarra, a percussão complementa-se e faz por complementar o ritmo. Sem dar-mos por isso, embarcamos numa onda harmoniosa que nos embala e carrega sem rumo. Numa sequência nada entediante, deixamo-nos levar pelas palavras sinceras, profundas e intimistas de Suarez, escutando por detrás as duas vozes femininas baterem ao de leve nos ouvidos. Luisa Casola e Helena Sardica são os nomes, fascinantes e sublimes são os adjectivos. Se há dois anos Suarez procurava nesta faixa um motivo que lhe motivasse a vida, hoje poderá dizer que o encontrou em “Blue Note”, porque, de certeza, que a sua alma estará bem viva. E se há um par de anos esta faixa cotou-se como uma das minhas eleitas, hoje reforço esse sentimento de admiração.

E como pode uma alma não ficar estarrecida quando ouve a composição seguinte? Falo do “Álbum de Fotografias”, que não foi, nem poderia ser, esquecido. Recordam-se os tempos em que Suarez, também ele um puto, partilhava as aulas com outros miúdos, “cromos” outrora, homens nos dias que correm. No início da carreira de rapper (adolescente), Suarez remava com vários parceiros (Pika, MCM, Ró, Camate e NT) no mesmo “Movimento Clandestino”, que testemunhou os primeiros concertos, as primeiras palmas, certamente. O momento é envolvente, doce e especial. Tal como um álbum de fotos palpável, este também nos deixa aquele bichinho que nos leva a pegar nele de tempos em tempos. A voz de Fábio Dias, particularmente, acaba por o elevar a um nível que, sinceramente, imaginava inatingível num registo deste género. Simplesmente fantástica toda a composição e arranjos desta canção!

Não esquecendo todos aqueles que, de uma maneira ou de outra, influenciaram a sua forma de estar, Suarez volta a registar o seu “Obrigado (Outra Vez)”. O ambiente sinistro que o próprio empreendera na versão original desapareceu (pelo menos não está tão agressivo), mas a letra e a mensagem política e socialmente interventiva não. Por isso, a mira continua apontada a editoras, promotoras, fingidos, interesseiros, verdadeiros que nunca o apoiam, partidos, aos que receberam a sua ajuda e retribuiram com nada, enfim, a tudo e todos que fazem (ou fizeram) parte da sua vida, que acabaram por o fortalecer ainda mais, Suarez agradece (outra vez). O MC de Beja é um observador nato, um relatador de histórias e de comportamentos bem reais. “(...) e a democracia dele (país) vive dependente de um sistema capital parasita, “Poligamia de Bens” não é para quem necessita”. Nesta faixa é o quotidiano que inspira Suarez. O dia a dia de uma vida que ninguém escolheu, “apesar de sermos os nossos condutores dos nossos berços”. Um trompete, acarinhado por mãos que o bem tratam, enternece a música, que carrega um refrão vocalmente bem pensado e ainda melhor cantado.

Para quem é músico, que corre o país (ou por vezes apenas metade dele) sem grandes posses, actua em espaços onde muitas vezes os caches prometidos desaparecem, mas que mesmo assim continua a subir ao palco por amor ao que faz e respeito a quem o ouve, então vai-se identificar com a malha número 7. “Somos emigrantes musicais em "Movimentos Migratórios” resume praticamente tudo. O “tudo” que Suarez relata são as vivências e histórias que muitos artistas retratam naqueles documentários de bastidores. Uma letra sentida, liricamente perfeita e um hino ao rap. Sim, porque isto continua a ser rap, onde uma guitarra marca o compasso, onde não faltam os arranhões de Pass One, e um Trompete que volta a fazer estragos…

Seguem-se dois momentos díspares (curiosamente). “Sangue Novo (Pt.I)” e “Sangue Novo (Pt.II)”. No primeiro, as rimas de Suarez ausentam-se, deixando os holofotes iluminarem as cordas vocais de Pedro Bicas. No segundo, as palavras do rapper são cuspidas a todo gás. Se na parte I a melodia propicia a cantoria sobre a geração rasca contemporânea, na parte II a guitarra espicaça os versos que o alentejano já direcionara contra o governo e políticos nacionais que gostam de queimar o povo: “Somos boicotados mas o rap é o meu partido/As nossas medidas são formatos cds/assembleias são concertos e quem escolhe são vocês”
Antes de a cassete acabar, fita ainda para um encontro a três: Luís Soares, Suarez e a guitarra. Num momento largamente introspectivo, Luís, o homem, debita palavras amargas, que transbordam mágoa, tristeza, e que encontram em Suarez, o rapper, o seu amparo. Em "O Meu Nome é Luís", não podia ter sido mais honesto. Nos derradeiros quarenta e cinco segundos, uma mensagem idêntica à introdução, onde se diz que “Convicções (Há Muitas)” e “o mais cego é aquele que não quer ver… do que aquele que não vê mesmo”.

“Blue Note” é um disco recheado de surpresas, até para quem já ouviu rap acústico. Por detrás das rimas agridoces de Suarez acomodam-se melodias envolventes. O desenrolar das faixas será sempre um exercício agradável, e nada penoso. Sentimentalista, espectador e ouvinte atento na vida, activista. Umas vezes corrosivo, outras vezes pungente, completamente à vontade na escrita, super-à-vontade no flow, eis o rapper Suarez, que agora dá um passo que ninguém ousou dar em terras lusas. Depois do primeiro trabalho “Visão de Um Estranho“ ter sido inalado e aclamado por muita gente, haverá quem considere “Blue Note” uma estranha visão de rap. Mas é preciso recordar que o Hip Hop sempre se serviu de outros estilos. Por isso, “Blue Note” não demorará a entranhar-se, assim suave, suavemente...

Desde hoje, "Blue Note" está disponível para descarga e consumo completamente gratuito neste sítio: http://www.suarezbluenote.com/

Vários trabalhos para download gratuito

Para quem ficou com curiosidade para saber mais sobre alguns artistas que integraram a "Poesia Invicta", ficam aqui trabalhos gratuitos de alguns deles.






domingo, 20 de setembro de 2009

Macacos do Chinês - Machadinha



Este é o videoclip de "Machadinha", gravado ao vivo no Fórum Municipal J.M. Figueiredo, na Moita. Depois de "Plutão" e "Rolling na Reboleira", é o terceiro single que avança do registo de estreia de Skillaz, Apache, Al:x, Drupez e Tiago Morna.
"Ruídos Reais" dos Macacos do Chinês conta com doze temas e participações de Buraka Som Sistema, João Gomes e "O Chato".

New Max - Quero Mais

O novo single de "Phalasolo" foi apresentado ao público ontem à noite, no Cabaret Maxime, em Lisboa. No videoclip de "Quero Mais" (realizado por Arturo Ayerbe), Rui Reininho (com uma actuação bastante sui generis) e Kika Santos são o centro das atenções. NBC, Marta Ren, Virgul, Demo, Dino, DJ Enigma e Hugo Novo também surgem no enredo.

sábado, 19 de setembro de 2009

Vídeo de Bob da Rage Sense em exclusivo na MTV

O novo vídeo de Bob da Rage Sense é um exclusivo da MTV (por que será que nunca mais nos disseram nada acerca do imbróglio com Dealema???). Bob da Rage Sense está prestes a lançar «Diários de Marcos Robert» e o vídeo "Conheço-te de algum lado?" já passa então na estação musical. Podem vê-lo aqui.

Mixtape Poesia Invicta (Crítica)

O nevoeiro sobre o Rio Douro é tão costumeiro e cerrado que se torna difícil, por vezes, a contemplação por entre as suas malhas. Mas há gente que enceta formas de o fazer desmobilizar para que se aprecie a paisagem vedada. Fisko muniu-se de garbo e num sopro de amor à cultura Hip Hop fez levantar parte do fumo húmido que paira sobre alguma da música rap que se faz a Norte. Artistas que se misturam com o granito e que a camuflagem de brumas condena a passarem despercebidos. Mas uma vez revelados, são nomes que reclamam a sua hora nos fios do tempo. A obra de alguns deles será objecto de coroação mas independentemente disso fica a convicção de que a Poesia é para sempre Invicta porque de igual modo é invicta a determinação.

Esclarece-se aos nossos ouvidos uma característica que atravessa toda a mixtape “Poesia Invicta”. Mais do que o sotaque tripeiro, assalta-nos aqui um surto de insaciabilidade em todos os mc’s. Famintos, esgrimem argumentos técnicos e líricos, procurando passar boa impressão. Regra geral, conseguiram-no. Reuniu-se em “Poesia Invicta” um naipe de mc’s que embora jovens já apresentam competência e uma dinâmica verbal de assinalar.

Na sua participação, Age evidencia uma grande vontade de rimar e de dar um ênfase especial às palavras expelidas. Com “Mata-Mata!”, engendrou uma sátira aos rappers que nascem e crescem como cogumelos na floresta do Hip Hop, sem medo de que lhe possa servir a carapuça. Tomou as rédeas da responsabilidade, vestiu o seu fato de Super-MC e ei-lo a declarar aberta a caça aos rappers desajeitados. Age fez amizade com a agressividade, a ironia e a comicidade e essa aliança convergiu no tal plano de mover um cerrado ataque verbal aos traidores da essência HipHopiana. Talvez Age ainda não tenha total propriedade para se imiscuir de microfone em punho no papel de caçador mas ressalve-se a sua intenção.

Duplo Sentido aposta no fim do sono, apropriando-se de garra e de escorreitos flows para endereçar um aviso aos que circulam nos meandros da indústria musical. De “Acorda!” emergem versos que bem poderiam servir como slogan da mixtape “Poesia Invicta”: «Naquilo que faço sou invicto/ Não há equívoco/ Pois na Invicta o bom produto é típico». Prestação francamente boa de DiOr e GaLaRt que comprovam o carácter especial da inventividade: «Ideias são gotas cintilantes no meu caderno».

“Instante com Decibélicos” é um tema que dada a má prestação do grupo se torna numa dolorosa morosidade que aflige os nossos canais auditivos. O flow é estranho, o que torna difícil a compreensão do que dizem. Existiu pouca sensibilidade da parte deles, na medida em que desprezaram a fácil captação da mensagem por parte dos ouvintes, apostando antes na técnica de cuspir. O produto final redonda numa rajada de rimas muitas vezes imperceptível. Escutar esta faixa de Decibélicos é um exercício penoso.

Se há nítidas dificuldades em Decibélicos, Domínio Verbal, pelo contrário, faz jus ao nome. “Estado Zen” é uma canção que traduz o estilo da sua verbalização, pois diria que o flow apresentado é certinho, balanceado com pausas em conformidade com a batida. Mais do que mero exibicionismo de competência técnica, Domínio Verbal explica a sua motivação para o rap, as experiências daí decorrentes e a visão externa sobre os elementos do grupo e o fenómeno musical. Namorando com a música, há aqui uma aposta em jogar-se simples e o resultado demonstra que se almeja a pretendida qualidade.

Guerreiro é mais um rapper ávido que se dá a conhecer na mixtape. Cheio de apetite pelas rimas, ele está pronto para deglutir o que quer que seja, assim parece. “Escuta com Atenção Mano” é um carril autobiográfico puro e duro. Situações menos agradáveis da sua vida são exibidas sem pudores: «Dizem que um homem não chora/ Por isso é que eu rimo às escondidas». Este som é um desabafo que transparece uma enorme revolta pessoal de alguém que carrega o mundo às costas. Se não nos apetece muitas vezes ouvir os problemas pessoais de alguém, neste caso, gaba-se a coragem de Guerreiro que se expõe tão abertamente.

O single da mixtape é uma cortesia de Poker (Spitz e Noura) com a participação de Sky. Percebe-se que “Mantém a Barra” detém estatuto de ponta-de-lança pois é uma canção com qualidade, com um clima de celebração e de união, que ali é promovido e estimulado. A voz doce de Sky, o flow cool, seguro, harmónico, são reveladores da maturidade desta artista que se move também nos domínios da Soul e do R&B, onde se sente igualmente como golfinho na água. Spitz com o seu sotaque cerrado aperta, por certo, o microfone com a mesma intensidade e dispara rimas direitas ao coração de quem é tripeiro: «O espaço que nos separa/ É em pistas que nos une». Noura segue a tónica da cara-metade de Poker e revela o óbvio para qualquer portuense de gema: «Tudo nesta Invicta me inspira a escrita». Os acontecimentos das suas vidas misturam-se com o Hip Hop e elas acentuam a importância que isso teve na união delas mesmas. «Nós temos o Porto unido/ Mantém a Barra»!

A letra “R” bem podia prenunciar a palavra “revelação” dirigida a estes dois rappers. Refiro-me a Realista e a Roke. Realista apresenta o tema “Poesia Invicta” onde derrama a sua história no rap, os seus sonhos, receios, etc. Prodece ainda a uma vincada homenagem a Fisko, organizador da mixtape. «Um amor, uma mente, um ano», refere Realista, que contou com uma participação muito positiva. Por sua vez, Roke possui um flow sui generis, inflamado de paixão e calor. Sente-se que não poupa no sentimento que transmite. Tal como Realista, é um mc com potencial que poderá confirmar a esperança que nele se deposita para o rap quando tiver mais cadernos preenchidos com rimas.

Som Mudo investe com “Ponto de Fuga” numa reflexão sobre a vida e seus tópicos basilares. É um som que se destaca dos restantes pela sua carga introspectiva e mais elaborada. A abordagem a que Som Mudo recorre, obriga-nos, pelo carácter profundo, a ouvir o tema mais do que uma vez para o interpretarmos fielmente. A repetição é algo que se faz com absoluto prazer, esclareça-se. Som Mudo faz-nos sentir como os convidados especiais da canção. Provavelmente, “Ponto de Fuga” é o tema mais proeminente da mixtape. Há uma marca de maturidade acentuada em Som Mudo e a qualidade existe a rodos. Sobretudo, apraz-me a carga poética por eles incutida. Dizzy e Vírus Mental fazem acreditar que por detrás da neblina há uma boa nova à espreita. E todos nós queremos ver esse sol a brilhar!

Vadio é um mc sem papas na língua, que nos garante que a “publicidade é o processo para alcançar e garantir o sucesso”. Adopta uma posição de escárnio em relação ao próprio movimento: «Yo yo, nigga não sei quê/ És gangsta mas a rimar é o que se vê». “Temática” é uma faixa que aponta para a real filosofia do Hip Hop, com Vadio a sublinhar com traço grosso que o conteúdo deve ser mais importante do que o aspecto. Ele tem garra e se a isso acrescentar a persistência teremos aqui um rapper que se dedicará certamente à (re)descoberta da essência desta cultura nos seus projectos vindouros.

W.R.O.N.G compôs para a mixtape o tema “Poesia”. Começa por situar as suas origens e focar o crescimento do número de praticantes deste movimento na Invicta. Com uma boa margem de progressão, demonstra talento e habilidade, para além duma grande vontade em morder deliciosas rimas. Chega a debitar, durante a sua interpretação, nomes de grupos de rap do Norte que são suas influências e uma constante presença nos seus ouvidos. Ficamos com o todo o interesse à espera de mais novidade de W.R.O.N.G.

A mixtape “Poesia Invicta” é como uma cave escura e humilde que alberga castas que se pode pensar como segredos bem guardados. Após a prova das 11 amostras, o nosso palato toma contacto com a textura de irreverência e jovialidade presente em Vadio, deliciando-se ao mesmo tempo com a intensidade e maturidade de Som Mudo; enlevamo-nos com o aroma frutado de Poker e Sky que se entrecruza com a sobriedade de Domínio Verbal, Realista e W.R.O.N.G.; as papilas gustativas dilatam com o ardor de Guerreiro e de Roke e com a efervescência de Age e só o travo de Decibélicos faz minguar esse festival de bom gosto que acontece na nossa boca. Em resumo, “Poesia Invicta” embriaga-nos pela variedade de gamas aqui presentes e que surpreendem porque eram desconhecidas, na maior parte dos casos. Sobretudo, estão aqui colheitas que o tempo poderá amadurecer na tal cave, acrescentando-lhes uma maior qualidade e tornando-as válidas e atraentes para os consumidores. Para mim, desta amostra, há já dois néctares com excelentes propriedades e com um bom grau de maturação: Sky e Som Mudo. O balanço é positivo, brinde-se à mixtape e ao projecto “Poesia Invicta”!

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Sir Scratch e Luanda Cozetti - Quando Menos Esperas



"A esperança está onde menos se espera" é um novo filme português realizado por Joaquim Leitão e produzido por Tino Navarro. A banda-sonora deste filme está recheada de rap, com nomes como Nigga Poison, Sam The Kid e Sir Scracth. É precisamente este último o criador juntamente com Luanda Cozetti do tema central da película. Com direito a videoclip, aqui fica pois então Sir Scratch com "Quando Menos Esperas".

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

No Palco Com...

A recente tour do festival de Hip Hop dos EUA "Rock The Bells" percorreu aquele país entre Junho e Agosto. Foram dezenas de artistas que pisaram o palco e desfilaram credenciais perante milhares de aficcionados. Os Dilated Peoples tiveram o seu tempo de antena e, para além dos sons que coleccionaram álbum após álbum e que naturalmente se fizeram ouvir, o grupo originário de Los Angeles não se esgueirou quando foi lançado o instrumental "Keep It Thoro", que o produtor Alchemist havia concebido para o primeiro álbum de Prodigy (Mobb Deep) "H.N.I.C." de 2000. Evidence e Rakaa Iriscience cuspiram umas rimas, intercaladas pela prestação de Fashawn, o jovem MC de apenas vinte anos, que a partir de Outubro terá o seu disco "Boy Meets World" nas ruas.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O Legado de Big Punisher

O filme que retrata a vida de Big Punisher chegou ontem aos cinemas americanos. Como é habitual neste género de documentário, a película, dirigida por Vlad Yudin e intitulada “Big Pun: The Legacy”, traz imagens raras do rapper dentro e fora dos estúdios e palcos, assim como entrevistas exclusivas que relatam o Big Pun mais sensível, muito ligado à família e amigos. Prodigy, Raekwon, Redman, Keith Murray, Xzibit, Snoop Dogg e B-Real são alguns dos rappers que prestam o seu tributo.
Provavelmente não chegará a ser exibido em Portugal, mas, para quem aprecia este tipo de filmes biográficos, fica a sugestão.



Big Punisher sempre andou de mãos dadas com a controvérsia e muitos problemas familiares. Ainda em criança conviveu com o uso excessivo de drogas por parte da mãe, a saída de casa do pai, assim como os abusos de um tio. Mais tarde, abandonou os estudos, aventurou-se também ele no mundo das drogas e sobreviveu em prédios abandonados (este lado mais obscuro da vida de Big Pun é retratado noutro documentário realizado em 2002, que tem o nome de um dos seus grandes sucessos: “Still Not a Player”).
Enquanto rapper, e já a oscilar entre os 200 e 300 kg, Big Pun somou desde logo duas grandes malhas: “I'm Not A Player” e “Still Not a Player”, duas faixas que integraram o seu primeiro álbum “Capital Punishment”. O mesmo registo que o acomodou no trono de primeiro latino a amealhar uma platina discográfica. A nomeação para os Grammys surgiu logo depois, embora Jay-Z acabasse por deitar as mãos ao pequeno troféu.
Fat Joe resgatou-o para a Terror Squad, uma crew encabeçada por ele próprio. Mas dois anos após o primeiro trabalho e a dois meses do lançamento do segundo ("Yeeeah Baby"), Big Pun acaba por sucumbir devido a um ataque cardíaco, resultado do excesso de peso e de depressões. Ficou a obra de um artista latino que granjeou marcar uma era na América e que foi traído pelo seu próprio corpo ainda bastante novo.

Recordando "Still Not a Player":


Avisos


terça-feira, 15 de setembro de 2009

Informação nunca é demais!

O programa "Beat Generation" do portal Sapo testemunhou a Jam Session de Hip Hop inserida no workshop que se realizou, há cerca de um mês, no CCB, em Lisboa. Para além disso, tiveram a palavra o rapper Biru, DJ Maskarilha (Nigga Poison) e os B-boys Speedy e Bónus.

Eventos deste género são sempre bem-vindos, seja em que altura for, pena haver muito pessoal com pouca predisposição para aprender um pouco mais sobre o movimento. Consumir em bruto não é o caminho mais certo. "Penso eu de que..."

Novo Vídeo de Mind da Gap - Abre os Olhos



Não estava a par desta novidade. Fiquei a saber que já rola o novo videoclip "Abre os Olhos" de Mind da Gap através do H2T. O single há algum tempo que circula nas rádios e está disponível gratuitamente. Agora podem ver também as imagens que lhe dão corpo. Julgo que ainda não há data de saída do álbum, mas até ao fim do ano ele deve estar nas lojas. Para já, fiquem com "Abre os Olhos".

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Bob da Rage Sense - Conheço-te de Algum Lado?



Bob da Rage Sense prepara-se para lançar brevemente o álbum "Diários de Marcos Robert". Na apresentação do vídeo que ilustra o single "Conheço-te de Algum Lado?", Bob fez uma actuação ao vivo cantando este mesmo tema juntamente com o convidado especial New Max. Sintam o pulso deste pedacinho do mais recente single de Bob da Rage Sense.

domingo, 13 de setembro de 2009

Uma referência chamada Tupac Shakur



Hoje, 13 de Setembro de 2009, contam-se 13 anos após a morte de Tupac Shakur aka Makaveli. Rapper, escritor e actor, Tupac almejou influenciar milhões de jovens em todo o mundo. E conseguiu-o largamente (como o vídeo em cima o sugere). Artistas ou meros apreciadores de Hip Hop (e não só), são poucos os que ficaram indiferentes à música e postura deste irreverente revolucionário. Enquanto foi vivo, Tupac gravou cinco álbuns, contando o mesmo número de discos póstumos, pois Tupac sempre vendeu bastante (e ainda vende).
Famosa ficou também a guerra West Coast/East Coast, encabeçada por 2PAC de um lado e por Notorious B.I.G. (falecido 6 meses após Shakur) do outro. Aliás, diz-se que foi o fervilhar desta rivalidade que acabou com a vida de ambos os rappers.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Marco Polo & Torae: Double Video



Dois vídeos, dois protagonistas, dois beats, duas letras, duas palavras: “Double Barrel”. É este o trabalho que tem unido o rapper Torae ao produtor canadiano Marco Polo. Desde que foi lançado às feras (2 de Junho), o álbum tem recebido inúmeras palmadinhas nas costas, e bem o merece. É Nova Iorque em estado puro e bom-bap a bater duro.

“Double Barrel” (com os arranhões de DJ Revolution) e “Party Crashers” sem nenhum complexo e com muito hardcore.

Lançamentos de God-G e Suarez


Cartaz



quarta-feira, 9 de setembro de 2009

SimpLe - Um 1/7 Sétimo Mixtape (Crítica)

SimpLe é um nome que paulatinamente vai sendo mais proferido por todos os que gostam de rap português. A primeira vez que ouvi falar dele foi através do Sempei. Finalmente, dediquei-me a uma audição atenta a fim de avalizar o trabalho deste mestre de cerimónias proveniente de Leça da Palmeira. Em boa hora o fiz, acrescento. SimpLe não é propriamente um novato na cena Hip Hop. Pelo contrário, já está nestas andanças há, pelo menos, 10 anos (deu o seu primeiro concerto em 17/12/1999 com um cachet de 1000 escudos!). Primeiro no breakdance, depois no mcing, SimpLe é um indivíduo profundamente marcado por esta cultura. Para se retirar essa ilação, basta ouvir “Um 1/7 Sétimo Mixtape”.

Em todo o trabalho, SimpLe demonstra qualidade técnica. Quer ao nível das letras, quer no que se refere ao seu flow, que caracterizaria como rasgadinho. O trabalho do leceiro exemplifica que a qualidade não cai do céu e nota-se, à medida que se escuta “Um 1/7 Sétimo Mixtape”, uma maturidade, experiência e um à vontade que só se adquirem com anos de prática. SimpLe dá-nos uma prova de consistência também. Rima com total paixão pela cultura Hip Hop. Destacaria ainda a mais-valia de SimpLe no que toca à construção de bons refrãos.

“Sintoniza no Canal” entra-nos como uma bala pelos ouvidos! SimpLe ataca os ouvintes com um super flow técnico e rápido, mais parecendo um sniper munido com uma arma de tecnologia de ponta. «Sentimento envolvido nesta cena musical/ Rimas e batidas em sintonia total», diz. E é assim. SimpLe passeia seguro em cima da batida, foca os temas que lhe apetece, pisca o olho às aliterações, enquanto está perfeitamente cómodo com o flow. Se por um lado, SimpLe ambiciona manipular o “som que traz o vento de mudança”, por outro, sabe que há realidades que não se alteram como a observação que faz acerca da ilusão que se apodera da juventude e que despoleta uma pose de Hollywood nalguns. Mas ficam as suas palavras gravadas na pedra: “sou rapper trago uma dica correcta” e não há cura para a pura loucura da minha rima, adianta.

Chegamos a “Vintage”. Neste apeadeiro, temos oportunidade de apanhar o comboio memorial de SimpLe, onde em curtos mas apaixonantes 4m21s fazemos a viagem do nosso protagonista na linha do Hip Hop. Em trechos de afectos e emoções pelo Hip Hop, SimpLe não prescinde da sua fluência verbal cortante, que primeiro pode estranhar-se mas que depois viciantemente se entranha nos nossos ouvidos (o criador dum certo slogan da Coca-Cola não diria melhor!). SimpLe certifica-se que captaremos com sucesso a sua mensagem de verdadeiro guardião desta cultura. Ora vejam se vos é difícil entender estes versos: “Aqui não rola 50, aqui não rola Beyoncé/ Aqui rola Velha Escola e beats do Premier”. Gostaram da visita de estudo?

Agora, vou fazer batota e avanço até à faixa 6 só para ter a oportunidade de relacionar o fim do parágrafo anterior com este. Cá vai: por falar em visita de estudo e já que isso se relaciona com a escola, que tal debatermos a sério, ou seja, sem Ministra da Educação, o estado da instrução hiphopiana? Embora fazer isso. “Velha Escola” é uma das mais belas e inteligentes odes que eu me lembro de ouvir em língua portuguesa aos mais antigos activistas desta cultura! SimpLe faz uma evidente mas magistral comparação da situação dos hiphoppers mais antigos com a de um físico edifício educativo de uso desgastado. Tal como esse monte de betão obsoleto, também as condições para a prática do Hip Hop não eram as mais favoráveis outrora. Porém, as lições aconteciam graças ao entusiasmo, boa vontade e puro amor de todos pela cultura. Os quatro cursos ministrados – mcing, djing, breakdance, graffiti - não tinham a aprovação do Ministério da Educação, é certo, mas tinham a vantagem de estarem isentos do pagamento de escandalosas propinas e de bucrocacia, estando somente à mercê de quem os quisesse cursar. E nem a inexistência de férias, fazia recuar os alunos. SimpLe relata-nos que frequentou o breakdance antes de se inscrever no mcing, num tom manifestamente emocionado. Agravado até pela inevitabilidade da “Velha Escola” ter de fechar as suas portas e dar lugar a novas instalações. Aconteceu, por via desse facto, uma “mudança radical no movimento estudantil”, que levou a que SimpLe recusasse a matrícula no novo estabelecimento de ensino. Causas para essa decisão: “A tradição já não é o que era”. No entanto, ninguém lhe tira “as recordações da Velha Escola”. Muito bom!

“Sigo a minha vida” é uma boa forma de SimpLe não se amargurar em demasia com memórias pertencentes à areia que já correu pela ampulheta. Precalços todos enfrentamos e há algures um momento em que provamos o fel da injustiça da vida. Estamos todos na mesma encruzilhada: “Presos num mundo que não dá nada a ninguém”, sintetiza SimpLe. Ele não espera nada de mão beijada e, por isso, mostra o seu empenhamento ao engajar-se nas lutas que lhe trarão a abundância: “Não aprendi a roubar, não aprendi a mentir/ Aprendi a batalhar, aprendi a sorrir”. Estes versos deviam servir de guia para muitos jovens que vivem com ideias deturpadas na cabeça, o que lhes trará amargos de boca no futuro garantidamente. Apesar do exemplo que nos oferta, SimpLe confessa que nem sempre seguiu a cartilha da moral e bons costumes. Reconhece que errou mas esforçou-se por se redimir. O nascimento da sua filha, por certo, apressou esse desejo de remissão.

Normalmente, decidimos que é no primeiro dia do novo ano que trataremos da espinhosa missão de nos tornarmos pessoas melhores. Mas quase sempre as folhas do calendário levam consigo, à medida que avançam, muitos dos projectos que havíamos delineado. SimpLe partilha connosco um caso de mudança radical, que nos é descrita em “Ano Novo”. Ele viu-se numa situação inédita a determinado momento. Não estava, como usual, a festejar na rua a passagem de ano. Tudo porque a responsabilidade chamou-o à pedra e SimpLesmente teve de abrir mão das “maluqueiras” nocturnas e festivas mas por uma nobilíssima causa: o nascimento da sua filha. O motivo que a vida deu a SimpLe para transformar para melhor a sua existência neste mundo. Ainda que sinta a nostalgia do espírito livre de jovem sem responsabilidades, tem plena consciência de que para tudo há um tempo próprio, o que revela a maturidade que se incorporou nele. A vida tantas vezes não corre como queremos, mas temos sempre de encarar com o dobro das forças o que nos aparece à frente. E SimpLe parte à conquista. A saudade de outros tempos pode cortar “como lâminas” mas ele sabe que o novo rumo que tomou é o melhor para ele. Se o melhor do mundo são as crianças, SimpLe é um afortunado por ter mudado a sua vida graças a uma!



Ressaltam em “Um 1/7 Sétimo Mixtape” dois grandes amores na vida de SimpLe: a família e o Hip Hop. Escuta-se dele um jubilo pelo nascimento da sua filha mas também nos deparamos com o respeito e gratidão que tem pelos seus pais. Ao longo desta viagem pelo mundo musical de SimpLe, o Hip Hop tem, como não podia deixar de ser, lugar cativo. Mas há uma certa descrença pelo futuro da cultura em SimpLe. Daí que não se estranhe que tenha criado um tema como “Dreads”. E o que são ou quem são estes dreads, segundo SimpLe? São aqueles que vivem o Hip Hop trocando a última letra de “modo” por um “a”, o que perfaz “moda” e não a tal filosofia de vida. São os que se adornam de bijuteria, investem no aparato e na aparência enquanto interiormente se sente o eco pelo vazio de conhecimento sobre a cultura. Não resisto a esta comparação enumerada por SimpLe: se não querem ser uma decepção como o Ricardo na baliza da Selecção portuguesa, então não peguem no microfone sem antes terem treinado muito. E Deus vos livre de terem uma voz como a do Ricardo, acrescento eu! O refrão criado para esta faixa é mais uma prova da qualidade de SimpLe, que encanta pela habilidade, destreza e naturalidade. Tão surpreendente como contagiante. SimpLe aponta o dedo aos que não mostram humildade e trazem um trabalho sem chama, pouco galvanizador. O mc de Leça da Palmeira esmaga o discurso dos “reais e verdadeiros” com um mordaz «calados dizem tudo»! E para os que procuram a fama mais do que a arte, SimpLe apela para que se tenha cuidado com o que se deseja e lembra a triste e delicada situação de... Zé Maria: “Fama sem reconhecimento é como o Big Bro(ther)/ Vai ter com o Zé Maria e pergunta-lhe como acabou”. Para quem não sabe, Zé Maria tem padecido de vários problemas psicológicos e psiquiátricos, tendo já tentado o suicídio! Já para não se referir os que querem fama e só têm difamação, como muito bem diz o outro!

Chegamos ao fim deste capítulo de SimpLe. “Um 1/7 Sétimo Mixtape” é um trabalho que surpreende a cada audição. Marcadamente autobiográfica, como é norma no rap, a linha de SimpLe agrada igualmente pela homenagem aos antigos hiphoppers, pela honestidade de cada palavra cuspida, pelo tacto com que trata o Hip Hop, pela qualidade que revela na diversidade da fluência verbal, pela experiência que transmite. SimpLe soube ser paciente. Semeou, cuidou, estudou as outras colheitas, aferiu o tempo, até lançar as mãos à terra e mostrar aos outros o seu produto. Fez-se acompanhar por DJ SlimCutz, que arranhou de forma exímia em toda a mixtape, o que ajudou a elevar a qualidade deste trabalho. «Sente a complexidade da simplicidade, com sonoridade na identidade, com habilidade, naturalidade, criatividade nata sem data de validade», eis o modo de SimpLe, expresso em “Dreads”. Para fechar, em “Vintage” deixa a sugestão: «Não percas o próximo episódio». Garantidamente não perderemos!

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Revista Freestyle (Balanço)

A Freestyle, revista portuguesa de Hip Hop, com periodicidade bimestral, vai no seu 3º número. É portanto uma altura propícia para se fazer um primeiro balanço e uma medição do impacto que esta revista trouxe. Irei assinalar, numa opinião pessoal de leitor, aspectos negativos e positivos que tenho encontrado na Freestyle.

PONTOS NEGATIVOS:

- As capas. Sendo a Freestyle uma revista com poiso nas bancas, logo com fins comerciais como qualquer outra, estranha-se que tenha vindo a apresentar capas tão pouco atractivas. Parece ser uma espécie de constrangimento para a Freestyle a presença de um artista em foco na capa. Saliente-se que só agora neste 3º número é que a Freestyle decidiu colocar imagens de artistas na capa mas em tamanho reduzido e conjugadas numa composição artística. Ora, parece-me que a pretensão de sobriedade para a capa da revista esbarra no pobre apelo gráfico para quem compra. A capa não será a coisa mais importante duma revista, mas tem a sua relevância.

- Ausência de oferta multimédia. É certo que a net já permite a divulgação de maquetas mas o prestígio, diga-se assim, dum som de um mc, que procure dar-se a conhecer, ser incluído num CD duma revista é diferente da promoção que pode fazer na net. A eventual oferta multimédia seria ainda interessante para alojar fotos de eventos ou outras iniciativas que não sejam seleccionadas para a revista e fotos de graffiti, por exemplo, de modo a que houvesse mais espaço nas páginas da revista para outros conteúdos. Em alternativa à oferta multimédia física, vulgo CD, a Freestyle poderia abrir um espaço na net onde alojasse esses brindes e os oferecesse aos seus leitores.

- Problemas de distribuição. Há ainda gente ligada ao Hip Hop que ou não conhece a existência da Freestyle ou se conhece nunca lhe deitou os olhos em cima. Mesmo nas grandes cidades é, por vezes, árduo encontrar a revista nas bancas. Já visitei algumas papelarias na área do Grande Porto que desconheciam por completo a revista.

- Pouca abertura ao Hip Hop internacional. É bom que se dê uma especial incidência no que é nacional, mas o Hip Hop estrangeiro de qualidade também merecia tratamento ao nível de artigos. Seja Hip Hop americano, francês ou espanhol, mas também o brasileiro, o angolano ou o moçambicano, até por questões de ligação histórica e por a língua ser a mesma. É que a Freestyle pode estar a incorrer numa possível incongruência. Ou então a atitude da Freestyle pode ser entendida – o que eu acharia óptimo – como uma abertura ao que é do exterior. Passo a explicar. No 1º número da Freestyle, consta no "Estatuto Editorial" que os «conteúdos informativos» serão «cem por cento nacionais». Porém, desfolhando as páginas dessa mesma edição de estreia deparamo-nos com factos relacionados com o estrangeiro, quer ao nível de notícias e de álbuns. Por exemplo: as seis críticas a álbuns presentes na Freestyle nº1 são todas de álbuns do exterior! Que fique bem assente: acho muito bem que haja o tratamento ao Hip Hop americano e ao dos países lusófonos, só penso que era dispensável a revista afirmar no seu "Estatuto Editorial" que era puramente nacional. Será muito mais interessante a revista e poderá captar mais leitores se não tiver quaisquer pruridos em tratar e em encontrar um equilíbrio entre o nacional e o internacional. Ainda no "Estatuto Editorial", a Freestyle afirma que pretende ajudar ao crescimento do Hip Hop, dando-o a conhecer ao público. Deste modo, seria extremamente importante que a revista desse a conhecer as origens do Hip Hop em Portugal mas também que fizesse o enquadramento do seu nascimento na América. Logo, faria todo o sentido a revista tratar o que é nacional e o que é internacional.

- Desaproveitamento do espaço. Este é um flagrante problema da Freestyle. Todavia, penso que a equipa da Freestyle adoptou como política ter uma foto de página inteira sempre que apresenta um artista ou grupo, na sequência de um artigo ou entrevista. Digo política da revista no sentido de ser uma opção tomada nos 3 números já editados. Um exemplo perfeito do esbanjamento do espaço da revista: o índice ocupa 2 páginas! Tantas páginas quantas as que são dedicadas à crítica de álbuns, onde o espaço é exíguo para se comentarem 6 discos, não se podendo fazer uma análise pouco mais do que superficial. Na minha óptica, convinha que o espaço fosse mais rentabilizado, o que conferiria a possibilidade de existirem mais assuntos para escrever ou, pelo menos, poderia dar-se mais extensão aos assuntos que são abordados. Proliferam, sem nexo, fotos de página inteira nos 3 números.

- Reduzido espaço para álbuns. Parece-me que uma área vital merecia mais atenção por parte da Freestyle. Esta secção deveria ser encarada como primordial. É preciso ter noção que raramente há na imprensa musical (ou mesmo generalista) portuguesa análises a álbuns de rap português. Logo, uma revista da especialidade não deveria descurar este ponto. Pelo contrário, seria de todo o interesse que aumentasse o número de críticas a álbuns, em geral, e a discos portugueses, em particular. Outro apontamento: na secção 3 mic’s e na secção do e-mail recebido a equipa da Freestyle achou por bem diminuir o tamanho da letra de modo a que aumentasse o texto. Por que não fazer o mesmo na secção dos álbuns? E por que não ter menos páginas com uma foto inteira dum artista para que conseguisse ter, pelo menos, mais uma página para a análise dos álbuns? Fica a sugestão.

- Predominância do Hip Hop da área metropolitana de Lisboa. Num momento em que há outras zonas do país tão activas e trazendo tanta qualidade ao Hip Hop, em todas as vertentes, não se percebe como há este privilégio dado a Lisboa. Quer dizer, entende-se numa lógica de localização, pois a Freestyle está estabelecida na Capital. Mas isso não justifica tudo. Tanto o Norte, como o Centro, Algarve e até algumas zonas do interior do país estão a dar cartas no Hip Hop e mereciam por isso atenção. No fundo, já sabemos como isto funciona quase sempre a muitos níveis: Portugal é Lisboa e o resto é paisagem.

PONTOS POSITIVOS:

- Ser a única revista portuguesa de Hip Hop. Saúda-se naturalmente a iniciativa, a coragem e o empenho de um conjunto de pessoas que lutou para que este projecto fosse uma realidade. Acredito que não deve ser nada fácil construir uma revista sobre esta cultura e que deve ser ainda mais custoso cimentá-la nas bancas e torná-la apetecível para o público. É fundamental que todos possam comprar a Freestyle pois só assim garantiremos a sua continuidade, devendo salientar-se que ela é muito importante para o nosso Hip Hop. Não há quaisquer dúvidas sobre isso.

- Associação a causas sociais. É preocupação da Freestyle ligar-se a lutas sociais de modo a desmistificar ideias feitas sobre o Hip Hop. É muito boa esta envolvência da revista com a sociedade civil, provando que o Hip Hop pode e deve ser muito mais do que uma manifestação artística. Ele pode servir efectivamente como instrumento privilegiado de intervenção social. Esta iniciativa trará não só benefícios e prestígio para a Freestyle mas também para o próprio Hip Hop português.

- Sintonia entre as 4 vertentes do Hip Hop. Nota-se um esforço da Freestyle em dar a mesma importância a cada vertente. O rap normalmente é o actor principal e talvez exista sempre essa supremacia, mas regista-se a dinâmica de congregação que a equipa da Freestyle procura efectuar entre o MCing, o DJing, o Graffiti e o Breakdance.

- Rubricas Falo por Mim, Memória, 3 Mic’s e 20 Barras. São secções bastante interessantes. Falo por Mim é um espaço de opinião bastante pertinente. Memória é fulcral pelo desfiar de histórias que nos remetem inevitavelmente para os primórdios do nosso Hip Hop. Esta rubrica é essencial, assim como mais artigos sobre o começo do Hip Hop Português, pois só se pode crescer se se souber o que está para trás. As 20 Barras são um modo agradável de se fechar a revista, numa componente de descontracção e divertimento até.

- Agenda. É positiva a ideia de facultar as datas dos eventos que irão acontecer no país. Com certeza que a Agenda tenderá a melhorar e a conseguir incluir a indicação de mais iniciativas Hiphopianas. Saliente-se que é um espaço aprazível, pese embora a gralha da edição nº2.

- Artigos e Entrevistas. Há um bom, muito bom até, tratamento destas temáticas, que têm sido autênticos bastiões para a Freestyle. Nota-se uma pujante determinação em fazer bons artigos e boas entrevistas. A equipa tem-se desmultiplicado em várias entrevistas em todas as vertentes e o resultado tem sido sempre bastante satisfatório. Destacaria o excelente artigo, na edição nº2, do Pedro Calado, que é interessante até para reforçar a ideia do quão importante e proveitoso pode ser a abordagem do que é estrangeiro.

- Review. O relato dos eventos que acontecem em Portugal tem paulatinamente aumentado o seu terreno na revista, o que me apraz sobremaneira. É óptimo que quem não tenha podido estar presente num evento consiga através da leitura do artigo pulsar o que aconteceu.

- Festas de lançamento da revista. Iniciativa bastante interessante que visa promover o lançamento de cada edição, com a preocupação de reunir pessoas de todas as vertentes do Hip Hop e de ter a actuar artistas que constem das páginas da Freestyle. Muito boa ideia.

Termino este comentário sobre a revista Freestyle, reforçando que esta é uma opinião meramente pessoal, que teve como única motivação a emissão duma análise baseada na minha experiência de leitor. Esta não é uma posição do blog HIPHOPulsação, é uma opinião minha apenas, sublinho. Não procurei aqui denegrir ou endeusar a revista. O meu intuito é o de ajudar ao melhoramento e crescimento da revista. Referi aspectos negativos e positivos, com a preocupação de procurar fundamentá-los. Resumindo, deixei as minhas objecções e as minhas sugestões de leitor atento, interessado e sobretudo fiel. Desejo à revista Freestyle o maior sucesso e a maior longevidade pois isso significará a consagração e a maturação daquilo que amamos e por que tanto lutamos: o Hip Hop português. Um grande bem-haja a toda a equipa da revista Freestyle.

domingo, 6 de setembro de 2009

Entrevista a Fisko (Poesia Invicta)

A mixtape Poesia Invicta é um trabalho saído há pouco tempo para download gratuito. A mixtape destina-se a celebrar o primeiro aniversário dum espaço - também ele designado Poesia Invicta - que apoia e divulga rappers da região Norte de Portugal. Fisko é o grande mentor desta iniciativa, que merece a nossa vénia. É hora de abrirmos as cortinas e colocarmos no palco, sob as luzes, quem está nos bastidores. Fisko tem a palavra.

1- Fisko, já sabemos que a Poesia é Invicta. Mas conterá ela também partículas de ser Antiga, mui Nobre e sempre Leal? (risos )

Boas. Antes de mais queria agradecer o convite por esta entrevista, é sempre gratificante sentirmos que o nosso trabalho é bem visto, sendo o valor do mesmo reconhecido. Sobre a questão colocada, focando-me principalmente no tema “Poesia” e não unicamente em “Música”, isto hoje em dia é “como o povo entender”. (risos) “Antiga”, sim. Sempre foi uma das mais antigas e importantes formas literárias, desde Adolfo Casais Monteiro (1908), por exemplo, que para mim sempre foi uma via mais directa à poesia “Invicta”. “Mui Nobre” já parte da percepção da própria pessoa. Por exemplo, posso muito bem escrever uns versos, divulgá-los e obter feedback negativo, mas sabendo desde sempre que são “frases” sentidas, que mexem com o lado emocional pessoal, derivado a alguma coisa que se tenha sucedido. Sempre achei que um poeta para ser verdadeiramente “Poeta” não precisa unicamente de escrever umas frases “Potentes” como diz o Fuse - (risos) - mas sim compreender a força das palavras. “Sempre Leal”, sim. Se algum dos poetas que conheço (falando agora de Música, “Poesia audível”) me dissesse hoje que não escrevia mais ou que ia abandonar a “farda”, não me acreditava e era capaz de brincar com a situação. Penso que a Poesia é um “bichinho” que se vai apoderando do nosso dia-a-dia. A gente pega-lhe e não lhe quer largar mais. (risos)

2- Quando e como surgiu a ideia do projecto Poesia Invicta?

É um bocado difícil descobrir quando nasceu ou como nasceu o projecto. Sempre gostei de Música. Seja um Rock, House, até Jazz ou um Fadinho, mas a música Hip-Hop sempre me deliciou o ouvido. Partiu daí principalmente. O “gostar” demais do estilo musical. Depois veio a parte percepcional. Lembro-me de ouvir música Hip-Hop quando era pequeno e da continuidade com que ouvia falar mal de Editoras Musicais, que “comiam” muito mas que faziam pouco por uma carreira musical de um certo Músico. Penso que foi nessa parte da minha vida que me mentalizei que alguém podia dar um “empurrão” e apoiar o crescimento Musical Português. Decidi então apoiar o Nortenho pois nunca me identifiquei com Hip-Hop sem ser o aqui criado. Sempre o achei mais “pensado” ou “sentido”.

3- És só tu o cérebro da Poesia Invicta ou existem mais pessoas envolvidas?

Neste momento estou só eu a conduzir o projecto. Tenho imensos amigos que me perguntavam: “Ei, não queres uma ajuda aí no projecto?”. Mas nunca houve uma ligação musicalmente/sentimentalmente identificável que desse para seguir o projecto como eu queria que fosse.

4- Em traços gerais, define os grandes propósitos desta iniciativa.

A verdadeira natureza deste projecto é mesmo o “dar o empurrão”, “diversão” e o estar bem pessoalmente. Sentir que estou a fazer bem a uma cultura que admiro imenso. Já conheci imensos músicos pelo projecto com quem criei uma grande amizade. O resto vem por acréscimo.

5- De que forma se manifesta o apoio da Poesia Invicta aos artistas?

Inicialmente começou num espaço virtual, num Myspace. Todos os meses colocava faixas ou sets de músicos e a sua Biografia (de onde é, como começou musicalmente, etc) e actualmente com projectos concluídos, como por exemplo a EP das Poker (primeira actualização como projecto e já pondo de parte as faixas e os sets), Logico, etc, e estou agora a finalizar o site oficial e tentar criar um “fundo” que garanta a colocação eterna do site online, mas ainda não tem data marcada.

6- É notório durante a mixtape o elogio dos próprios artistas à organização deste trabalho. Achas que fazem falta mais apoios como o facultado pela Poesia Invicta?

De apoios não tanto, até porque a mixtape foi toda organizada via mensagem pelo Myspace e seguidamente um contacto indirecto pelo e-mail, nunca necessitando de gastos para me deslocar e falar directamente com o artista. Penso que o grande “mal” de certos projectos reside na falta credibilidade sobre o organizador. A falta de conhecimento do próprio projecto também é visto como uma causa da falha de certos trabalhos.

7- A mixtape celebra o primeiro aniversário do projecto. Conta-nos um facto marcante que tenha acontecido neste tempo.

Como respondi numa pergunta anterior, o facto de nos sentirmos “vivos” ao saber que estamos a apoiar de certo modo uma cultura que admiramos, já é um grande ponto marcante. O resto, como disse, vem por acréscimo.

8- A Poesia Invicta terá um exclusivo, digamos assim, com o rap ou está disponível para apoiar artistas de outros géneros musicais?

Penso que só terá um exclusivo para o Rap. Não estou muito a par de outros géneros musicais e, se conduzisse um projecto assim para outros géneros, não era tão “feliz”. (risos)

9- Conheces bastante bem o rap nortenho, como analisas o seu estado?

O rap nortenho está a evoluir a olhos vistos. Lembro-me claramente de há um ano atrás, por exemplo, os Enigma não terem tanto nome como agora, ou de nunca ter visto tantos projectos a saírem ao mesmo tempo como neste ano. E tem de ser assim, manter o “bichinho” para que quando tivermos uns 70 anos, sentirmos que valeu a pena. (risos)

10- O que falta ao rap do Norte para que ele tenha mais expressão em todo o país?

Ouvintes. Acredito que cerca de 80% dos ouvintes do próprio Rap da Invicta sejam habitantes do Norte de Portugal. O Rap do Norte é imensamente diferente do resto do Rap em Portugal. O estilo, a forma como é envolvido, o próprio modo de criar Beats, a escrita acima de tudo. Somos uma cidade que ainda se esconde do resto porque há falta de vontade em mudar na preferência musical.

11- Achas que em Portugal há um tratamento privilegiado dado ao rap de Lisboa? Justifica-nos a tua resposta.

Sim. Penso que deriva do facto de Lisboa ser a Capital de Portugal. Mas estou confiante que se não fosse o terramoto de 1755, já não seria tanto assim. (risos)

12- Qual será, num futuro próximo, o grande desafio para a Poesia Invicta? Que iniciativas/projectos estão na calha?

Já há uns 4 meses que estou a pensar negociar uma grande festa com a Câmara do Porto. Mas prefiro não dar mais dicas e deixar para surpresa. Posso afirmar que se estiver ao meu alcance não custa nada.

Fotos gentilmente cedidas por Fisko, a quem agradecemos pela entrevista,
HIPHOPulsação.

Roulote Rockers - Projecto de Sábado à Tarde (EP)




Mais boas notícias! Roulote Rockers é um projecto fresquíssimo. O grupo é constituído por Logos mc (Raiz Urbana), Raez mc e produtor (projecto 3 em 1) e DJ Spark. Juntos editaram agora o EP "Projecto de Sábado à Tarde". O vídeo chama-se "Vício Chave" e já descongestiona olhos e ouvidos! Causa dependência, tomem cuidado!

O EP está disponível para descarregamento gratuito no myspace de Roulote Rockers. Vão lá, baixem a obra que garantidamente não se vão arrepender. "Roulote Rockers é a cena", dizem eles. Mas que refrescante e agradável cena!

Roulote Rockers - Projecto de Sábado à Tarde (EP) download gratuito aqui:

www.myspace.com/rouloterockers