Roulote Rockers é um trio constituído por DJ Spark, Logos e Raez. Investiram num trabalho conjunto e a consequência desse esforço criativo é o EP “Projecto de Sábado à Tarde”. São 7 temas, um para cada dia da semana, podia concluir-se. Mas o melhor mesmo é ouvir todos duma só vez em cada dia. Mas e se imaginássemos que a história de cada canção fosse mesmo dedicada a cada dia da semana? Bem, então o resultado seria mais ou menos assim...
Domingo: dia de “Definição”. Para a maioria, o Domingo pode ser pachorrento e agonizante porque é véspera da odiosa Segunda-Feira, mas o primeiro dia da semana não é assim para Roulote Rockers. Para estes, é tempo de arriscarem os dedos e os tímpanos em experiências electrónicas, de brincarem livres com os flashes ruidosos da Guerra das Estrelas, enquanto o ritmo é ditado por uma incansável batida que obriga a nossa cabeça a dizer-lhe “sim, sim, sim”, repetidamente. Domingo é por natureza aquele dia em que se traça um plano para que a semana corra sobre rodas. Dessa forma, a Roulote circula pelas ruas, neste Domingo soalheiro, sem nada a temer pois o seu plano está bem alinhavado. Os passageiros seguem de cabeça levantada, as rodas estão bem assentes no alcatrão e há tranquilidade em cada quilómetro que galgam pois, como diz Logos, têm o “crédito da rua”. A estrada que percorrem não tem crateras como a Lua mas tem invariavelmente a sujidade terrena. O que até se liga a Raez, já que se revela um compositor musical fadado para fabricar batidas agradavelmente sujas, gordas e sem resíduos de lixívia ou de cicatrizes deixadas por lipoaspirações. “Definição” é a exibição do trajecto escolhido por Roulote Rockers. Ficamos a saber para onde vão e temos vontade de ir com eles, pois ficamos cientes de que se dirigem para um sítio diferente. A semana e a viagem só agora começaram.
Segunda-Feira: dia “Electrizante”. Roulote Rockers passam o dia apostando num sentido revivalismo dos anos 80, bem cheio de electricidade, claro. O passado é a visão do paraíso para alguns. Assim, com a sua própria máquina de viajar no tempo, o trio mete mãos-à-obra e revisita a era que já lá vai: «Viajei pelos 80’s vi/ Todas as cores onde nasci/ Sonho eléctrico/ Pecado estético». Fisicamente, o passado é imperfeito porque não podemos voltar a ele, mas artisticamente isso é possível. Roulote Rockers são criadores e toda esta classe tem os seus feitiços para matar saudades do que lhes faz falta. Assim, eles para além de serem a cena são também a prova. É nessa memória do passado, desde J Dilla, a Michael Jackson, ao electro-funk, passando pelo boom bap rap, até à queda do Fascismo, que a Roulote encontra as coordenadas para recolher a força, a inspiração e a essência de que necessita. Segunda-Feira é dia de homenagear os tempos idos. Óptima dedicatória.
Terça-Feira: a jornada é dedicada ao “Vício Chave”. O quotidiano cria hábitos aos quais não se pode virar as costas. É nesta perspectiva que os membros da Roulote entendem que o sacrifício merece ser recompensado com o prazer que os corpos suplicam. Eles querem perder-se desenfreadamente nessa “overdose de sensações” que lhes é acenada. «Extâse único, sem preço», por isso se adora o vício. O clima de dependência adensasse para o ouvinte pelo efeito relaxante e pela visão de beleza que o instrumental nos faz ter. Perspectivamos inclusive a nuvem calmante que se avoluma no tecto da Roulote. Há dias de vício puro, de sadia repetição, de louca paz, de arreliável boa onda. Mesmo que arda na carne, arrisca-se a elevação ao céu. Esta Terça-Feira é tão cool!
Quarta-Feira: o dia encastela-se com a junção de saborosos “Pedaços”. Logos e Raez retalham a memória das suas vidas. O dia está agradável, com uma atmosfera tipicamente outonal. A praia está deserta e o sol morno beija-nos a pele. Tempo perfeito para se ver a nostalgia nas ondas do mar. A introspecção encontra terreno fértil para desenvolver raizes e fica mais quente o desejo de se agarrar a vida e a criação. “Pedaços” da vida são como a areia, resvalam-se das mãos, mas vale que se compartimentam na memória. A banda-sonora deste dia é inspirada pela fragância marítima e pelo borbulhar das ondas, num forte azul de subtileza e elegância. Fundamentalmente, a Quarta convida à catarse, que se consuma pela contemplação desse meditabundo oceano. Soberbo para se ouvir no crepúsculo.
Quinta-Feira: “Spark Trek” consta da agenda deste dia. Logos e Raez sentam-se confortavelmente nos bancos da Roulote e somente assistem ao espectáculo que DJ Spark proporciona. Actor principal, Spark interpreta a personagem dum gira-disquista cuja principal missão é salvar a vida a antigos vinis. Assim, DJ Spark tem de impedi-los, a todo o custo, que apanhem a fatídica doença do pó. Fazê-los rodar e rodar é garantir-lhes a sobrevivência que merecem. Sem medo de sujar as mãos, DJ Spark eleva-se pela alegria que oferece aos vinis, chegando por momentos a ver a sua cara reflectida neles, tal é o lustre que lhes dá. Nesta viagem cinematográfica, o papel desempenhado por DJ Spark é um êxito. “Spark Trek” é um filme cheio de acção, onde o protagonista não olha a meios para fazer saltar as faíscas das rodelas de plástico, quais antibióticos para a saúde delas. A plateia aplaude. Logos e Raez também, naturalmente.
Sexta-Feira: 24 horas em que “Aumenta a Munição”. À Sexta, a Roulote deixa o cheiro a alcatrão. Transforma-se em palco. Isso mesmo, dia de actuação de Roulote Rockers. A Roulote está parada mas sente-se a trepidação pela energia, emoção e entrega que se aplica aos preparativos. Hora de mostrar a magia, espalhar a palavra, riscar a música dos antigos e aumentar o volume da batida perfeita. A Roulote derreia-se com o peso de tanta qualidade. E Joe Crack nem está lá dentro porque teve uns afazeres em Nova Iorque. Mas o concerto bomba à mesma e as pessoas que assistem viajam no tempo, em "formato clássico". O público está ao rubro. A potência engorda à medida que sorve o calor dos corpos que vibram. As luzes focam a Roulote, a música atinge-nos a tiro, recarrega-se a “munição. O tempo voa, fim do concerto: «Novas paragens, desenhamos noutro sentido».
Sábado: Com febre ou sem febre, “Giró Funk”! A espontaneidade da proposta desembarca na consumação duma festa ao ar livre, juntando várias pessoas que saem à rua atraídas pela descarga de ritmo dançante. Sábado é dia de liberdade, celebração, criação. As colunas da aparelhagem expelem o Funk que incendeia o espírito das gentes. A sessão é um sucesso. A adesão à música motivará certamente a Roulote a intensificar a sua aposta neste tipo de iniciativas. Sábado é o dia por excelência de se trabalhar o groove e como tal o trio demonstra estar ao nível do mais empenhado, qualificado e exemplar dos operários. Em qualquer parte, o Funk é o rastilho ideal para a transpiração dos corpos. As hostes não resistem, o Funk não pára, o dia é uma criança. Povo, o Funk voltou!
Raez, Logos e DJ Spark parece que só se reuniam aos Sábados à tarde para fazerem música e assim se pode encontrar a explicação para o nome do EP. Mas pode imaginar-se que a impossibilidade de se dedicarem em conjunto e todos os dias a esta forma de arte, tenha resultado numa gloriosa homenagem a cada dia da semana à luz desse desejo contínuo, exclusivo, de fazerem música. Foi nesse âmbito que delineei este roteiro pelo EP “Projecto de Sábado à Tarde” de Roulote Rockers. Neste trajecto, experienciei sensações que me eram desconhecidas nos caminhos do rap português. A rota traçada pela Roulote é de valorizar, estimar e tomar como exemplo. A sonoridade é propícia a fazermo-nos à estrada memorial, sempre tomando em atenção as futuras rotas que se desenharão no mapa. Um novo caminho é mostrado com recurso a paisagens e a lugares do passado. Com Roulote, os dias não são passados no trânsito deprimente. A Roulote soube levar-nos por atalhos que nos conduziram ao melhor dos sítios: a alma. Entendemos a sua “Definição” de rap, pulsou-nos na carne a gingada “Electrizante”, concordámos que o “Vício Chave” é para ser saciado, emocionámo-nos com os “Pedaços” de Funk e com as reminiscências Old-School, aplaudimos repetidamente a película “Spark Trek”, conscientes de que levamos em ombros todo aquele que “Aumenta a Munição”, porque o nosso desejo é claro e é direccionado ao DJ: «Giró Funk»! Ficou revista a semana perfeita de Roulote Rockers. Venham mais dias assim...
Domingo: dia de “Definição”. Para a maioria, o Domingo pode ser pachorrento e agonizante porque é véspera da odiosa Segunda-Feira, mas o primeiro dia da semana não é assim para Roulote Rockers. Para estes, é tempo de arriscarem os dedos e os tímpanos em experiências electrónicas, de brincarem livres com os flashes ruidosos da Guerra das Estrelas, enquanto o ritmo é ditado por uma incansável batida que obriga a nossa cabeça a dizer-lhe “sim, sim, sim”, repetidamente. Domingo é por natureza aquele dia em que se traça um plano para que a semana corra sobre rodas. Dessa forma, a Roulote circula pelas ruas, neste Domingo soalheiro, sem nada a temer pois o seu plano está bem alinhavado. Os passageiros seguem de cabeça levantada, as rodas estão bem assentes no alcatrão e há tranquilidade em cada quilómetro que galgam pois, como diz Logos, têm o “crédito da rua”. A estrada que percorrem não tem crateras como a Lua mas tem invariavelmente a sujidade terrena. O que até se liga a Raez, já que se revela um compositor musical fadado para fabricar batidas agradavelmente sujas, gordas e sem resíduos de lixívia ou de cicatrizes deixadas por lipoaspirações. “Definição” é a exibição do trajecto escolhido por Roulote Rockers. Ficamos a saber para onde vão e temos vontade de ir com eles, pois ficamos cientes de que se dirigem para um sítio diferente. A semana e a viagem só agora começaram.
Segunda-Feira: dia “Electrizante”. Roulote Rockers passam o dia apostando num sentido revivalismo dos anos 80, bem cheio de electricidade, claro. O passado é a visão do paraíso para alguns. Assim, com a sua própria máquina de viajar no tempo, o trio mete mãos-à-obra e revisita a era que já lá vai: «Viajei pelos 80’s vi/ Todas as cores onde nasci/ Sonho eléctrico/ Pecado estético». Fisicamente, o passado é imperfeito porque não podemos voltar a ele, mas artisticamente isso é possível. Roulote Rockers são criadores e toda esta classe tem os seus feitiços para matar saudades do que lhes faz falta. Assim, eles para além de serem a cena são também a prova. É nessa memória do passado, desde J Dilla, a Michael Jackson, ao electro-funk, passando pelo boom bap rap, até à queda do Fascismo, que a Roulote encontra as coordenadas para recolher a força, a inspiração e a essência de que necessita. Segunda-Feira é dia de homenagear os tempos idos. Óptima dedicatória.
Terça-Feira: a jornada é dedicada ao “Vício Chave”. O quotidiano cria hábitos aos quais não se pode virar as costas. É nesta perspectiva que os membros da Roulote entendem que o sacrifício merece ser recompensado com o prazer que os corpos suplicam. Eles querem perder-se desenfreadamente nessa “overdose de sensações” que lhes é acenada. «Extâse único, sem preço», por isso se adora o vício. O clima de dependência adensasse para o ouvinte pelo efeito relaxante e pela visão de beleza que o instrumental nos faz ter. Perspectivamos inclusive a nuvem calmante que se avoluma no tecto da Roulote. Há dias de vício puro, de sadia repetição, de louca paz, de arreliável boa onda. Mesmo que arda na carne, arrisca-se a elevação ao céu. Esta Terça-Feira é tão cool!
Quarta-Feira: o dia encastela-se com a junção de saborosos “Pedaços”. Logos e Raez retalham a memória das suas vidas. O dia está agradável, com uma atmosfera tipicamente outonal. A praia está deserta e o sol morno beija-nos a pele. Tempo perfeito para se ver a nostalgia nas ondas do mar. A introspecção encontra terreno fértil para desenvolver raizes e fica mais quente o desejo de se agarrar a vida e a criação. “Pedaços” da vida são como a areia, resvalam-se das mãos, mas vale que se compartimentam na memória. A banda-sonora deste dia é inspirada pela fragância marítima e pelo borbulhar das ondas, num forte azul de subtileza e elegância. Fundamentalmente, a Quarta convida à catarse, que se consuma pela contemplação desse meditabundo oceano. Soberbo para se ouvir no crepúsculo.
Quinta-Feira: “Spark Trek” consta da agenda deste dia. Logos e Raez sentam-se confortavelmente nos bancos da Roulote e somente assistem ao espectáculo que DJ Spark proporciona. Actor principal, Spark interpreta a personagem dum gira-disquista cuja principal missão é salvar a vida a antigos vinis. Assim, DJ Spark tem de impedi-los, a todo o custo, que apanhem a fatídica doença do pó. Fazê-los rodar e rodar é garantir-lhes a sobrevivência que merecem. Sem medo de sujar as mãos, DJ Spark eleva-se pela alegria que oferece aos vinis, chegando por momentos a ver a sua cara reflectida neles, tal é o lustre que lhes dá. Nesta viagem cinematográfica, o papel desempenhado por DJ Spark é um êxito. “Spark Trek” é um filme cheio de acção, onde o protagonista não olha a meios para fazer saltar as faíscas das rodelas de plástico, quais antibióticos para a saúde delas. A plateia aplaude. Logos e Raez também, naturalmente.
Sexta-Feira: 24 horas em que “Aumenta a Munição”. À Sexta, a Roulote deixa o cheiro a alcatrão. Transforma-se em palco. Isso mesmo, dia de actuação de Roulote Rockers. A Roulote está parada mas sente-se a trepidação pela energia, emoção e entrega que se aplica aos preparativos. Hora de mostrar a magia, espalhar a palavra, riscar a música dos antigos e aumentar o volume da batida perfeita. A Roulote derreia-se com o peso de tanta qualidade. E Joe Crack nem está lá dentro porque teve uns afazeres em Nova Iorque. Mas o concerto bomba à mesma e as pessoas que assistem viajam no tempo, em "formato clássico". O público está ao rubro. A potência engorda à medida que sorve o calor dos corpos que vibram. As luzes focam a Roulote, a música atinge-nos a tiro, recarrega-se a “munição. O tempo voa, fim do concerto: «Novas paragens, desenhamos noutro sentido».
Sábado: Com febre ou sem febre, “Giró Funk”! A espontaneidade da proposta desembarca na consumação duma festa ao ar livre, juntando várias pessoas que saem à rua atraídas pela descarga de ritmo dançante. Sábado é dia de liberdade, celebração, criação. As colunas da aparelhagem expelem o Funk que incendeia o espírito das gentes. A sessão é um sucesso. A adesão à música motivará certamente a Roulote a intensificar a sua aposta neste tipo de iniciativas. Sábado é o dia por excelência de se trabalhar o groove e como tal o trio demonstra estar ao nível do mais empenhado, qualificado e exemplar dos operários. Em qualquer parte, o Funk é o rastilho ideal para a transpiração dos corpos. As hostes não resistem, o Funk não pára, o dia é uma criança. Povo, o Funk voltou!
Raez, Logos e DJ Spark parece que só se reuniam aos Sábados à tarde para fazerem música e assim se pode encontrar a explicação para o nome do EP. Mas pode imaginar-se que a impossibilidade de se dedicarem em conjunto e todos os dias a esta forma de arte, tenha resultado numa gloriosa homenagem a cada dia da semana à luz desse desejo contínuo, exclusivo, de fazerem música. Foi nesse âmbito que delineei este roteiro pelo EP “Projecto de Sábado à Tarde” de Roulote Rockers. Neste trajecto, experienciei sensações que me eram desconhecidas nos caminhos do rap português. A rota traçada pela Roulote é de valorizar, estimar e tomar como exemplo. A sonoridade é propícia a fazermo-nos à estrada memorial, sempre tomando em atenção as futuras rotas que se desenharão no mapa. Um novo caminho é mostrado com recurso a paisagens e a lugares do passado. Com Roulote, os dias não são passados no trânsito deprimente. A Roulote soube levar-nos por atalhos que nos conduziram ao melhor dos sítios: a alma. Entendemos a sua “Definição” de rap, pulsou-nos na carne a gingada “Electrizante”, concordámos que o “Vício Chave” é para ser saciado, emocionámo-nos com os “Pedaços” de Funk e com as reminiscências Old-School, aplaudimos repetidamente a película “Spark Trek”, conscientes de que levamos em ombros todo aquele que “Aumenta a Munição”, porque o nosso desejo é claro e é direccionado ao DJ: «Giró Funk»! Ficou revista a semana perfeita de Roulote Rockers. Venham mais dias assim...
hey!
ResponderEliminarum grande obrigado pelo texto. fiquei extremamente contente quando o li!
um grande abraco da Roulote!
spark
Valeu pelas palavras, Spark! :) Eu adorei o vosso EP. Continuem com força!
ResponderEliminarAbraço.