terça-feira, 28 de dezembro de 2010

R.D.E. Hip Hop Session @ Pin Up (27/12/2010)

Desde o início das actividades aqui do HIPHOPulsação que estamos habituados felizmente a assistir a grandes concertos com gente de nome cimentado na praça do nosso hip hop e até com algumas vedetas internacionais. Dia 27 de Dezembro de 2010, no Pin Up (onde já vivemos belas festas), foi diferente. Auto-propusemo-nos para ver um concerto com rappers que buscam um maior reconhecimento no movimento. Descermos as escadas do Pin Up foi, nesse dia, descermos literalmente a uma das alas onde se desenvolve algum do mais underground rap da área do Grande Porto. Moveu-nos a curiosidade de sentirmos o que estes rappers andam a arquitectar, a disposição de vivenciarmos a pureza de um ambiente mais familiar e fizemos gala de marcar presença nesta festa com o objectivo de nos descentralizarmos dos grandes eventos em que muitas vezes se repetem os mesmos nomes em cartaz e, claro está, tivemos o vincado propósito de darmos um aplauso de incentivo a toda uma nova geração nortenha que está a despontar.

RDE. A sigla intrigou-nos e desvendá-la foi uma satisfação: Rikos De Espírito. Na verdade, RDE é uma vasta família que compreende elementos de várias origens geográficas, unidos obviamente por uma grande causa comum: o hip hop. O conceito é bom pois promove a união (algo que muitas vezes falta no seio do movimento) e ajuda a que todos possam desenvolver o seu trabalho em conjunto, permitindo a que cada um individualmente obtenha, desde logo, de outros as impressões sobre aquilo que trabalhou.

As hostes iniciaram-se quando a casa já estava razoavelmente bem composta (assinale-se o facto de ser uma Segunda-Feira). O público é que se revelou algo tímido inicialmente, mas nada que o calor da festa não fizesse ultrapassar. Com Glowa como apresentador improvisado da sessão, o palco virou um corropio. Passariam por ali (se não nos falha a memória) Kog, Rogg, André 23, T-Raune, Ruela, Bacalhau, Paiva, DTM, Invicta (com o convidado especial vindo de Lisboa Karabinieri), Pikasso, Buli 2B, P1, DJ Santa Fé e ainda o próprio Glowa. Foram mesmo muitos, mas não foi impeditivo de rapidamente percebermos as credenciais que cada um transportava consigo.

Então eis o que sobressaiu: a coolness de Kog, a ambição de Rogg, a alegria de André 23, a firmeza de T-Raune, a consciência de Ruela, o swing de Bacalhau, o hipnotismo de Paiva, a pujança de DTM, o lirismo de Invicta, a paixão de Pikasso, a garra de Glowa, a curtição de Buli 2B e o empenhamento de P1. Estes três últimos tocaram em conjunto e verificou-se que de todos possivelmente serão aqueles que mais experiência possuem em palco, o que lhes permitiu captar melhor a atenção do público. A música debitada fazia parte dos trabalhos individuais de cada um ou mesmo temas de futuros projectos, bem como sons de compilações em formato mixtape como “Tudo Cá Para Fora”, que já conta com dois volumes.

Todos, sem excepção, que ali actuaram necessitam evoluir muito mais, quer em termos de trabalho musical como rappers ou produtores, quer em termos de labor em palco, de modo a puderem reclamar uma maior atenção de toda a comunidade hip hop nacional. Porém, como diz o poeta espanhol António Machado “o caminho faz-se caminhando”. Salvaguarde-se, no entanto, a riqueza de espírito de todos relativamente ao apreço evidenciado pela cultura hiphopiana. Perpassaram um flagrante amor ao hip hop e isso diz muito da tal riqueza de espírito que veiculam. E numa crise de valores como a que hoje em dia vivemos, possuir esse tesouro de alma e compartilhá-lo com os demais é de uma grande dignidade. Com humildade, com sacrifício, com trabalho e persistência, com “sangue, lágrimas, suor” como diz Chullage, todos podem lutar por atingir um patamar mais alto. Os grandes nomes de hoje em dia do rap nacional passaram precisamente por todas as situações e experimentaram todos os sentimentos que estes estão agora a passar. É só ouvirem “Retrospectiva de um Amor Profundo” de Sam The Kid, por exemplo. Dia 27 de Dezembro de 2010, no Pin Up, ouvimos de todos eles o tema que talvez sem darem conta tocaram, na verdade, em uníssono: a “Perspectiva de um Amor Profundo”. Oxalá evolua com o tempo para “Realidade...”. Por último, enviamos uma saudação especial à Rita, ao Pikasso e ao Glowa pelo acolhimento que nos dispensaram!

Rap & Futebol



Gabriel, o Pensador, rapper brasileiro virou empresário de futebol. Aí, Gabriel, traz o Diego Maurício do teu Flamengo para o meu FC Porto! Valeu! Confiram a matéria feita pelo MaisFutebol sobre Gabriel, o Pensador, e a sua activa ligação ao mundo do futebol:

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Reportagem dia 17 de Dezembro @ Hard Club

Os Reys do Hardcore

Uma das noites mais frias do ano na cidade do Porto acabou por se tornar (muito provavelmente) na noite mais quente de 2010. Estranho? Só mesmo para quem não se deslocou à sala 1 do Hard Club na última sexta-feira, dia 17 de Dezembro.

As ruas da Invicta sopravam uma aragem realmente gélida, cortante até, nada convidativa a grandes voltas ao relento portanto. Se houve quem optasse pela recolha no respectivo lar, cedendo à calorosa (e reconfortante, admita-se) companhia da lareira, muitos foram aqueles que arriscaram uma ida ao Hard Club, sem que este necessitasse de emitir qualquer sinal de fogo. Na verdade, o cartaz continha nomes capazes de garantir um espectáculo fumegante do início ao fim, com promessa de um desfecho em labaredas, ou não fosse "Ante Up" a partícula do programa mais ansiada pela maioria da plateia e previsivelmente o momento mais marcante de toda a noite. Mas comecemos pelo... início.

Quando os ponteiros apontavam para a uma da manhã já SlimCutz riscava pratos e cuspia autênticos bafos cálidos pelas colunas que serviam como descongeladores dos corpos algo enregelados que entravam pela maior sala do Hard Club. A selecção musical escolhida pelo DJ de Monstro Robot foi mortífera, sacando sucessivas malhas que garantiam a satisfação geral. Contudo, com o ambiente ainda algo tépido, a dupla Each/Chek foi chamada a palco por Maze, o host do evento. O grupo portuense, sabido da importância do espaço e da própria noite festiva, esmerou-se por proporcionar ao público presente um serão animado. Foi notório da parte dos dois Mc's uma constante preocupação em contagiar a plateia com algumas das rimas mais puxadas de ambos. Os muitos admiradores de Enigma aderiram e vibraram bastantes vezes, o que indicia que saíram satisfeitos com a actuação de Each e Chek. Deixando de fora do alinhamento alguns dos temas mais conhecidos do seu repertório, o duo tocou faixas mais recentes, simulou um assalto de Chek à casa de Each e ainda convidou Kayn (Caixa Toráxica) e Asek a fazerem parte do show. Na hora de recolher ao backstage ficou a ideia de dever cumprido.

Seguiu-se um momento particularmente especial, tanto para os aficcionados de rap tripeiro como para o próprio interveniente dos minutos que se seguiram. Rey, MC bastante querido entre a massa adepta da Invicta, trocou por instantes os States para marcar presença nesta cerimónia no Hard Club. E foi assente numa bicicleta caracteristicamente norte-americana que Rey irrompeu pelo palco, para gáudio do povo. A expectativa quanto à performance do rapper era evidente, sobretudo pela longa ausência dos grandes palcos. Rey esteve descontraído, bem humorado q.b. e com um à vontade perante a plateia arrebatador. E não se pense que essa descontracção foi sinal de menos entrega, bem pelo contrário! O rapper de Gaia afastou qualquer pressão que pudesse sentir e fez da sua actuação uma verdadeira festa. Pegou em sons mais velhos para os desenferrujar, aproveitando também a estadia para colocar em práctica as suas últimas participações em trabalhos alheios, contando para isso com a ajuda de Birro e Rato 54. À postura acutilante, Rey fez-se valer de um discurso assertivo, com mensagens fortes e mostrando sempre uma fácil interacção com a plateia.

A dada altura pediu silêncio ao público (a quem ironicamente chamou de “chato”) para contar uma história. História essa que se desenrolou em modo acapella, bombeada pela sua “língua de veneno”. Para quem tinha saudades de Rey, o mínimo que se pode dizer é que a prestação do rapper foi contagiante, num regresso a uma casa onde actuou várias vezes (na outra margem do Rio Douro, obviamente). Para desfecho da performance, soltou-se o tema obrigatório para um regresso mais que perfeito: “Foda na Moda”. No palco surgiram os camaradas habituais de Rey, entre eles, Mundo, Ex-Peão, Ace, Birro, Boinas e Rato 54. A actuação de Rey mereceu justamente todos os aplausos que recolheu. Posto isto, não há como fugir ao trocadilho fácil: Rey foi... rei na noite de 17 de Dezembro.

Dono dos tempos mortos, DJ SlimCutz ia contemplando a plateia com uma série de clássicos que nem dava tempo para respirar fundo (pareciam bombas a cair no meio da multidão). O intervalo entre a saída de Rey e a entrada de Mundo Segundo foi um pouco mais prolongado devido a Deau. Ao contrário do previsto, o jovem rapper só actuou depois de Mundo e Rey, isto porque tanto ele como os americanos M.O.P. haviam constado na versão lisboeta do cartaz da mesma noite, o que os obrigou, naturalmente, a um esforço extra. Nada incomodado com isso, Mundo surgiu pouco depois das 3h30 para mais um show no Hard Club. Acompanhado (como é hábito) por Each, o MC dealemático com o currículo mais preenchido apresentou-se igual a si próprio, com a habitual comunicação com o público e os sons que todos conhecem na algibeira, intercalados com alguns temas novos. A presença de Rey na casa foi aproveitada para exercitar ao vivo a faixa conjunta pertencente à mixtape “Mike Phelps” - com Rato 54 também no grupo, o mesmo sucedendo-se com os sons “VNG” e “Rudes”. Foi um concerto em que Mundo esteve mais acompanhado do que nas suas últimas actuações, tendo a seu lado amigos de longa data do Segundo Piso, acabando numa acapella com rimas ao seu bom estilo.

Cerca de cinco horas depois do showcase em Lisboa e da (consequente) viagem de regresso ao Porto, Deau apresentou-se no antigo Mercado Ferreira Borges para uma sessão de improviso. Estabelecendo-se cada vez mais como um dos pesos pesados da improvisação em Portugal, Deau mostrou novamente argumentos que fomentam esse mesmo rótulo. Não foi uma sessão longa (não ultrapassou a meia-hora) mas a entrega do jovem rapper manteve-se linear com o que vem mostrando em cada show. Dêem-lhe um microfone, soltem um beat e o resto é com ele. Arguto como poucos, foram escassas as vezes que hesitou na rima, sinal de que se sente como peixe na água no improviso. Para surpresa dos presentes, os minutos finais foram guardados para novos temas que irão, ao que tudo indica, fazer parte do primeiro álbum a solo de Deau. Com mais ou menos fervor, a sua prestação foi positiva e bem correspondida pelo público. “Soube a pouco”, dirão alguns.

Pouco mais de dez minutos para as cinco da madrugada e entra DJ Laze E Laze para a mesa dos pratos. Afinada a maquinaria, Laze E Laze começa desde logo a disparar instrumentais de DJ Premier (a quem o duo Mash Out Posse deve muitas das suas batidas). A sala mantém-se praticamente cheia. Apesar disso, as primeiras palavras de incentivo do disck-jokey oficial de M.O.P. não têm a resposta esperada. Poucos minutos depois solta-se “Cold As Ice” e avista-se a dupla de MC’s mais desejada da noite. Ao contrário do título do tema, Billy Danze e Lil’Fame (com a bandeira das quinas na cabeça) são presenteados com uma calorosa recepção e a faixa caiu como lume num rastilho que incendiou uma plateia nada preocupada com o aumento dos graus Celsius no espaço (houve mesmo quem sentisse no corpo a falta de tensão).

Qualquer descrição do concerto dos M.O.P. neste texto poderá ser escassa tendo em conta o que verdadeiramente se viveu naquela sala! Momentos de pura loucura, de histerismo, de prazer e satisfação absoluto! A entrega do duo foi sublime, assim como a correspondência da plateia, num diálogo que se pode considerar perfeito para qualquer artista. Os sons foram-se desenrolando, tendo sido percorrida a rica discografia do grupo de Nova Iorque e os sons mais célebres da mesma, intercalados por alguns hits de outros artistas como Jay-Z ou Bob Marley. Tal como se disse atrás, a comunicação dos M.O.P. foi exemplar, puxando recorrentemente pelo público, brincando com este, mas não deixando porém de transmitir algumas opiniões sérias acerca do Hip Hop e dos problemas gerais do Mundo. George Bush teve direito a ser “mimado” em uníssono, assim como DJ Premier e Guru. Depressa se ouviu a faixa “Who Got Gunz”, seguida de “Calm Down”. A pedido dos emcees ergueram-se dezenas de isqueiros para a passagem fervorosa de “Fire”.

As músicas de M.O.P. são duras e o estilo é mesmo hardcore. Os beats, esses, parecem morteiros carregados de granadas que incendeiam qualquer sistema sonoro. E foi isso que se sucedeu no Hard Club. Uma noite inflamada por dois respeitados rappers americanos que mesmo com uma performance poucas horas antes na capital conseguiram contagiar toda uma plateia e implementar um verdadeiro clima de festa. Como complemento, DJ Laze E Laze largou a sua mesa, pegou no mic e fez-se um mestre de cerimónias improvisado, encarnando outros artistas como Fat Joe, Busta Rhymes ou até mesmo Eve. Com o espectáculo ao rubro já se fazia a contagem decrescente para a malha das malhas, o beat dos beats, o final de todos os finais. "Ante Up" acordou perto das 6h da matina com o público ainda bem desperto e com a pujança suficiente para instalar um verdadeiro pandemónio na sala com epicentro na frente do palco. Impressionante!! Parecia que o fim do mundo tinha chegado com dois anos de antecedência! Um desfecho impetuoso mas nada que ninguém não esperasse. Já depois das actuações, DJ D-One encarregou-se da música até ao fecho das portas.

A última grande festa do ano de Hip Hop no Porto pode muito bem reclamar para si todos os holofotes pois foi responsável pelo momento de maior clímax dos últimos anos! "Ante Up" e todo o resto do concerto de M.O.P. será por certo recordado por muito tempo. Billy Danze e Lil' Fame chegaram sobrecarregados com a actuação de Lisboa mas no Hard Club ninguém deu por isso. A atitude e entrega de ambos não merece o mínimo reparo e o alinhamento foi programado de forma a manter o entusiasmo elevado. Esta passagem de M.O.P. por Portugal foi um marco de relevo no que a concertos diz respeito. Para início de espectáculo, os Enigma estiveram certinhos e não claudicaram. Rey foi imperial no mic, patrão no palco e líder das actuações nacionais. Mundo manteve as hostes sintonizadas e quentes, já Deau exercitou o improviso a meias com a apresentação de novos sons. Luzes apagadas e trancas à porta, que 2011 traga muitas noites de Hip Hop como a de 17 de Dezembro de 2010.

17 de Dezembro @ Hard Club (vídeos)







quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Primeira aposta da Barca D'Arte: Cálculo

A Barca D'Arte, uma nova promotora de eventos em Barcelos, vai iniciar a sua actividade cultural com o hip-hop cá da terra. Cálculo, projecto de Hugo Martins, outrora DST, é a aposta para o primeiro concerto. A 8 de Janeiro, no auditório do Círculo Católico de Operários de Barcelos, espaço recuperado que estará em crescimento de actividades culturais no próximo ano.

Segundo a Barca D'Arte, o objectivo é "dinamizar a cultura da nossa cidade, realizando eventos relacionados com as mais variadas formas de expressão artística".

Mais informações sobre este e outros concertos da promotora em breve.


quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

É já na sexta!

Bilhetes à venda nas lojas Fnac, Worten, C.C. Dolce Vita, El Corte Ingles, Lojas Megarede, Agência de Viagens Abreu, Lojas Megarede, Hard Club e Maze Streetwear.

Novidades nacionais em vídeo


Realização: Moopie Videos
Instrumental: DJ Gijoe
Álbum "Algazarra"


Realização: Markez236 (Ghettolandia)
Instrumental: Madkutz
Mixtape "NGA vs Madkutz Vol.2"

domingo, 12 de dezembro de 2010

Reportagem: Orelha Negra no Plano B (Porto)

11/12/2010. Com a vinda de Dezembro, o frio enregela o corpo e são muitas as pessoas que procuram lojas de electrodomésticos para adquirirem aquecedores que lhes esquente os músculos e ossos. Mais fácil seria (e barato!) comprar o CD de Orelha Negra ou assistir a um concerto deles. O encontro com o calor seria uma garantia, existindo o bónus da quentura se alastrar à alma! No coração, o incêndio é, desde logo, inextinguível!

A HIPHOPulsação crew assistiu no Plano B, no Porto, pela primeira vez a um show de Orelha Negra. Não foi necessária uma grande ginástica mental para se perceber que a casa seria demasiado pequena para albergar todo o público que desejava sentir o groove dos cinco violinos. Perdão, cinco magníficos. De facto, o Plano B esteve rebentando pelas costuras, com muita gente a querer comprar ingressos à última da hora para o espectáculo e, ao invés do rectângulo mágico, deparou-se com um dilacerante “esgotadíssimo”!

Como referido, era difícil alguém conseguir mover-se no meio da assistência devido à elevadíssima concentração de corpos por metro quadrado. Muitos terão pensado: «Ó meu Deus, como é que eu danço agora?». A interrogação tem absoluta razão de ser. É que escutar a música de Orelha Negra e não se sentir imediatamente impelido a mexer a cabeça, tronco e membros, só está ao nível dos mais insensíveis à arte musical e dos portadores de veias de gelo, por onde não correm sentimentos e emoções.

Eis que os artistas irrompem pelo meio do público, em direcção ao palco (onde arranjaram espaço para abrir alas? Crê-se que os artistas têm uma faceta sobrenatural, mística, mas nunca pensámos presenciar in loco uma travessia de Orelha Negra semelhante à do Mar Vermelho!). Analogias à parte, certo é que a partir dali tudo foi felicidade. O espectáculo começou. Ali em cima, só a música. Dona e senhora da noite, a única boca dos artistas. Mais nenhuma outra se ouviu dos intervenientes. E ninguém se importou! Porque as colunas debitavam o lume último para nos levar à catarse através da embriaguez sonora e pelo escorrimento de suor pelo corpo.

Orelha calcorreou o seu disco, atiçando-nos a adivinhar qual era aquele sample ou aquela voz que saía da MPC e que nos estava ora na ponta da língua, ora debaixo dela, não nos ocorrendo o nome para verbalizá-lo... Mas em tudo, um intenso prazer a derreter-se como chocolate na língua dos nossos ouvidos! Não se estranhou que em palco estivessem não somente os cinco integrantes de Orelha Negra e toda a imensidão de gente que vive na sua música, mas também convidados especialíssimos como De La Soul ou Prince Paul ou The Whatnauts, Beyoncé e Jay-Z ou Rich Harrison ou Chi-Lites, Jake One ou Space, Noora Noor, MC Hammer, Snake...

Passou cerca de uma hora de concerto. Mais pareceu dois minutos. Acaba rápido o que é bom, não é? E em sessenta minutos tanta memória que fez clique dentro de nós! Um teclado, um baixo, uma bateria, uma MPC, uns Technics, funk de fino recorte, soul apaixonada, jazz chique, música portuguesa, samples, loops, breaks, tudo disposto numa paleta harmónica e nas mãos certas e engenhosas... Facho de vício que nos deixa os ouvidos e o corpo a ressacarem por mais uma experiência ao vivo com Orelha Negra!

sábado, 11 de dezembro de 2010

Novo logotipo do HIPHOPulsação

É com grande prazer que apresentamos o novo logotipo do HIPHOPulsação da autoria de Fisko, a quem muito agradecemos!

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Sábado, 11 Dezembro - Orelha Negra @Plano B

Já no próximo dia 11 de Dezembro, os ORELHA NEGRA estarão pela primeira vez no Porto, após o lançamento do seu primeiro álbum. O Plano B será a sala que os acolhe para mais um espectáculo surpreendente!

Os ORELHA NEGRA são um colectivo de 5 elementos - Cruz (DJ/ Scratches), Ferrano (Bateria), Gomes Prodigy (Teclados, Sintetizadores), Mira Professional (Samples/MPC) e Rebelo Jazz Bass (Baixo, Guitarra).

Juntos formam uma célula poderosa que debita groove, breaks, samples e loops com a autoridade de quem não chegou aqui agora. Simplesmente contagiante.

O seu som torna-se ainda mais viciante nos espectáculos ao vivo, onde se cria um ambiente de alta sinergia com o público.

Com vários concertos memoráveis na bagagem (Cinema S. Jorge, Festival Sudoeste, Curtas de Vila do Conde, entre outros) e um disco que mereceu os maiores elogios por parte da Imprensa, os ORELHA NEGRA prometem continuar a surpreender.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Novo videoclip: Dealema



Produção vídeo: Riot Films
Faixa: "Olhos de Vidro"
EP "Arte de Viver" - Março 2010

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

30 Novembro @ Hard Club



O Hard Club recebeu na última terça-feira mais uma festa de bom rap. Rap da Invicta, de Lisboa e dos EUA. No fundo, só uma língua foi falada na noite de 30 de Novembro. Desta vez não trazemos o retrato escrito do evento, mas não deixamos de mostrar algumas filmagens do mesmo.



Beware Jack - Mete-me à Prova (vídeo)

Kilú - "Um outro lado da versão" (2002)


Por iniciativa da Andreia Quaresma (Illegal Promo), o rapper Kilú aceitou descrever - oito anos depois - a fase de confecção do seu único álbum, "Um outro lado da versão". Um disco peculiar do rap nacional, que parece ter marcado muita gente mas que tende muitas (demasiadas) vezes a ser esquecido.

Para todos aqueles que nunca o ouviram na íntegra, segue o link para download gratuito (com o consentimento do artista), assim como o texto publicitário da rubrica em questão.


'Um Outro Lado da Versão' é considerado por muitos um verdadeiro clássco. Um álbum que nos emocionou e faz parte das nossas vidas até hoje, de uma maneira muito especial.
Apesar de ter sido lançado há alguns anos, ainda hoje nos passa um sentimento puro, que só os verdadeiros amantes de Hip-Hop podem sentir.

Quem não conhece, tem agora a oportunidade de ouvir um álbum de culto, de um dos melhores MCs/Produtores de HipHop.
Kilu faz parte da super colectivo de Hip-Hop/Jazz/Soul 'Elefant Soul e já trabalhou com Valete, J.Cap, entre outros pesos-pesados.
Sintam e consumam este álbum, vale mesmo a pena.


Kno - ""Death Is Silent""



"Death Is Silent" é o mais recente projecto a solo de Kno (do trio Cunnilynguists). Com produção integral de Kno, o disco foi editado a 26 de Outubro e conta com o single "La Petite Mort (Come Die With Me)”, lançado recentemente em vídeo, fechando com a faixa "The New Day (Death Has No Meaning)"

Hip Hop in your brain!


Novo som AVC (Haka, Sarcasmo, Spasm & Dj Profail) - Brother Jack (prod. AVC)

Brother Jack (prod. MCF) by AVC Crew

M.O.P. - 17 Dezembro @ Lisboa & Porto

Fashawn x2



DJ Spark - "Dichotomy"



O já anunciado álbum de DJ Spark encontra-se alojado no bandcamp há cerca de duas semanas. "Dichotomy" é um composto de 20 faixas com alguns convidados: Sky, Eric Najar, Renato Martinho e Liga de Cavalheiros Improváveis.


Aqui fica a press release do trabalho, que seria mais uma press release se não fosse assinada pela Jinx:

Spark é meio hominídeo, meio maquineta. Meio 12", meio Serato. Meio sintetizador, meio bateria.

Completamente DJ, completamente produtor.

"Dichotomy" é o resultado de dois álbuns de que Spark produziu, um no seu computador portátil, outro dirigindo uma orquestra sinfónica, e que colidiram num acelerador de partículas providenciado pelo omnipotente Jinx. Spark proibiu-nos de catalogar o seu álbum com um género musical, mas diversos membros da Monster Jinx sugeriram "Sparkstepnbasshop" como definição para a sua sonoridade. Ou "Serralharia Hop". "Camiãocomlâminasepropulsoresajactostep" também teve muitos votos, tal como "Faíscaunk Espacial".

O conhecido vilão Duas-Caras já se pronunciou fã confesso.

Aviso: Desaconselha-se vivamente a audição de "Dichotomy" por parte de pessoas com problemas de bipolaridade.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Eles vão passar por cá! (parte IV) [Editado]

M.O.P. - 17 de Dezembro:
Porto (Hard Club)
Lisboa (Mercado da Ribeira)
(Sim, no mesmo dia!)

26 Novembro @Hard Club

1ª Linha Apresenta:
Beat Torrent (Fr)
Lexicon (Usa)
Mind da Gap
DJ Nel'Assassin
DJ SlimCutz feat. SimpLe

Jimmy - Dope Boy (videoclip oficial)



Realização vídeo: Nuno "VideoJunk" Marques
Instrumental: Celso D-Masta
EP "A Caminho da Lua"

Segundo single de "Utopia"

Na minha opinião, a melhor passagem do último disco de Expensive Soul está agora retratada em vídeo.

sábado, 13 de novembro de 2010

Nexus - "Mercúrio"




Após ter descido à terra e fundado a editora Monster Jinx, o monstro Jinx deslocou-se a Vila de Nova de Poiares, sombria vila do distrito de Coimbra, para recrutar para as suas fileiras o obscuro produtor Nexus.

Hoje, é revelado ao mundo o seu trabalho de estreia, o EP "Mercúrio", que conta com participações de J-K, Haka, Nerve, Stray e Dj SlimCutz (devidamente gravadas no planeta Mercúrio, cortesia das capacidades de manipulação do espaço e do tempo de Monsieur Jinx e dos veículos de viagem espacial amadores que se fabricam secretamente nos montes mais recônditos de Poiares).

Nas palavras de Jinx, "o estilo do Nexus é semelhante à análise microscópica do que acontece quando um termómetro se parte".
creditsreleased 10 November 2010

Produção: Nexus
Artwork: Min

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Valete - Holofotes



Faixa nº4 da compilação "Hip-Hop Series Vol. 2" e música oficial do filme "Quero Ser Uma Estrela". A produção é da responsabilidade do brasileiro Nave e os arranhões foram cometidos por DJ Assassino a.k.a. Nel'Assassin.

DJ Link & NBC - Dá-me Uma Chance (vídeo)

A linha Soul/Funk do disco de estreia de DJ Link está bem estabelecida no primeiro vídeo "Dá-me Uma Chance" com contributo de NBC (onde não faltam as vestes e cabeleiras afro singulares da década de 70).

"Long Play" tem edição marcada para o dia 22 deste mês e na lista de convidados estão, entre outros, Os Funks, João Pina, Marta Ren, New Max e Milton Gulli.

sábado, 6 de novembro de 2010

Jimmy P. - "A Caminho da Lua"

Depois da série Live On Stage (sempre com o carimbo Ilegal Promo), Jimmy P. a.k.a. Supremo G segue "A Caminho da Lua", o que é o mesmo que dizer que segue a caminho de um EP de 7 faixas, que terá o contributo de alguns dos seus camaradas (tais como Rusty e Celso D-Masta) e começará a ser distribuído em formato independente a partir de Dezembro.

Para já, e para saciar um pouco os ouvidos mais famintos, surge uma breve amostra do single "Dope Boy". Para a semana há mais...



Realização: Nuno "VideoJunk" Marques
Beat: Celso D-Masta
Masterização: Michael Ferreira

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Brand New: Kanye, Talib, Twista & Brother Ali



G.O.O.D. Friday
consiste em liberar todas as sextas-feiras (até ao natal) um novo som. Na última sexta, Kanye West deu a conhecer a parceria com Pete Rock, Jay-Z, Charlie Wilson, Curtis Mayfield e KiD CuDi. O instrumental pertence a Pete Rock, que até fez uso de um sample reconhecível noutro som ("Give it to ya").



Year Of The Blacksmith Community Mixtape é uma compilação em formato mixtape que reúne faixas de Talib Kweli, de outros artistas e até produções de fãs escolhidas através de uma competição. A acompanhar Kweli em "1st Time" está Consequence, em cima de um beat gerado por William Diggs (a voz do sample é do inigualável Marvin Gaye).



Correspondente ao próximo disco de Twista (The Perfect Storm), "The Heat" tem bónus: The Chef a.k.a. Raekwon.



A música "Breakin' Dawn" não é nova (fez parte do último álbum de Brother Ali editado há pouco mais de um ano), mas é retratada agora num videoclip, sem o rapper albino, mas onde a capa do disco parece ganhar vida.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Ekilibrio - "Mão na consciência"

Com trabalhos registados anteriormente (tais como "Alquimia Sonora" ou "Sentimento Puro"), Ghandim (MC que divide protagonismo com Royal Nigga como duo Punhos Cerrados) volta a disparar, desde Vila Real, novas rimas e novos beats. Agora como Ekilibrio, ao lado de Louco, mas sempre com uma equipa em comum: Brigada Real. Com produções instrumentais divididas entre Ghandim e MZ, conta ainda com Royal Nigga e o próprio MZ na lista de convidados vocais. "Mão na consciência" é o projecto e tem 13 faixas para consumo gratuito.

Saigon - You make me sick

AVC - "SóFaixas Vol.1"

Assim nos apresentamos, para quem nos conhece não será novidade, para quem não nos conhece será. AVC não é uma banda, não é um gang, não é nada, AVC é somente um grupo de amigos que por acaso também tenta fazer música.

Haka é AVC, Sarcasmo é AVC, Spasm é AVC, Profail é AVC.

AVC é o nome que tomámos como nosso, para que nos cartazes dos nossos concertos não aparecesse Haka + Sarcasmo + Spasm + Dj Profail.

AVC é tudo o que fazemos, e quando o fazemos vem para aqui, para o SóFaixas. Aos mais atentos não estamos a trazer nada de novo, e nada do que aqui está é novo, é renovado. Será sempre assim, sempre que reunirmos faixas para isso surgirá um novo volume do SóFaixas, porque isto não é um álbum, não é uma mixtape, não é novidade, são só faixas.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Reportagem: 1ª "Hard Club Hip Hop Sessions" (22/10/2010)

Nos finais da década de 90 – considerada a época dourada do Hip Hop – surgia em Portugal a primeira versão das então denominadas “Nova Gaia Hip Hop Sessions”, muito graças à intervenção decisiva de Mundo Segundo (um dos grandes impulsionadores da cultura Hip Hop no nosso país). Ao longo de cerca de dez anos, o Hard Club foi um importante berço para inúmeros artistas, numa altura em que grande parte deles ainda gatinhava no rap. O espaço foi, com o passar do tempo, adquirindo o simbolismo de uma espécie de Meca do Hip Hop nacional situada a norte, numa época em que o Hip Hop português ia também ele ganhando notoriedade no panorama musical.

Porém, as festas que se tornaram míticas na promoção da cultura (até porque não só abrangiam o MC'ing, como também as restantes vertentes) teriam a sua última sessão em 2006. Desde aí, as “Nova Gaia Hip Hop Sessions” passaram a ter vida apenas na memória de todos aqueles que as testemunharam e que dificilmente esquecerão o fervor daquelas noites. O Hard Club, esse, por muito que aguardasse por novas edições, acabaria destruído (por razões que o tempo apagou) e abandonado, restando-lhe a bela paisagem do Rio Douro como consolo. Com o edifício não só se ruíram momentos históricos do Hip Hop português como também de outras faunas musicais, fruto do enorme ecletismo do espaço.

Na última sexta-feira, dia 22 de Outubro de 2010, o Hard Club voltou a abraçar uma "Hip Hop Session", não só refeito no nome das novas festas, como também na sua localização, que o dista das velhas instalações pouco mais de uma ponte. Gaia já faz parte do passado, tal como o Mercado Ferreira Borges, edifício histórico do Porto que mantinha as prácticas de animação cultural após o término do dito mercado e que continuará com os mesmos pretéritos agora como Hard Club. A mudança do espaço físico será mesmo a única alteração desejada, esperando-se que o HC marque as noites portuenses tal como marcou as de Gaia. Desejo esse que se estende, obviamente, ao Hip Hop, que até já teve a sua primeira grande festa há cerca de duas semanas, na memorável noite de sexta-feira, dia 8 de Outubro.

E que tal estrear o primeiro capítulo das "Hard Club Hip Hop Sessions" com velhos conhecidos dos antigos serões? Dito e feito. Body Rock Crew (DJ D-One, Deck'97 e Maze), M7, Barrako 27 (com DJ Guze), Sagas (com DJ Nel'Assassin) e Terrorismo Sónico (Mundo e Ex-Peão). Todos estes elementos conheceram de perto (uns mais que outros) o palco de Gaia, e todos eles esperariam, por certo, entrar com o pé direito na nova casa. Dito e feito, novamente. Na pista esteve ainda o colectivo de B-Boys Zoo Gang e, num palco exterior à sala, Mr.Dheo representou as cores do graffiti.

Com o despertar marcado para depois da meia-noite, a festa começou algo fria. Na tentativa de aquecer o ambiente, esteve o trio Body Rock Crew que, como vem sendo recorrente, foi chamado para agitar o início, os intervalos e o fim do espectáculo com as suas malhas carregadas do bom gosto que o caracteriza. Poucos eram os presentes no interior da sala 1 e já Mr.Dheo coloria no exterior três telas alinhadas para o efeito. Verdade seja dita: o primeiro impacto de quem entrava no edifício era da performance do writer de Gaia, no entanto, a mesma parecia simultaneamente algo distante da festa devido à localização do palco de actuação. Quem lá se dirigiu pôde atestar bem de perto um pouco da habilidade de um dos mais simbólicos writers de Portugal.

Com a sala principal ainda pouco povoada, os Body Rock Crew deixaram os pratos para DJ Nel'Assassin, que veio para acompanhar Sagas mas também para riscar discos a solo. Maze foi o host da noite, e foi ele a chamar M7 ao palco. Pode-se dizer que a actuação da MC foi mais do mesmo. E isso é mau? Não necessariamente. Com M7 esteve a companheira do costume (Capicua) e das colunas saíram os temas do costume, da mixtape do costume ("Martataca"). E porque é que a performance não foi aborrecida? Porque M7 não é aborrecida, tem tudo menos falta de força e genica, é capaz de atrair a atenção de uma sala inteira e revela boa escolha de instrumentais.

Foi com "Rainha" que se deu a primeira trinca nas palavras apimentadas de Marta Isabel a.k.a. M7. Se havia alguém na plateia que nunca tinha provado o sabor das suas rimas, por certo se alarmou num instante. Insurrecta como sempre, M7 não é mulher de falinhas mansas, bem pelo contrário, facto que pode agradar a gregos mas não a troianos. Já a colega Capicua é o oposto, o que acaba por servir como complemento. Mais cuidadosa naquilo que diz, Capicua também exibiu, por exemplo, a faixa "7 Dias", da sua mixtape "produzida" por DJ Premier. Numa actuação conjunta que teve os seus altos e baixos a nível de correspondência do público, M7 e Capicua contaram com DJ D-One nos pratos e acabaram em clima de festa ao som de "Ooh Wee" de Mark Ronson.

Intervalo no palco, início de show na pista. A plateia agita-se, forma num ápice uma roda onde os elementos do Zoo Gang se posicionam. Ao longo de largos minutos os B-Boys acariciaram o solo da forma menos ortodoxa possível, pois é daí que provém o espectáculo. Ao som de batidas que nos relegaram aos tempos primórdios do Hip Hop, a exibição de Zoo Gang foi um regalo nesta noite de cerimónia, embora a actuação não fosse visível a todos os presentes (só mesmo para quem cercou de perto a roda). Verdadeiro espírito de festa de Hip Hop! Seguiu-se Barrako 27, com Speg e seus tropas. À espera deles estava uma legião de adeptos que desde o primeiro minuto se fez ouvir na sala. Com uma entrada encenada com percussionistas e uma violinista, Barrako 27 partiu para um concerto emotivo e bem acolhido em grande parte da audiência, que, a esta altura, já ultrapassava a meia lotação (que ronda as 800 pessoas).

"De Cabeça Erguida" é um dos últimos trabalhos de Barrako, em parceria com DJ Guze, mas o alinhamento não se limitou ao EP, nem podia. "Abraço Forte" foi provavelmente a passagem mais sentida de todo o show, pois teve o condor de fazer Né descer do palco até junto dos seus seguidores e, rodeado dos mesmos, debitou as rimas dessa faixa incontornável do seu repertório. Nota para a interpretação do jovem Koffy Jr. (do colectivo trofense TRF) em "No Fundo (Do Túnel)" e para o êxtase e interacção constantes com o público em outras faixas como "Bla Bla Bla". Antes da retirada de Barrako 27, eis que dispara o som que todos aguardavam ouvir naquele preciso momento: "Saudoso Hard Club", pois claro. A plateia fez Né sentir-se verdadeiramente em casa, o que o deixou visivelmente feliz e emocionado e com o ego elevado. A prová-lo está a tirada a dada altura do concerto: "Depois de Dealema, eu fiz o melhor álbum português!".

De Carcavelos até à Invicta, Sagas veio trazer uma nova fragrância ao Hard Club, sem sotaque tripeiro mas com uma mistela de português e crioulo. Nada que fizesse confusão aos presentes. A sintonia entre o rapper e Nel'Assassin é evidente e reflecte-se na performance de ambos. Não foi um show só de Sagas mas também de DJ Assassino. Este último pôde dar a conhecer algumas malhas da mixtape "Mike Phelps" que, garantia do próprio, estará (finalmente) para sair em breve. Nela, o DJ e produtor irá revelar uma outra faceta: a de MC. Compelido por uma batida de Alchemist, Nel'Assassin rimou mesmo no Hard Club. O seu talento para as rimas pode ser imberbe mas nem isso o acanhou.

Sagas não trouxe alguns clássicos do seu primeiro álbum a solo, como "Anjo de Luz" ou "Quem És Tu?", mas também desvendou músicas novas. Uma delas, com base instrumental de DJ Ride, conta com um refrão que foi particularmente bem acolhido pelo público. Todo o concerto de Sagas foi pautado por uma animação constante, tendo o MC caído nas graças da plateia pela energia e boas vibrações disseminadas pelas suas canções. No rap de Sagas não mora a rima de teor sexual nem de estímulo à violência, reina antes a mensagem positiva e alegre. Mundo Segundo foi o convidado de honra de Sagas Demolidor para uma breve participação. Já o Sr. Alfaiate foi "obrigado" a participar numa batalha (aparentemente ensaiada) com o percussionista. Bom concerto de Sagas que atingiu um dos pontos altos com a malha "Som Pesado" (do álbum de Assassino "Reconstrução").

A última exibição da noite estava reservada para o duo Terrorismo Sónico. E Mundo e Ex-Peão conseguiram provocar o caos no Hard Club apesar do adiantado da hora e do previsível cansaço dos presentes. Cansaço? Puro engano! Os dois MC's dealemáticos gozam de uma popularidade e respeito na Invicta consolidados ao longo dos anos e, quer a solo, em duo ou em grupo como Dealema, contam sempre com uma fervorosa massa adepta na plateia. Esta tem as letras na ponta da língua e a empatia flui naturalmente. O primeiro álbum de Terrorismo Sónico, "1º Assalto", foi revisitado, mas também foi dado um cheirinho do seu sucessor, "Antes do Atentado". Os clássicos que marcam o repertório a solo de Mundo e Ex-Peão são sempre recebidos com grande impacto. "Pombas Brancas da Cidade" e "Real e Verdadeiro" de Ex-Peão ou "Puro Prazer" de Mundo, todas elas foram cantaloradas em uníssono. Especial foi o enlace de "Eles Andam Ao Cheiro" a meio do beat de "Bairro".

Por muito que se diga que o concerto foi inebriante, enérgico e empolgante, faltarão palavras para descrever a parte final do mesmo. Mundo e Ex-Peão tinham dado por terminado o alinhamento, mas a plateia não queria arredar pé do recinto, muito menos deixar de ouvir a dupla. Ora o desejo de um grupo de ferrenhos adeptos parecia só um: "Lei das Ruas". Desejo concedido, a música foi, não cantada, mas sim berrada a plenos pulmões: "Esta é a lei das ruas, filhos das p*tas!" Este ambiente escaldante deu azo a um endiabrado moche na frente do palco. E foi assim, em brasas, que terminaram as actuações. Daí em adiante a música voltou a rodar nos discos de Body Rock Crew.

Mais uma noite histórica no mês de Outubro que o Hard Club terá para contar mais tarde, isto precisamente quatro anos após o anúncio do encerramento do espaço de Gaia. As "Hip Hop Sessions" começaram oficialmente a agitar de novo a cidade do Porto e o Hip Hop nacional. Ao longo das próximas sessões é de aguardar o desfilar de novos e velhos talentos da nossa cultura, quer do MC'ing, DJ'ing, BBoy'ing ou do Graffiti. Zoo Gang e Mr.Dheo foram os primeiros representantes destas duas últimas vertentes. Body Rock Crew tomou conta dos pratos e dos momentos mortos da festa, que teve Maze como apresentador. Barrako 27 e Terrorismo Sónico foram os nomes mais aplaudidos da noite. Sagas teve uma actuação meritória e M7, apesar de não ter agarrado o público como os restantes, fez o que lhe competia. A sala 1 não esteve lotada mas contou com uma boa afluência. Ainda sem cartaz revelado, o próximo capítulo, diz-se, está para breve. As velhas festas no Hard Club estão mesmo para ficar.

sábado, 23 de outubro de 2010

30 de Novembro @Hard Club

Royce da 5'9"

Mundo e Fuse

Sir Scratch e Bob da Rage Sense

Kacetado

Berna

DJ Gijoe

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

"Hard Club Hip Hop Sessions"

- Terrorismo Sónico (Mundo & Ex-Peão)

- Sagas e DJ Nelassassin

- Barrako 27

- Body Rock Crew (Deck97 + D.One + Maze)

- DJ Guze

- M7

- Mr.Dheo (graffiti)

- ZooGang (breakdance)

- host: Maze

Entrada: 10€

Das últimas "Hip Hop Sessions" (2006) no velho espaço, em Gaia:

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Ripshop - "Hood Luv/Outta Jail"



Será um nome desconhecido para meio mundo, mas Ripshop entrou no jogo ainda na década de 90. "The Authenticity" é o seu mais recente álbum, numa aliança com o produtor Reel Drama. Recente é também o duplo vídeo para as faixas "Hood Luv" e "Outta Jail".

Rest In Peace, Eyedea!


"I Walked away, walked away, walked straight into heaven..."
(Eyedea a.k.a. Oliver Hart - "Step by Step")

O Queque Queres Queute Diga




Beat Flesha
Bass MCF
Misturado e Masterizado por Manuel San Payo

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Mixtape Praso "Otempo" Jones

Praso acaba de lançar uma mixtape totalmente gratuita no seu novíssimo site. Tive o prazer de fazer uma biografia deste rapper e produtor de Sines. Quem não conhecer Praso, tem aqui a chance de saber um pouco mais sobre o seu percurso artístico:

Em 1983, ano em que Michael Jackson apresenta “Billie Jean” e o famoso passo de dança Moonwalk, chora pela primeira vez de alegria neste mundo Daniel Jones. Vila Nova de Milfontes serviu-lhe de berço, de pátio para brincar e de escola para se tornar homem. Contemporaneamente, Daniel Jones é mais conhecido na pátria lusitana pelo pseudónimo de Praso, que usa para assinar as suas composições artísticas no seio do movimento e património cultural que é o Hip Hop.

Foram os pixels, que se vidraram na sua retina, e o banzé emitido pelas colunas da sua TV, que se infiltraram nos seus canais auditivos até lhe subirem ao cérebro, a destinarem-lhe a perda da virgindade com o Hip Hop, nos idos anos de 1990. Porém, como a MTV não era uma namorada confiável, Praso perdeu o interesse em continuar a vê-la e a ligar-se afectivamente a ela, mas manteve, contudo, as memórias das boas sensações que lhe havia causado. Ali, sentiu ineditamente o prazer que o Hip Hop pode pulsar na carne e no espírito. Dali para frente, não lhe bastava o hedonismo, Praso queria sentir o amor verdadeiro.

Se o Cupido nos acerta de forma fulgurante e quando não estamos à espera, o disco “Rapública” foi a flecha encharcada de vício que injectou as primeiras gotas de amor na corrente sanguínea de Praso. Seguiram-se as descobertas, o entendimento desse sentimento, a cada vez mais provável certeza de que o Hip Hop seria um amor para toda a vida. Um amor que ainda só lhe falava ao ouvido. Todavia, algures em 1997, apresentou-se a ele pessoalmente. Carlos Drummond de Andrade, escritor brasileiro, escreveu que se alguma vez na vida o nosso coração parar por instantes temos a prova de que contemplamos algo que amaremos. Assim foi com Praso, numa festa de escola, em que DJ’s, Writters, B-Boys e MC’s o fizeram deixar de viver por uns segundos elevando-o às nuvens para a consumação do pedido de permissão a Deus para verdadeiramente amar algo terreno. Feito, dito e consentido.

A avidez em alimentar o sentimento levou-o a forrar as paredes da sua casa com o som de Sam The Kid, 7PM, Guardiões do Subsolo, Dealema, Terrorismo Sónico... Percebeu que em qualquer lado se fazia Hip Hop, que qualquer um se podia unir a ele. Praso tinha as suas paixões, tinha os seus ídolos, tinha a sua afeição ao Hip Hop, que continuadamente explorava. No entanto, começou a sentir o apelo para viver a plenitude desse amor. Um impulso do ânimo levou-o a querer pegar na caneta, a querer ter batidas, a expressar a sua pessoalidade. Praso quis conhecer-se por inteiro através dum espelho que deixa sermos o que quisermos. Espelho esse o Hip Hop, pois claro.

Apetrechando-se de material e empolgado pela força que lhe atravessava todo o corpo, Praso meteu mãos-à-obra e foi esculpindo na imaginação aquilo que depois os nossos ouvidos sentiram. Em 2002, surge a maquete “Praso – Prelúdio”, que serviu de primeiro tubo de ensaio e um ano depois seguiram-se mais dois trabalhos no mesmo formato – “3D – 3D” e «Praso – Assistência Vol.1». Fazendo correr o seu nome e burilando as suas capacidades, iniciam-se os convites para integrar projectos alheios a nível nacional, a saber: “Compilação Alemdotejo”, com edição da Covil, “Música de Palavra” de DJ Gijoe, “Beats e Rimas”, colectânea de sons com selo da Chocolate Bars, e finalmente a compilação “De Norte a Sul do País”. Pelo meio, mais uma edição independente de Praso, o EP “Cofre Nocturno” com vinte temas feitos entre 2002 e 2004. A provar a independência, o poder de iniciativa e a capacidade de trabalho deste nómada que actualmente reside em Sines, 2007 conhece “Focus 360º”. Todavia, a obra-prima de Praso, aspirante a plantador de trevos de quatro folhas, é o seu disco “Alma&Perfil”, desvendado ao mundo em 2009 e de forma totalmente gratuita. Ali, tudo é uma harmoniosa composição de finas e clássicas linhas, vibrando de essência e elegância e emolduradas em vértices de profundo bom gosto. Nota para a apresentação deste álbum em Itália, num festival em Cantanzaro.

Se um guarda-redes atinge a maturidade para o desempenho da sua actividade aos trinta anos, Praso com mais jovialidade encaixa tipo Lego na parede de talentos do Hip Hop português. Com ele, não sentimos as “palavras gastas” como anunciava Eugénio de Andrade. A sua música, tal como a sua alma, tacteia-se, «sente-se como braille». É ponto de honra a criatividade, a consciência, a versatilidade nas valências de MC e produtor e o destemor por desafiar os seus próprios limites, baseado-se na firme convicção de que é urgente realizar o impossível. Obriga-se a satisfazer os sonhos que lhe são poeira no subconsciente mas que ele deseja transformar em matéria. Definitivamente, a sua história está longe de acabar. Tudo o que aqui não foi escrito, Praso encarregar-se-á de musicar. Para júbilo de todos aqueles que apreciam a qualidade do seu trabalho e que querem um Hip Hop português progressivamente mais saudável. A vida costuma dar muitas voltas e quem sabe se o próprio não encontra respostas e soluções para as perguntas que formula: «Deus, posso ser eu a julgar-Te?/ Por que é que não posso fazer da minha vida só arte?». Praso – eternizando a validade da cultura Hip Hop portuguesa.