No último sábado, dia 2 de Julho, o Porto Rio teve mais uma noite em que o barco atracado na margem direita do Douro andou perto de virar submarino tamanha a quantidade de gente que se instalou no piso inferior da embarcação. Os DJ’s Casca e Guze, Rato54 e Sindicato Sonoro eram os nomes em cartaz, numa altura em que do outro lado do rio chegava o ruído e a agitação da folia do São Pedro da Afurada - festa importante para a comunidade piscatória daquela zona.
As portas do Porto Rio abriram-se por volta da meia-noite, altura em que o fogo de artifício da festa popular de Gaia explodia lá bem no alto. Embora não propositado, o lançamento dos foguetes parecia um chamariz para a multidão começar a embarcar num dos espaços festivos mais peculiares da Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta Cidade do Porto. E a verdade é que a sala esteve praticamente a abarrotar e o ambiente literalmente quente! A primeira actuação iniciou-se por volta da 1h e esteve a cargo de Rato54, que, tal como Sindicato Sonoro, apresentou oficialmente o seu EP. O mc e writer do colectivo Doink (juntamente com Ortega, Alex, Guito e Lois) foi bastante aplaudido, tendo tido o mérito de agarrar uma plateia naturalmente expectante quanto ao seu primeiro trabalho a solo. E foi notória a cumplicidade entre o público e Rato54. Momentos altos da performance: a parceria a meio com Ex-Peão e o single mais visível do EP, “Cinco Quatro”, que até conduziu Rato até junto da multidão. Rato54 só pode sentir-se feliz por ter tido uma festa de apresentação tão concorrida e vivida intensamente com muitos braços no ar e aplausos. Convém dizer que aquele espaço não proporciona grandes possibilidades de visionamento a quem se acomoda muito para trás, sendo por isso normal o acotovelamento em busca de uma posição mais privilegiada. Nos pratos esteve sempre o produtor e DJ D-One.
Por volta das 2h30 surgiu no palco o trio sindical: Mundo, Berna e Né. Se a atmosfera já estava a ferver então a partir daqui ardeu a valer! “Não Há Crise” é o segundo disco de Sindicato Sonoro e surge cinco anos após “Tempo d’Antena”. E foi com o supa clássico “Abram Alas” do álbum de estreia que Mundo, Berna e Né deram o mote para uma performance sempre muito bem correspondida por uma plateia que tinha a maioria das letras na ponta da língua e que desfrutou da noite de uma forma realmente muito intensa. A temperatura na sala foi ficando cada vez mais elevada, mas não foi por isso que houve falta de ânimo, aplausos e mãos no ar, muito pelo contrário. Que o diga, por exemplo, o single que dá nome ao novo EP “Não Há Crise”, que deve ter saído do barco Gandufe de ego inchado depois de ouvir o seu nome ser gritado a plenos pulmões e em uníssono.
Quem teve uma actuação com alguns momentos para esquecer foi Né, que várias vezes tropeçou nas letras, tendo sido mais visível a branca que graças à perspicácia do próprio virou improviso e até acabou por gerar grande entusiasmo na plateia. “Não Há Crise”, foi o que alguns oportunamente gritaram. Alguns dos obreiros do novo disco (Virtus e DJ Upgrade, por exemplo) subiram ao palco para o devido reconhecimento, mesmo antes de “O Elo Mais Forte” (quanto a mim, um dos temas mais valorosos do EP) fechar o alinhamento... até o encore. Depois do regresso, para fechar verdadeiramente a actuação, e tal como na abertura, o trio optou por um som do primeiro álbum, neste caso “Três”. Após os concertos, DJ Guze tomou de assalto as colunas com um set carregado de rap português, o que agradou bastante aos presentes.
Em suma, Rato54 e Sindicato Sonoro proporcionaram uma excelente festa a quem se dirigiu até ao Porto Rio e não poderiam desejar melhor noite para apresentar os respectivos trabalhos. Casa cheia, com gente de vários pontos do norte do país, excelente ambiente e nem as falhas de Né assombraram o espectáculo. Se há ideia que fica da noite de 2 de Julho é a de que o rap no Porto está tudo menos morto.
Texto: Sempei
Fotos por: Ana Mendes
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