quarta-feira, 20 de julho de 2011

Raw Beats Vol. 001 (15/07/2011): Seada, Enigma, Jimmy P, Keso e Maze @ Plano B

Foi na sexta-feira, 15 de Julho, que, cerca de mês e meio após a última festa de Hip Hop por si engendrada, a promotora Versus voltou a delinear um cartaz de rap – sem nomes internacionais, é certo-, mas com uma bela mão cheia de artistas nacionais, todos eles nortenhos: Seada, Enigma, Jimmy, Keso e Maze (juntando-lhes os DJ’s D-One e SlimCutz). O local escolhido foi o Plano B, um espaço exíguo, impróprio para grandes multidões, mas aconchegante para um ambiente muito caloroso e vibrante em caso de casa cheia. E foi isso que se sucedeu.

Muitas caras conhecidas de outros dias festivos. É caso para dizer que há já um núcleo duro de aficionados que frequenta a maioria das grandes noites de Hip Hop no Porto. Em sentido inverso, se há artista que ultimamente não tem por hábito pisar os palcos destes shows esse dá pelo nome de Seada. O MC/produtor portuense abriu as hostes das actuações um pouco depois da uma hora da manhã, já após SlimCutz ter dado as boas-vindas com um set a seu gosto. Seada não tem muita música editada, por isso fez-se valer dos sons que mesmo assim lhe conferem algum respeito no seio da cena underground tripeira, pese embora o seu modus operandi bastante discreto.

Ao segundo tema já Seada contagiara a plateia, que se deleitou com o single “Táxi”, pertencente à compilação “Best Off”. Kayn (Caixa Toráxica) foi o braço direito de Seada, que ainda teve a certa altura outro parceiro especial: Supremo G aka Jimmy P. Um sublinhado para o momento acústico da performance do duo. “Digam a verdade às crianças” pôs os presentes embevecidos e solenemente à escuta dos acordes da guitarra nas mãos de Seada e da mensagem conjunta com Jimmy. O reverso sucedeu-se à passagem de “Cartão de visita”, canção que teve o condão de erguer muitos braços no ar, devido até à própria tónica algo revolucionária da letra. Excelente na entrega e na interactividade com o público, Seada conseguiu uma das melhores actuações da noite, e logo na abertura. Muito, muito bom!

Seguiu-se Enigma para uma curta estadia em palco. Each e Chek actuaram durante pouco tempo, cerca de um quarto de hora, e aproveitaram esses 15 minutos de mic na mão para darem a conhecer novas músicas. E a julgar pela reacção da plateia, as novas rimas da dupla deixaram muita gente a salivar. De facto, tanto Each como Chek têm crescido permanentemente e ganho com o tempo o seu espaço no rap nacional. De negativo na performance no Plano B apenas uma ou duas falhas de memória de Each que, apesar de pouco notadas, fez questão de se desculpar por isso. No final da noite viria a certeza de que conseguiram, mesmo em pouco tempo, uma das actuações mais aplaudidas.

Já passavam das duas da matina e o cartaz ia a meio, sendo que Mundo foi o host da festa que trouxe de volta Jimmy P à rotina dos shows ao vivo. De facto, Jimmy selou o regresso à actividade depois de algum tempo ausente por razões menos felizes. Mas o MC trouxe muita vontade e boas vibrações embora os novos sons não parecem ter cativado tanto o público que o admira, como por exemplo o dubplate com Celebration Sound. Jimmy fez-se acompanhar pelos seus tropas habituais, JêPê nas dobras e nos sons que partilham e Damani Van Dúnem apenas no novíssimo “Soletra”.

Sons tradicionais como “Game Over” foram revisitados, tendo o badalado single “Dope Boy” do EP que ainda está a caminho também feito parte do alinhamento, assim como “Mãe”, tema que Jimmy pôde dedicar directamente à sua progenitora que se encontrava no Plano B. Generoso como de costume, Jimmy P fez questão de dar tempo de antena a Contrabando 88. O grupo, acompanhado como é tradição por uma barulhenta camioneta humana vinda da Póvoa de Varzim, matou igualmente um hiato fora dos palcos recorrendo aos dois sons que o junta a Supremo G: “Oportunidades” (com Sandra) e “Revolu-som”. Prometido está um EP com lançamento para os próximos meses.

Keso foi o homem que seguiu. Com a sala ainda praticamente cheia, o MC e produtor tripeiro levou à letra o desígnio da festa (Raw Beats) e inovou renovando alguns instrumentais dos seus sons. Como foi o caso de“Acólito por alcoólico”, tema de abertura que surgiu com nova companheira (leia-se batida) e que por isso inicialmente causou estranheza mas foi-se entranhando nos tímpanos naturalmente. Keso apresentou-se no espaço de concertos subterrâneo do Plano B divertido como sempre, mais descontraído que nunca e em drunk style como não há memória... Mas ninguém se importou com isso, bem pelo contrário.

O seu show foi uma risota do princípio ao fim, com um excesso ou outro, mas gerindo bem a faceta de mestre de cerimónias com a de rapper. Ou seja, Keso intercalou o dom de comediante com as rimas e os beats, com os clássicos e com o KS Xaval. Foi notório que muita boa gente tem guardada no disco rígido das lembranças a época “Raios Te Partam” de Keso, ou melhor, de KS Xaval, por isso músicas como “Pintor de Interiores” foram debitadas por mais de que uma garganta. “Insólito kesone” e “2º Capítulo” foram outras faixas degustadas como autênticas guloseimas auditivas. “Eternamente em cena” foi a cereja no topo do bolo.

O último homem a pisar o palco foi Maze. Completamente sozinho em acção, Maze tinha a missão de fechar as actuações, numa altura em que a assistência já apresentava algumas clareiras e não se exibia com o mesmo fulgor. O EP em registo próprio datado de 2007 deu o mote com “Mundo Bizarro” (mais tarde “Quando o Céu Desaba” teve uma inédita aparição). Apesar do estatuto dealemático, a tarefa de Maze não foi fácil, precisando de muito suor para cativar a atenção dos presentes. Com mais ou menos dificuldade assim foi. Não é hábito ver Maze em modo one man show, até porque só conta com um trabalho em nome pessoal, por isso foi entremeando algumas acappelas de excertos seus em temas de Dealema. “Sonhar Acordado” foi excepção, rodando com beat e o contributo de Mundo. Foi sem dúvida um dos pontos de maior agitação. Outro veio com a última faixa, “Brilhantes Diamantes”. A partir das quatro horas, D-One girou discos até às 6h sempre com a sala lotada.

O rescaldo desta noite é francamente positivo, com o regresso de alguns artistas e o surgimento de outros pouco vistos em shows a solo. Seada abriu magistralmente a cortina do espectáculo; os Enigma aguçaram o apetite para futuros projectos; Jimmy matou com emoção as saudades de estar de mic na mão perante uma plateia; Keso divertiu-se e fez divertir num dos seus últimos concertos antes de rumar ao estrangeiro (confissão de Mundo) e Maze fechou o tasco com carisma e alguma sobriedade mas nada se lhe pode apontar.

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