quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Plano B (17/09/2011): Auge, Rato54 e Fuse

Sábado, 17 de Setembro de 2011. Mais uma noite festiva bombeada com rap tripeiro, um hábito no coração da Cidade Invicta. Na rua Cândido dos Reis – uma das artérias mais vivas do Porto -, o povo dispersa-se em grupinhos, ao longo do arruamento, nas esplanadas ou dentro dos vários espaços de diversão. Um deles, o Plano B, voltou a ser primeira escolha na hora de eleger um local que albergasse Auge, Rato54 e Fuse (não esquecendo os DJ’s D-One, Guze e SlimCutz).

Podia uma festa de Hip Hop em Portugal começar a horas? Podia, mas não era a mesma coisa. No fundo, a culpa é de todos. Foi já com os ponteiros do relógio abraçados a domingo, que é como quem diz, à 1 hora e picos da matina, que Auge subiu ao palco, pegou no mic e iniciou a sua actuação. Para deleite dos casalinhos que se aconchegavam na sala, “Crónica Paixão Fula” foi dos primeiros sons lançados por DJ Guze, o disk-jockey que auxiliou o MC de Mau Feitio. A dispersão da plateia por toda a sala maquilhava algumas clareiras, que, apesar da alta temperatura no espaço, foi pouco calorosa para com Auge. Culpa do MC? Culpa do público? Ficou a dúvida. A verdade é que Auge só agitou verdadeiramente os presentes quando sacou da sua maior cartada sonora: “Mambo”, claro está. De resto, teve ainda tempo para se aventurar em algumas acappellas.

Do fim da performance de Auge para o começo da de Rato54 não distaram muitos minutos mas foi o tempo suficiente para uma clara transformação no ambiente do andar subterrâneo do Plano B. Culpa do MC? Culpa do público? Nova dúvida no ar. Mas Rato54 pegou de estaca, contando com a colaboração de uma audiência mais predisposta a distribuir palmas. De Rato54 não se espera grandes cerimónias ou discursos pré-concebidos. É aquele rapper que vive sintonizado com o público, que desce até junto do mesmo e por lá se deixa estar, sem se importar que alguns espectadores subam para cima do palco, o “seu” lugar. O single “Cinco Quatro” foi recebido alegremente mas não foi o único. Com uma cartada de beats potentes desaconselhável a qualquer pescoço, a exibição de Rato mostrou ser, uma vez mais, suficiente para não defraudar os parâmetros básicos de qualquer festa de rap: beats, rimas e mãos no ar a acompanhar o mestre de cerimónias. Ex-Peão foi convidado ilustre (mas não raro) na performance de Rato54.

Com poucos minutos contados para além das 3h, Fuse entrou para fechar o tasco das actuações. Que Fusível dispensa apresentações todos nós sabemos; que goza de um estatuto alcançado a solo, mas sobretudo no quinteto dealemático não é novidade para ninguém, logo, dizer que Fuse pôs o Plano B em sobressalto é reportar o inevitável. Inevitáveis foram também as passagens pelos dois álbuns de nome pessoal. “Eterno No Teu Ouvido” e “Febre da Selva” são dois exemplos de faixas quase obrigatórias, embora se tenha notado a ausência de outras como “A Outra Face”. “A Revolução Vive dentro de ti” foi resgatada ao primeiro álbum de Mundo, num alinhamento que não deu tempo para contemplações, tendo sido percorrido a um ritmo frenético, ou não fosse "andamento" a palavra de ordem. Como o que é bom acaba rápido, não restou alternativa que não implorar por um último som, isto já depois das despedidas de Fuse. O pedido foi aceite, mas acabaria por ser mesmo o derradeiro tema.

Contas positivas para Rato54 e Fuse que conseguiram gerar um verdadeiro clima de festa de Hip Hop. Rato com o seu jeito simples e "popular", Fuse com o carisma e personalidade que lhe são reconhecidos. Por sua vez, Auge teve razões para sair um pouco arreliado do Plano B, não pela sua prestação, mas sim pelo saldo geral do concerto, pois não estava certamente nas suas cogitações gerar tão fraco entusiasmo à sua frente.

Texto: Sempei
Fotos: Ana Mendes

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