Qualquer balanço que se faça por esta altura sobre o que melhor se colheu no panorama musical português ao longo do ano passado terá de conter necessariamente uma palavra, ou melhor, duas: Orelha Negra. Apesar de Orelha Negra não ser o típico projecto de Hip Hop - com DJ nos pratos e MC('s) no mic - não poderia, mesmo assim, deixar de elevar o seu disco homónimo até ao degrau mais alto de 2010. Mesmo que do Hip Hop sofra desvios para a Electrónica e para o Jazz, que escorregue para a Soul e para o Funk, com breves recaídas para o breakbeat, a música orquestrada pelas dez mãos deste supergrupo (sem vocalista ou maestro) não precisa de microfones para se expressar, ameaçando convencer até o cepticismo de que normalmente sofrem os artistas portugueses (DJ Shadow não olhou à nacionalidade quando há tempos os elogiou). O primeiro trabalho de Orelha Negra foi arrebatador em todos os capítulos: a nível gráfico, instrumental e live act, tudo pareceu no limiar da perfeição. O ano de 2010 ficará umbilicalmente ligado a um dos nomes musicais portugueses mais interessantes e valorosos dos últimos anos.
Um realce natural para os trabalhos de dois bastiões colectivos do rap da Invicta: "A Essência" de Mind da Gap e "Arte de Viver" de Dealema, pois claro. O álbum de MDG veio desmentir aqueles que desenhavam uma linha decadente na carreira do trio portuense. "A Essência" revelou-se uma excelente panóplia de canções, com uma sonoridade a puxar o clássico e aparições primorosas de Maze e Valete. No global, foi um disco revitalizador para Ace, Presto e DJ Serial. Com metade das faixas do álbum de MDG, o EP "Arte de Viver" de Dealema surgiu na plataforma da Optimus Discos, traduzindo-se em meia-dúzia de relíquias sonoras para mais tarde recordar. De facto, é de realçar a linha de abordagem adoptada pelo Colectivo Dealemático ao longo de seis temas ricos em proteínas e vitaminas. Um trabalho singular na extensa discografia de DLM.
Em termos de mixtapes, confesso-me algo distante em relação ao que se produziu neste formato no último ano, contudo, enalteço o registo "2º Piso - 17 Anos", que, não contando com uma participação totalmente satisfatória por parte de todos os intervenientes, terá sido, mesmo assim, a mixtape que mais me agradou. Num patamar interessante, embora algo repetitivo, esteve Xeg com a sua mixtape "Egotripping", onde se exibiu mais mordaz e habilidoso que nunca. "Mike Phelps" bem que poderia ter arrecadado maior atenção nesta retrospectiva se não tivesse saído tardiamente e, por esse motivo, ainda não ter merecido até ao momento uma auscultação aprofundada da minha parte.
Num registo mais Soul que Hip Hop, "Utopia" de Expensive Soul merece um sublinhado, mais não seja pela produção meticulosa e exemplar de New Max. Em termos de instrumentais, este trabalho de Expensive Soul é capaz de produzir inveja em muita gente, tendo ainda conseguido reunir algumas canções elegantes e capazes de viciar, em concreto, os dois primeiros singles: "O Amor É Mágico" e "Dou-te Nada". DJ Gijoe foi dos artistas que mais surpreendeu discograficamente quando artilhou o disco "Palavra de Músico" com um exército de convidados interminável. Contudo, devido a esse congestionamento de participantes, acabou por gerar um álbum com uma qualidade algo irregular. Uma palavra para a Monster Jinx, que se manteve activa com o EP de Nexus ou a "Liga de Cavalheiros Improváveis" por exemplo, e ainda para o "rei da Linha de Sintra" - NGA, para os mais distraídos - que teve mais um ano com pouca inactividade, muito por culpa da série "Impakto".
A terminar, causará provavelmente alguma estranheza não ter mencionado o disco de estreia do colectivo Tribruto, "Algazarra", (vejo que têm surgido boas críticas), mas esse álbum ainda não foi por mim devidamente abordado, facto que lamento, mas que será certamente corrigido em breve. Outros trabalhos sofrem do mesmo mal, como por exemplo o registo pessoal de Dengaz ou as compilações "Hip-Hop Series".
Foi já no último mês do ano que "Olhos de Vidro" surgiu em vídeo (isto após integrar o Ep de Dealema em Março), mas chegou bem a tempo de se posicionar entre as melhoras obras videográficas de 2010. Este último videoclip de Dealema e "A Cura" de Orelha Negra foram, para mim, as realizações mais bem conseguidas do ano transacto. Outros vídeos interessantes merecedores de menção: o "Mundo Bizarro" de Maze, o "Sr. Diplomata" de Cacique'97 ou o espalhafatoso "Algazarra" de Tribruto.
E os melhores do graffiti e do breakdance? se é para falar de rap digam isso, rap...não hiphop. Sempre a mesma merda, hiphop em portugal é música e o resto é merda. Definemse como hiphop entao falem de tudo
ResponderEliminarPor muito que por vezes tentemos inserir algum conteúdo dessas duas vertentes, a verdade é que não temos a bagagem suficiente para elaborar "os melhores do ano", sendo assim, deixamos esse tipo de textos para gente mais especializada.
ResponderEliminarQuanto ao Hip Hop/Rap, as primeiras linhas do texto fazem questão de frisar que se trata de um balanço ao nível do panorama musical, logo, à partida, fica excluída qualquer hipotese de abranger todas as vertentes de Hip Hop, porque aqui é tido como género musical e não cultura, não querendo com isto dizer que não seja uma cultura, pelo contrário.
Cumps!
É muito triste quando alguém se dedica a algo e depois depara-se com comentários destes... Aqui, não toleramos este tipo de linguagem, nem este tipo de confrontação. Se utilizamos a palavra "hip hop" para nos referirmos à vertente musical é porque assim está vulgarizada essa conotação.
ResponderEliminarÉ verdade, abordamos muito mais o rap do que as outras vertentes porque é relativamente ao rap que nos sentimos mais à vontade para escrever, embora gostemos dos outros elementos, obviamente. Não o fazemos mais vezes por falta de conhecimentos, de informação e de tempo. Se já é difícil escrever somente sobre rap, escrever sobre tudo o resto humildemente reconhecemos que seria uma tarefa muito árdua.
Referes-te ao graffiti e ao breakdance, mas quanto ao rap (que muito aqui se escreveu sobre ele) nem uma palavra! Um pouco mais de respeito por tudo o que temos vindo aqui a fazer não te fazia mal nenhum. Ah, e mais moderação e cuidado nas palavras que usas. Não queríamos chegar ao ponto de moderar os comentários, mas se tiver de ser, assim será. Se vieres por bem, és bem-vindo. Se vieres mal intencionado e com esse tipo de linguagem, não o és. Além disso, se não gostas do que fazemos, tens bom remédio: não venhas cá!!! É tão fácil!
Que tal criares tu um blog ou um site onde fales de tudo? Parece-me uma excelente ideia! A ti, não?
Cumprimentos!
Druco
ResponderEliminarinterpretaste de uma forma demasiado negativa porque ninguem desvalorizou ou desrespeitou. aliás, se nao hja palavras sobre o rap é justamente porque o que escrevem sobre ele e o que apresentam no blog esta bem feito.
simplesmente insirome numa cultura que tem quatro vertentes, por acaso danço e aprecio greff e entristece-me haver n sei quantos blogs dedicados a musica e apenas a musica.
repara, se comento aqui e porque visito o site correcto? mas "hip hop" é uma cultura, não é rap.
e acho que falta exactamente o resto.
cumprimentos
Mas acredita mesmo que interpretei de forma muito negativa o teu comentário! Pareceu que estavas a atribuir alguma responsabilidade em nós devido à falta de blogs ou sites em Portugal que tratem de forma igual as várias vertentes do Hip Hip. Eu já disse que isso é impossível da nossa parte e expliquei-te as razões. Nós fazemos a nossa parte para ajudar o movimento! Venham outros ajudar. Venham outros que percebem de graff fazer sites e blogs de graff. Venham outros que percebem de breakdance fazer sites e blogs de breakdance... Acredita que mesmo tratando maioritariamente o rap, nós já investimos muito tempo da nossa vida nisto! Fazêmo-lo com todo o gosto, mas fazemos aquilo que nos é possível fazer... Não podemos fazer tudo!
ResponderEliminarPois, mas só vieste aqui referir-te ao que faltava no blog, só trouxeste a terreiro a tua visão negativa sobre o blog, sobre o que lhe falta! Quanto ao que fizemos não te pronunciaste, daí ter-te interpelado sobre isso. Nós queremos que quem nos visita possa falar sobre o que escrevemos e possa dar a sua opinião. Sublinho, sobre o que escrevemos e não sobre o que falta aqui! Nós mesmos temos a consciência de que nos falta muito aqui. Mas venham cá e comentem e critiquem e debatam o que nós aqui apresentamos. Não o que aqui falta, pois se não está cá, não podemos debater algo de abstracto.
Mas como eu te disse: se há alguns blogs e sites que se dedicam à vertente musical do hip hop, por que é que alguém que dance e que aprecia graff não dá o seu contributo ao movimento criando por exemplo com amigos que partilhem o mesmo gosto um site ou blog para veicular esses elementos?! Todos somos poucos para ajudar isto a crescer. Não podemos é só falar. É preciso fazer. E quanto a isso nós fazemos a nossa parte! Se é mais a música, que seja mais a música. É o que podemos contribuir. Fazemos isto por prazer, por pura carolice, por isso, não podemos tolerar que nos exijam algo como fizeste transparecer no comentário anterior. Além disso, apreciamos quem traga elevação nos seus comentários aqui no blog e não use uma linguagem ofensiva como fizeste. Apreciamos que tragam maturidade, quer na opinião que aqui deixam, quer na forma como escrevem.
É como te disse também: se gostas do que fazemos, acredita que és bem-vindo aqui como qualquer outra pessoa. Se não gostas ou se achas que o blog é incompleto, não nos apoies, deixa simplesmente de passar por aqui. Agora, apenas ficamos tristes porque afinal és visitante assíduo do blog, como dizes, mas em quase dois anos que levamos de blog, apenas comentaste aqui para dizer que o blog é incompleto, numa linguagem que de todo não me agrada! Nem tenho de a tolerar seja de quem for, entendes? Já fizemos tantos e tantos textos e nunca vimos um comentário teu ao que escrevemos. Curiosamente, comentas logo referindo-te a algo que falta aqui. Como te disse anterior, agradecemos todos e quaisquer comentários sobre o que escrevemos. O que aqui falta é porque não foi possível de ser feito. Nós somos soberanos em decidir o que aqui escrevemos e assim vai continuar a ser, mediante o que conhecemos e o tempo que temos disponível para isto. Quanto ao resto, alguém que tome uma posição e que faça! É preciso fazer! Nós estamos a fazer a nossa parte! Venham outros fazer o que falta!
Ok, Hip Hop é cultura não é só rap. Mas aqui trataremos maioritariamente o rap. Serei visitante assíduo e entusiasta se criares um blog ou site em que fales de tudo sobre o Hip Hop, acredita! Força nisso!
Trazemos o que nos é possível. E já fazemos muito! Que venha alguém em Portugal fazer um site ou blog que trate de igual modo todas as vertente do Hip Hop!!! Serei o primeiro a aplaudir! Força com isso, haja gente para isso!
Cumprimentos.
li estes comentários na diognal, mas it was enough to get the ideia.
ResponderEliminarAnónimo:
Tens bons sites/blogs de graff, deixo-te alguns:
dedonogatilho.blogspot.com
tick2target.com
graffitiporto.blogspot.com
cidadetatuada.blogspot.com/
depois tens uma data de sites dos próprios writers:
http://www.mrdheo.com/
http://www.kissmywalls.com/ (Caos)
o do Oker.
hazul.pt.vu
http://dameluz.multiply.com/photos/album/2/Spray
e por aí fora...
Cumprimentos.
More Love, Less Hate! eheh
miguel.
*STICK2TARGET
ResponderEliminarMiguel, obrigado por comentares e por deixares os links!
ResponderEliminarAcredita, se as pessoas fossem mais unidas e se se apoiassem mais, se se queixassem e falassem menos e fizessem mais, não só o nosso Hip Hop estaria melhor, como o próprio país teria certamente uma outra cara!
Abraço, Miguel!