No segundo dia do festival, as actividades começaram mais cedo. Às 18 horas, iniciou-se uma palestra com Rui Miguel Abreu sobre o pretexto “O que é o Hip Hop?”. Simpaticamente, Rui Miguel foi oferecendo a quem chegava discos da editora que ele fundou, a Loop Recordings. Com a tenda razoavelmente bem composta por curiosos do movimento dispostos a ouvir as palavras deste orador muito especial, que tem uma importante história no panorama desta cultura em Portugal. Foi precisamente por uma interessante apresentação sobre o seu primeiro contacto com o Hip Hop e todo o seu trajecto no meio que começou esta iniciativa louvável de aproximar alguém tão conhecedor não só do Hip Hop mas da música, em geral, a todos os amantes que o quiseram escutar, marcando presença naquela sessão. Houve uma interacção boa entre o jornalista e a plateia, que foi convidada a pronunciar-se sobre o que representava o Hip Hop e que esclarecidamente falou de sua justiça. De entre muitas histórias e curiosas revelações, tanto do seu trajecto pessoal como profissional, destacaríamos as palavras de Rui Miguel Abreu sobre o rapper NGA. Confessando nutrir uma grande admiração pessoal por NGA, embora ressalvando que não faz o tipo de rap que mais aprecia, a voz do programa “Rimas e Batidas” da Antena 3 revelou uma frase que o marcou dita por NGA por ocasião de uma entrevista radiofónica. As palavras de NGA foram as seguintes: “O Hip Hop salvou-me a vida”. E por que é que isto tocou de forma especial Rui Miguel Abreu e toca todos quanto a ouviram ou a lêem? Porque o Hip Hop foi uma oportunidade que NGA agarrou com as duas mãos para fugir a uma vida difícil para quem é proveniente de uma das zonas mais complicadas do país, porque NGA graças ao Hip Hop não acabou como muitos dos seus amigos de infância na cadeia por terem enveredado por uma vida de crime ou mortos por essas mesmas malhas... Tudo isto para exemplificar que o Hip Hop pode ser uma escapatória, uma oportunidade, na vida das pessoas, que lhes pode trazer efeitos benéficos. Salvaguardando as devidas distâncias, foi isso que aconteceu àquelas pessoas que inventaram o Hip Hop, no Bronx, e seguiram a sua filosofia. Tiveram uma oportunidade de melhorar as suas vidas.
A palestra fluiu bem, nem se deu pelo tempo passar, revelou-se interessantíssima pela presença da figura em questão e por todas as histórias que foram desembrulhadas. Foi uma óptima experiência. E não acabou sem música!
Aproveitámos o tempo de pausa entre o fim da conferência e o início das actividades nocturnas para vaguear pela cidade, onde estreámos um autocolante do HIPHOPulsação dedicado ao genial J Dilla. Enquanto conhecíamos cada recanto e esquina da cidade de Barcelos, fomos colando o nosso adesivo em alguns sítios e fotografamo-lo junto de alguns locais emblemáticos lá do burgo. Nota para a beleza do centro da cidade com o edifício municipal e demais monumentos em redor, mas também para a degradação e abandono de muitos edifícios públicos e não só, o que é uma pena.
A vadiagem provocou-nos cansaço e fome, o que nos conduziu a um restaurante, onde depois de jantarmos, o Sempei teve uma péssima digestão pela clamorosa derrota do Benfica!... O Roberto não mais lhe saiu da cabeça mas a perspectiva do início do festival deu-lhe a possibilidade de desanuviamento e animação que precisava!
Havia uma grande expectativa relativamente às finais dos concursos. A luta prometia ser muito renhida no Beatbox e muito desequilibrada no MCing. Assim foi. No Beatbox, Fubu, Beats, Robinho, Rizumik, Pedro Alexandre e Vítor Hugo iam com legítimas aspirações de arrecadarem o grande prémio. As prestações foram de grande nível e ficaram pelo caminho numa primeira etapa os dois últimos nomes mencionados. No tira-teimas, os intervenientes deram o seu máximo e complicaram bastante a decisão do júri (Woyza, Mundo e Rui Miguel Abreu). O desfecho foi surpreendente e o vencedor foi Beats! Rizumik ficou em segundo e o campeão da edição passada – Robinho – a quedar-se no 3º posto. Não questionámos de modo algum a decisão do júri, demonstrámos apenas a nossa surpresa pois o nosso preferido e a quem prognosticámos a vitória era Rizumik. Mas Beats esteve em muito bom plano também e a vitória assenta-lhe bem. Qualquer um dos três primeiros classificados tinha nível para ser o campeão.
Na componente do MCing, havia um super favorito, o vencedor das duas primeiras edições Zeka e que no dia anterior nas eliminatórias já nos tinha convencido de que era realmente o melhor. A nossa dúvida era saber qual seria o concorrente que mais se aproximaria do nível dele. Na verdade, nenhum. Zeka venceu sem surpresas e sem oposição forte numa finalíssima que teve a surpresa de ter a presença de Beats (sim, o mesmo do Beatbox), quando se esperava que Cálculo pudesse apresentar melhores argumentos, mas este foi penalizado por usar muitas muletas e até por se repetir em dicas que tinha usado no dia anterior, nas eliminatórias! O júri valorizou mais a espontaneidade de Beats e até a sua comicidade, quiçá, no modo dele enfrentar o opositor nos olhos e sempre em pleno desafio. Zeka foi demolidor na finalíssima, venceu justamente e de todos é o que apresenta melhor nível de improvisação, melhor linguagem e melhor interacção com o espaço e situação. Nota ainda para a presença de Zé Pequeno na final, onde fortuitamente chegou. Muito jovem ainda, muito imberbe nas rimas, fica-lhe a experiência de palco e o estímulo de ter atingido uma final para melhorar as suas ainda débeis capacidades.
Balanço dos concursos: reinou o equilíbrio no Beatbox, onde o nível foi mesmo muito bom, não nos cansamos de realçar este aspecto, e contra todas as previsões de favoritismo de Robinho ou Rizumik, Beats com mérito a surpreender a concorrência e a convencer o júri; na outra modalidade, reinou o desequilíbrio. Com excepção de Zeka, que desde a primeira performance convenceu de imediato, mais nenhum MC provou ter nível para o improviso, usando e abusando de muletas (tal como Mundo frisou) e de rimas decoradas, nuns casos, e noutros tentando ser espontâneos mas faltando-lhes o traquejo de melhor se desenvencilharem com o recurso a uma maior originalidade. Por favor, usar “n” vezes num improviso a expressão “tou-me a cagar” é de bradar aos céus e de pedir com urgência uma retrete para MC’s que só verbalizam merda... Colocado o dedo na ferida, era muito interessante que freestylers de outras zonas do país se dispusessem a participar neste tipo de eventos de modo a que a qualidade aumentasse. Assim, só se fica com a certeza que regionalmente Zeka é o rei do improviso e tricampeão do festival “Às 3 Pancadas”. Mas fica difícil manter o interesse neste tipo de concursos quando a organização decide anunciar apenas os resultados depois dos concertos (já passava das 4h da manhã). Quando os apresentadores tentam criar um clima de suspense que redonda num profundo aborrecimento e numa atordoante agonia, pior ainda! A maioria do público já se tinha ido embora quando se conheceram os vencedores dos concursos pois Sonoplastia e Dealema já tinham actuado. Uma situação que fica para a organização rever.
Relativamente aos concertos, não há muito a dizer. Sonoplastia é um colectivo da terra, bastante jovem que apresentou argumentos interessantes para singrar, mas que só o trabalho deles e o tempo dirá se isso é uma realidade. Sentiram o apoio dos amigos, actuaram na sua zona e abriram caminho para Dealema. Foi uma actuação positiva mas sem nenhuma relevância especial a destacar.
Quanto a Dealema, se se diz que “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, adaptando isto à realidade dealemática ficará algo como «muda-se o lugar, mantém-se a euforia». Onde quer que Dealema actue, eles varrem a feira. A apoteose e adoração dos jovens por eles não conhece limites. Seguem as letras em uníssono, gesticulam, saltam, enfim, vibram imenso com o Pentágono, que tem sempre uma entrega total, um puro compromisso com o Hip Hop.
Sintetizando os dois dias de festival, achamos ter sido uma iniciativa louvável que reuniu muitos patrocinadores sendo de assinalar o apoio do município local. Moveu-nos mais nesta ida a Barcelos a curiosidade e oportunidade de assistirmos aos concursos, mais do que os concertos. Todavia, as actuações, apesar de nem todas terem sido novidade para nós, foram exemplares. Oxalá houvesse mais iniciativas como esta no nosso país. Nem tudo correu bem no “Às 3 Pancadas”, mas felizmente houve muito mais pontos positivos do que negativos. O festival está de parabéns por isso. Que volte, que venha ainda melhor, com mais força, com mais gente, com mais talento, pois tudo isto é a bem do Hip Hop nacional.
A palestra fluiu bem, nem se deu pelo tempo passar, revelou-se interessantíssima pela presença da figura em questão e por todas as histórias que foram desembrulhadas. Foi uma óptima experiência. E não acabou sem música!
Aproveitámos o tempo de pausa entre o fim da conferência e o início das actividades nocturnas para vaguear pela cidade, onde estreámos um autocolante do HIPHOPulsação dedicado ao genial J Dilla. Enquanto conhecíamos cada recanto e esquina da cidade de Barcelos, fomos colando o nosso adesivo em alguns sítios e fotografamo-lo junto de alguns locais emblemáticos lá do burgo. Nota para a beleza do centro da cidade com o edifício municipal e demais monumentos em redor, mas também para a degradação e abandono de muitos edifícios públicos e não só, o que é uma pena.
A vadiagem provocou-nos cansaço e fome, o que nos conduziu a um restaurante, onde depois de jantarmos, o Sempei teve uma péssima digestão pela clamorosa derrota do Benfica!... O Roberto não mais lhe saiu da cabeça mas a perspectiva do início do festival deu-lhe a possibilidade de desanuviamento e animação que precisava!
Havia uma grande expectativa relativamente às finais dos concursos. A luta prometia ser muito renhida no Beatbox e muito desequilibrada no MCing. Assim foi. No Beatbox, Fubu, Beats, Robinho, Rizumik, Pedro Alexandre e Vítor Hugo iam com legítimas aspirações de arrecadarem o grande prémio. As prestações foram de grande nível e ficaram pelo caminho numa primeira etapa os dois últimos nomes mencionados. No tira-teimas, os intervenientes deram o seu máximo e complicaram bastante a decisão do júri (Woyza, Mundo e Rui Miguel Abreu). O desfecho foi surpreendente e o vencedor foi Beats! Rizumik ficou em segundo e o campeão da edição passada – Robinho – a quedar-se no 3º posto. Não questionámos de modo algum a decisão do júri, demonstrámos apenas a nossa surpresa pois o nosso preferido e a quem prognosticámos a vitória era Rizumik. Mas Beats esteve em muito bom plano também e a vitória assenta-lhe bem. Qualquer um dos três primeiros classificados tinha nível para ser o campeão.
Na componente do MCing, havia um super favorito, o vencedor das duas primeiras edições Zeka e que no dia anterior nas eliminatórias já nos tinha convencido de que era realmente o melhor. A nossa dúvida era saber qual seria o concorrente que mais se aproximaria do nível dele. Na verdade, nenhum. Zeka venceu sem surpresas e sem oposição forte numa finalíssima que teve a surpresa de ter a presença de Beats (sim, o mesmo do Beatbox), quando se esperava que Cálculo pudesse apresentar melhores argumentos, mas este foi penalizado por usar muitas muletas e até por se repetir em dicas que tinha usado no dia anterior, nas eliminatórias! O júri valorizou mais a espontaneidade de Beats e até a sua comicidade, quiçá, no modo dele enfrentar o opositor nos olhos e sempre em pleno desafio. Zeka foi demolidor na finalíssima, venceu justamente e de todos é o que apresenta melhor nível de improvisação, melhor linguagem e melhor interacção com o espaço e situação. Nota ainda para a presença de Zé Pequeno na final, onde fortuitamente chegou. Muito jovem ainda, muito imberbe nas rimas, fica-lhe a experiência de palco e o estímulo de ter atingido uma final para melhorar as suas ainda débeis capacidades.
Balanço dos concursos: reinou o equilíbrio no Beatbox, onde o nível foi mesmo muito bom, não nos cansamos de realçar este aspecto, e contra todas as previsões de favoritismo de Robinho ou Rizumik, Beats com mérito a surpreender a concorrência e a convencer o júri; na outra modalidade, reinou o desequilíbrio. Com excepção de Zeka, que desde a primeira performance convenceu de imediato, mais nenhum MC provou ter nível para o improviso, usando e abusando de muletas (tal como Mundo frisou) e de rimas decoradas, nuns casos, e noutros tentando ser espontâneos mas faltando-lhes o traquejo de melhor se desenvencilharem com o recurso a uma maior originalidade. Por favor, usar “n” vezes num improviso a expressão “tou-me a cagar” é de bradar aos céus e de pedir com urgência uma retrete para MC’s que só verbalizam merda... Colocado o dedo na ferida, era muito interessante que freestylers de outras zonas do país se dispusessem a participar neste tipo de eventos de modo a que a qualidade aumentasse. Assim, só se fica com a certeza que regionalmente Zeka é o rei do improviso e tricampeão do festival “Às 3 Pancadas”. Mas fica difícil manter o interesse neste tipo de concursos quando a organização decide anunciar apenas os resultados depois dos concertos (já passava das 4h da manhã). Quando os apresentadores tentam criar um clima de suspense que redonda num profundo aborrecimento e numa atordoante agonia, pior ainda! A maioria do público já se tinha ido embora quando se conheceram os vencedores dos concursos pois Sonoplastia e Dealema já tinham actuado. Uma situação que fica para a organização rever.
Relativamente aos concertos, não há muito a dizer. Sonoplastia é um colectivo da terra, bastante jovem que apresentou argumentos interessantes para singrar, mas que só o trabalho deles e o tempo dirá se isso é uma realidade. Sentiram o apoio dos amigos, actuaram na sua zona e abriram caminho para Dealema. Foi uma actuação positiva mas sem nenhuma relevância especial a destacar.
Quanto a Dealema, se se diz que “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, adaptando isto à realidade dealemática ficará algo como «muda-se o lugar, mantém-se a euforia». Onde quer que Dealema actue, eles varrem a feira. A apoteose e adoração dos jovens por eles não conhece limites. Seguem as letras em uníssono, gesticulam, saltam, enfim, vibram imenso com o Pentágono, que tem sempre uma entrega total, um puro compromisso com o Hip Hop.
Sintetizando os dois dias de festival, achamos ter sido uma iniciativa louvável que reuniu muitos patrocinadores sendo de assinalar o apoio do município local. Moveu-nos mais nesta ida a Barcelos a curiosidade e oportunidade de assistirmos aos concursos, mais do que os concertos. Todavia, as actuações, apesar de nem todas terem sido novidade para nós, foram exemplares. Oxalá houvesse mais iniciativas como esta no nosso país. Nem tudo correu bem no “Às 3 Pancadas”, mas felizmente houve muito mais pontos positivos do que negativos. O festival está de parabéns por isso. Que volte, que venha ainda melhor, com mais força, com mais gente, com mais talento, pois tudo isto é a bem do Hip Hop nacional.
Zeca é o rei!!
ResponderEliminarComprovámos ao vivo que ele é mesmo o rei! ;D
ResponderEliminarSem duvida alguma!!! ele mereceu o primeirissimo lugar apesar de concordar que o torneio em termos de mc esteve muito fraquinho.
ResponderEliminarpena ainda n terem saido as filmagens nem as fotos do evento em si se alguem tiver matéria agradecia que entrasse em contacto cmg.
big up ai po zeca
by BeatS