Todo o disco procura desbravar um mundo algo fantasioso, onde nem sempre a felicidade impera, mas onde a busca pela mesma nunca é descurada. No roteiro estão gravadas histórias mas também estórias. Para nós, ouvintes, é difícil descodificar as verdadeiras das ficcionadas, mas essa acaba por ser parte da essência do utopismo deste álbum. É possível encontrar-se um fio condutor no desenrolar das faixas, como por exemplo na série "O Amor É Mágico"/ "Tem Calma Contigo"/ "Deixei de Ser Bandido". O single de avanço do disco é só a primeira grande tela pintada por este soberbo artista contemporâneo de batidas chamado Tiago Novo a.k.a. New Max. A inspiração, essa, é facilmente reconhecível nos traços de "O Amor É Mágico". As décadas de 60 e 70 são, de facto, duas épocas ricas para quem, como New Max, procura molhar o pincel em estilos como o Funk, o R&B ou a Soul para compor novas obras. A faixa faz por celebrar aquilo que há (ou havia de haver) de melhor na vida de cada um: o amor. "O amor é rápido, sádico, às vezes é trágico, mágico". É assim, com adjectivos que o refrão canta o amor em jeito de alegria. É basicamente um grito pela felicidade, logo, um tema que fica facilmente retido no ouvido.
Se a anterior canção começa por sugerir uma primeira troca de olhares entre dois apaixonados, "Tem Calma Contigo", o terceiro tema do álbum, incide-se sobre aqueles encontros de uma noite, em que as hormonas fervilham, sendo estas, muitas das vezes, a via verde para o sexo desprotegido. "Tem calma contigo ou vai ser um perigo". É o aviso tácito inserido no refrão que devia ser acatado por todos aqueles que ousam vestir a capa de super homem (como o Valete lhes chama). E porque a mensagem é séria, mais umas palavras de Demo para guardar desta música: "Mantém a consciência em permanência". O instrumental está novamente bem esculpido.
De seguida a estória ameaça avançar para o matrimónio, ou nem por isso. Porque surgem dúvidas, poucas certezas, questões pertinentes e muita insegurança. “Deixei de Ser Bandido” podia ser o princípio daquele dia com que a maioria das mulheres mais sonha, mas será assim também nos homens? Uma coisa é certa: o ser masculino também é sonhador... ou será apenas um “Contador de Histórias”?: “Sou comentador de filmes de terror/ Crio mistérios na vida sempre a meu favor/ Sou um jornalista, sigo bem a pista/ E quando se trata de falar sou bué realista/ Tento ser optimista, um tanto ou quanto egoísta/ Um consumidor futurista, e quem sou eu? Risca...”. Bem-vindos à génese do universo alucinado dos novos "EXS".
A esmagadora maioria dos temas tem New Max anexado ao refrão, surgindo antes ou depois o rap (ainda muito "adolescente") de Demo. No ar paira instantemente uma fragrância de romance, de sedução, de paixão, de conquista... Porque neste disco os Expensive Soul surgem profundamente in love, e são muitas as palavras e os minutos dedicados ao amor, como por exemplo em "Só Contigo" e "Sara" (uma música forte, passível de várias interpretações). Mas é na posição '6' do alinhamento que vive, na minha opinião, uma das melhores passagens do registo: "Dou-te Nada". Aqui a neo-soul ferve de tal maneira que é impensável esta faixa não ser futuramente extraída como single. É capaz de derreter muitos corações por aí. Curiosamente, ao ouvi-la (e isto é apenas um aparte) veio-me à lembrança Mayer Hawthorne (também ele um incurável e moderno amante do velho ambiente da Soul).
Os únicos convidados do álbum - se Dino e Catí Freitas não forem considerados como tal - são Bob da Rage Sense e A.S2. Os dois MC's surgem num dos temas com mais boa onda do disco. Porque se "Hoje É O Dia + Feliz da Minha Vida", ele tem que ser celebrado com música. Com o bpm bem acelerado, A.S2 (em particular) acaba por surgir com um jogo de palavras engraçado. Um destaque final para a disparidade das últimas duas faixas. A pragmática e crua "Gameover" (com uma questão oportuna: "De quem é que foi a mão/ Que nos pôs nesta esfera/ Que acabou com a nossa era?" ) e a festiva "Celebração", com uma roupagem fresca, algo electrofunk ou disco, que finalizada dá lugar a um trecho só instrumental, algo curto, mas com um groove bem delicioso. Como nem tudo o que parece é - e esta expressão ganha contornos inigualáveis neste disco-, 13 não é o número do azar, nem da sorte, tão pouco do total de faixas do álbum. Isto porque, à semelhança dos dois anteriores, também este esconde uma surpresa para além da tracklist.
Concluindo, acaba por não ser difícil catalogar o novo trabalho dos Expensive Soul. Em termos de sonoridade é indubitavelmente uma rajada de ar fresco na música portuguesa, muito desidratada neste género de som. Apesar de soar a novo, “Utopia” tem vestígios encantadores de uma antiguidade de 40 ou 50 anos – o que pode significar que o duo abrace novas audiências daqui para a frente (embora a juvenilidade das letras possa dificultar tal facto). Somos contemplados com muita Soul, algum Rap e também laivos de Funk (em detrimento do Reggae injectado nos dois primeiros discos). Em termos individuais, New Max partiu em vantagem para este novo registo em relação a Demo (que se manteve entretido como DJ). Porque não dizer que “Phalasolo” (o aprazível álbum pessoal de Max) serviu de estágio para este registo colectivo? É que a musicalidade de ambos é semelhante – e neste caso foi bem-vinda. Nunca será demais elevar o tacto de New Max na produção dos temas, geridos com pinças. No que toca às letras, o amor é o tópico basilar de grande parte delas, que tentam transmitir algumas mensagens importantes embora camufladas pela boa onda do grupo. Passados 11 anos desde que se juntaram, embora o país só os tenha conhecido em 2004 através do “B.I.” e definitivamente acolhido pela “Alma Cara” dois anos depois, os Expensive Soul fazem em 2010 uma viagem ao futuro através do passado.
Muito fixe.. Apesar de ter gostado mais do otro cd, tambem nao desgostei deste.
ResponderEliminarRelataste-o bem :)
A banda mais fiiiiiixe de portugaaaaal :D
ResponderEliminaros EXS fizeram parte da maioria da minha adolescência (dsd os 13 anos)...e continuam hoje a estar sempre presentes na minha vida.
ResponderEliminarOuvir EXS é ouvir e sentir leça..é a nostalgia do nosso pessoal....é pelo menos a minha...cd vez melhor...mas nao eskecendo "este é o sitio, este é o local...leça da palmeira terra mais bonita de portugal"...entre outras musicas k recordam momentos ja passados...!
obg EXS por levarem leça através de vocês mesmos e das vossas musicas pelo país fora...e kem sabe arredores ;)