domingo, 15 de agosto de 2010

DJ Yoke - Mega Street Phone Volume 01 (Crítica)

DJ Yoke teve a amabilidade de ceder ao HIPHOPulsação duas cópias da sua mixtape “Mega Street Phone Volume 01”. Publicamente, agradecemos a oferta. Este DJ de Aveiro tem vindo a ganhar cada vez mais notoriedade no meio Hip Hop português como comprova o seu trabalho e a sua participação em muitas festas.

Partindo para uma audição da mixtape de Yoke, assim numa apreciação global, superficial e facilitista, poder-se-ia concluir que “Mega Street...” pende para o comprometimento com a descontracção, para o mero propósito de se fazer por fazer despreocupadamente os sons. Em alguns momentos, esta impressão torna-se numa evidência indesmentível. Todavia, em boa verdade e acentuando o caudal de rigor na análise de cada faixa, percebe-se que esta mixtape tem minério escondido por dentro.

A realidade mais marcante deste trabalho é a potência instrumental e uma super surpresa na produção chamada Elbolah. A qualidade melódica de “Sem Dúvidas” junta-se à vibração malandra, que força a bater o pé, de “Gafanha”, mas bem que podia ter vindo dos ares da zona sul do Rio de Janeiro. “Tamos Lá!” é mais uma pedra preciosa produto da arte de manejar as batidas, desta feita recorrendo a um sample fantástico. Finalmente, a frescura certificada do produtor Elbolah encontra-se no último tema da mixtape, onde DJ Yoke brilha, soltando o cheiro do plástico riscado num perfeito jogo de legos entre ambos os intervenientes.

Ainda apreciando a deflagração instrumental, Mohad Sabre apresenta beats mais propulsivos mas com boas camadas de sombras a pairar-lhes, como se fossem nativos de caves escuras ou de sótãos poeirentos. Em antítese, Yoke opta por trabalhar notas mais requintadas, como em “Essência”, em que parece que faz um beat de veludo, ou “Terapia de Choque Remix”, onde a simplicidade se prolonga em algo bastante gostoso para ouvidos de fina sensibilidade. Agrupe-se na elite de produção também Taseh e Polémico com bases boas para os MC’s rimarem, confirmando-se o extenso rol de artistas com a habilidade de extraírem agradável música das máquinas mágicas.

A nível de rimas, coloco sob os holofotes apenas alguns nomes. Neste particular, nota-se alguma fragilidade de alguns rappers e aqui acentuo a tal leveza a que me referia inicialmente, em que alguns por falta de estímulo ou capacidade não conseguiram causar impacto com as rimas. Colocados os devidos pontos nos is, debaixo de intensas luzes está Beware Jack. Tem grande potencial, assente num estilo que carrega no âmago originalidade e produz vício ouvi-lo, já que nos prende do início ao fim com as suas palavras. Promete! Ouvidos nele pois o próprio diz que vai escrever a sua vida numa pauta.

Apontamentos bem positivos para as participações de dois rappers com os quais estou perfeitamente consciente quanto à sua valia: Praso e Simple. Este último, com os olhos postos na permanente evolução, aproveita para ensaiar novas técnicas de rima e de flow. Quanto a Praso, já oportunamente dissequei sobre o seu trabalho aqui, já que participa na compilação de Yoke com um som do seu último disco.

Em termos da composição de temas, destacaria cabalmente dois: “Lisboa” e “Essência”. No primeiro, esforçada e briosamente Síndroma desenha uma narrativa sobre as vielas da Capital e sobre os lugares que não aparecem nos postais para os turistas comprarem. Síndroma cospe as suas rimas no mesmo ritmo frenético e nervoso da vida dos alfacinhas. El Sabe, por seu turno, rimando em castelhano, portou-se muito bem. Teve uma boa química com o instrumental de Yoke, notando-se-lhe uma dinâmica bem madura na profusão das rimas que envolvidas no beat apetece dizer que sabem à doçura dum suave caramelo, daqueles que antigamente os portugueses iam buscar a Tui, na Galiza.

Não tão especial quanto os anteriores mas digno de ser mencionado é o tema de Wuser. “Eu Já Estou Farto Remix” traduz a fadiga do artista pela situação calamitosa do país. Cansaço, esse, que contrasta com a energia com que atira o bafo das suas palavras para a cara dos seus visados. Confesso que fiquei farto deste som quando Wuser tocou no tópico Futebol Clube do Porto...

Para fechar, endereçar, mais uma vez, os parabéns ao DJ Yoke pelo trabalho e pela simpatia da sua oferta, não esquecendo o aguerrido esforço em manter a Zona Centro no mapa do Hip Hop português. Esta mixtape vale essencialmente para mostrar que o nosso Hip Hop pode estar descansado quanto a fazedores de batidas, têmo-los em bom número e em qualidade; acentua a proeminência de Yoke como gira-disquista; e por fim, dá realce a alguns rappers como Praso – que já é uma figura importante – como Beware Jack e Simple, que têm valor e que só dependerá deles a afirmação no patamar cimeiro do nosso rap, sem esquecer a participação internacional de El Sabe, que melhor contribuiu para o cosmopolitismo da mixtape.

5 comentários:

  1. Sabem onde posso comprar esta mixtape?
    Abraço

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  2. Podes encomendar no site da chupaloops ou podes encomendar a mim, Tropa Oficial da ChupaLoops ;)

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  3. Parabens ao Yoke! e a todos que participaram!
    esperamos pela 2ºMegaStreetphone!!!!!venha ela!
    1 love!Aveiro uma afirmação Nacional no Rap!
    Rafa

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  4. Se o hip hop esta Morto! a chupaloops reanima!!!!!!!!!!!!!AVR a Melhor......
    PEace,
    Marco!!!

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  5. No geral concordo com tudo o que disseste, apesar de nao teres mencionado o meu som favorito (Não Sabem, do Zim e do Mic)

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