terça-feira, 10 de agosto de 2010

Expensive Soul - Utopia (Crítica)

Os Expensive Soul têm aproveitado o verão para assentar arraiais em inúmeros palcos montados por todo o país - sobretudo em festivais - e não é por acaso. O último disco deste duo da "terra mais bonita de Portugal" alojou-se nos escaparates comerciais há relativamente pouco tempo. Editado no último mês de Maio por via independente, "Utopia" define-se em 13 faixas que redefinem parte da alma melódica do repertório de Expensive Soul. New Max vai-se assumindo um compositor de músicas de excelência (e já não é de hoje), não deixando porém de projectar as suas cordas vocais de forma cantada (e com sucesso, diga-se). Já Demo interpreta (cada vez mais) o papel de rapper do grupo, onde embarca numa onda com pouca exigência rimática, encurtando muitas vezes caminho pelo verso mais acessível e algo repetitivo, vulgarizando-se constantemente. Neste capítulo das líricas, o duo leceiro mantém-se fiel à temática romântica enraizada na música Soul e comummente adoptada pelos seus seguidores. Contudo, denota-se uma musicalidade bem mais graúda do que em discos anteriores, graças, em grande parte, ao delicioso trabalho de New Max (com a ajuda de outros comparsas, é certo) nos instrumentais.

Todo o disco procura desbravar um mundo algo fantasioso, onde nem sempre a felicidade impera, mas onde a busca pela mesma nunca é descurada. No roteiro estão gravadas histórias mas também estórias. Para nós, ouvintes, é difícil descodificar as verdadeiras das ficcionadas, mas essa acaba por ser parte da essência do utopismo deste álbum. É possível encontrar-se um fio condutor no desenrolar das faixas, como por exemplo na série "O Amor É Mágico"/ "Tem Calma Contigo"/ "Deixei de Ser Bandido". O single de avanço do disco é só a primeira grande tela pintada por este soberbo artista contemporâneo de batidas chamado Tiago Novo a.k.a. New Max. A inspiração, essa, é facilmente reconhecível nos traços de "O Amor É Mágico". As décadas de 60 e 70 são, de facto, duas épocas ricas para quem, como New Max, procura molhar o pincel em estilos como o Funk, o R&B ou a Soul para compor novas obras. A faixa faz por celebrar aquilo que há (ou havia de haver) de melhor na vida de cada um: o amor. "O amor é rápido, sádico, às vezes é trágico, mágico". É assim, com adjectivos que o refrão canta o amor em jeito de alegria. É basicamente um grito pela felicidade, logo, um tema que fica facilmente retido no ouvido.

Se a anterior canção começa por sugerir uma primeira troca de olhares entre dois apaixonados, "Tem Calma Contigo", o terceiro tema do álbum, incide-se sobre aqueles encontros de uma noite, em que as hormonas fervilham, sendo estas, muitas das vezes, a via verde para o sexo desprotegido. "Tem calma contigo ou vai ser um perigo". É o aviso tácito inserido no refrão que devia ser acatado por todos aqueles que ousam vestir a capa de super homem (como o Valete lhes chama). E porque a mensagem é séria, mais umas palavras de Demo para guardar desta música: "Mantém a consciência em permanência". O instrumental está novamente bem esculpido.

De seguida a estória ameaça avançar para o matrimónio, ou nem por isso. Porque surgem dúvidas, poucas certezas, questões pertinentes e muita insegurança. “Deixei de Ser Bandido” podia ser o princípio daquele dia com que a maioria das mulheres mais sonha, mas será assim também nos homens? Uma coisa é certa: o ser masculino também é sonhador... ou será apenas um “Contador de Histórias”?: “Sou comentador de filmes de terror/ Crio mistérios na vida sempre a meu favor/ Sou um jornalista, sigo bem a pista/ E quando se trata de falar sou bué realista/ Tento ser optimista, um tanto ou quanto egoísta/ Um consumidor futurista, e quem sou eu? Risca...”. Bem-vindos à génese do universo alucinado dos novos "EXS".

A esmagadora maioria dos temas tem New Max anexado ao refrão, surgindo antes ou depois o rap (ainda muito "adolescente") de Demo. No ar paira instantemente uma fragrância de romance, de sedução, de paixão, de conquista... Porque neste disco os Expensive Soul surgem profundamente in love, e são muitas as palavras e os minutos dedicados ao amor, como por exemplo em "Só Contigo" e "Sara" (uma música forte, passível de várias interpretações). Mas é na posição '6' do alinhamento que vive, na minha opinião, uma das melhores passagens do registo: "Dou-te Nada". Aqui a neo-soul ferve de tal maneira que é impensável esta faixa não ser futuramente extraída como single. É capaz de derreter muitos corações por aí. Curiosamente, ao ouvi-la (e isto é apenas um aparte) veio-me à lembrança Mayer Hawthorne (também ele um incurável e moderno amante do velho ambiente da Soul).

Os únicos convidados do álbum - se Dino e Catí Freitas não forem considerados como tal - são Bob da Rage Sense e A.S2. Os dois MC's surgem num dos temas com mais boa onda do disco. Porque se "Hoje É O Dia + Feliz da Minha Vida", ele tem que ser celebrado com música. Com o bpm bem acelerado, A.S2 (em particular) acaba por surgir com um jogo de palavras engraçado. Um destaque final para a disparidade das últimas duas faixas. A pragmática e crua "Gameover" (com uma questão oportuna: "De quem é que foi a mão/ Que nos pôs nesta esfera/ Que acabou com a nossa era?" ) e a festiva "Celebração", com uma roupagem fresca, algo electrofunk ou disco, que finalizada dá lugar a um trecho só instrumental, algo curto, mas com um groove bem delicioso. Como nem tudo o que parece é - e esta expressão ganha contornos inigualáveis neste disco-, 13 não é o número do azar, nem da sorte, tão pouco do total de faixas do álbum. Isto porque, à semelhança dos dois anteriores, também este esconde uma surpresa para além da tracklist.

Concluindo, acaba por não ser difícil catalogar o novo trabalho dos Expensive Soul. Em termos de sonoridade é indubitavelmente uma rajada de ar fresco na música portuguesa, muito desidratada neste género de som. Apesar de soar a novo, “Utopia” tem vestígios encantadores de uma antiguidade de 40 ou 50 anos – o que pode significar que o duo abrace novas audiências daqui para a frente (embora a juvenilidade das letras possa dificultar tal facto). Somos contemplados com muita Soul, algum Rap e também laivos de Funk (em detrimento do Reggae injectado nos dois primeiros discos). Em termos individuais, New Max partiu em vantagem para este novo registo em relação a Demo (que se manteve entretido como DJ). Porque não dizer que “Phalasolo” (o aprazível álbum pessoal de Max) serviu de estágio para este registo colectivo? É que a musicalidade de ambos é semelhante – e neste caso foi bem-vinda. Nunca será demais elevar o tacto de New Max na produção dos temas, geridos com pinças. No que toca às letras, o amor é o tópico basilar de grande parte delas, que tentam transmitir algumas mensagens importantes embora camufladas pela boa onda do grupo. Passados 11 anos desde que se juntaram, embora o país só os tenha conhecido em 2004 através do “B.I.” e definitivamente acolhido pela “Alma Cara” dois anos depois, os Expensive Soul fazem em 2010 uma viagem ao futuro através do passado.

3 comentários:

  1. Muito fixe.. Apesar de ter gostado mais do otro cd, tambem nao desgostei deste.

    Relataste-o bem :)

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  2. A banda mais fiiiiiixe de portugaaaaal :D

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  3. os EXS fizeram parte da maioria da minha adolescência (dsd os 13 anos)...e continuam hoje a estar sempre presentes na minha vida.
    Ouvir EXS é ouvir e sentir leça..é a nostalgia do nosso pessoal....é pelo menos a minha...cd vez melhor...mas nao eskecendo "este é o sitio, este é o local...leça da palmeira terra mais bonita de portugal"...entre outras musicas k recordam momentos ja passados...!
    obg EXS por levarem leça através de vocês mesmos e das vossas musicas pelo país fora...e kem sabe arredores ;)

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