A primeira vez que ouvi Beware Jack foi numa mixtape de DJ Yoke. Por ter gostado, o rapper de Odivelas ficou-me retido na membrana auditiva. Desde aí que fiquei curioso sobre o que seria capaz de desenvolver num trabalho em nome próprio. Cá está ele. “O Mundo É Meu”, Beware Jack apresenta-se. Hora de analisá-lo.
Tal como é comum à maioria dos rappers, Beware procura neste álbum afirmar-se no panorama do rap português. É seu intento apresentar as suas perspectivas, comprometer-se a conquistas, alargar os seus horizontes, levando o ouvinte a viajar pelas suas ideias.
Se a realidade de Jack é, como diz, “uma prova de resistência”, é interessante indagar sobre o modo como o rapper ardilou o plano de tornar este disco o mais irresistível possível para quem o escuta. A primeira nota que contribui para esse propósito são as produções. De facto, Beware muniu-se de um conjunto de produtores de qualidade como Yoke, Yaksha, Praso, que lhe deram uma passadeira vermelha para ele atravessá-la e brilhar.
Todavia, o MC nem sempre se consegue sobrepor à supremacia do instrumental. Quais as razões para isso? Apesar de soar quase sempre bem nos beats, o que é revelador de uma assinalável dinâmica, Beware deveria ter tido mais rigor na composição dos temas para que eles não perdessem objectividade, recusando o vago e o indefinido, em favor de uma maior solidez. A nível temático, este trabalho de Jack acabou por redondar desfavoravelmente. Exigia-se que os assuntos fossem mais interessantes e as líricas tivessem bem mais substância.
Por exemplo, o som “O Q Faz Falta” podia ter-se tornado num clássico da carreira de Beware se este se tivesse empenhado mais a fundo em apregoar o que carece na sociedade, na relação das pessoas, no país, no rap, etc. Com Yoke a fazer de Just Blaze, era vital que Beware apostasse mais em desenvolver este assunto, pois acompanhado deste beat tinha tudo para fazer um tema excelente. Ainda assim, nem tudo se perdeu e esta faixa é uma das melhores do álbum.
Mais pontos altos de “O Mundo É Meu” são «I Will», «O Engodo» e «O Livro», com Praso. Um sublinhado especial para este último som. Praso mostra novamente o porquê de ser um dos melhores rappers portugueses e um dos grandes produtores neste país. Tem uma excelente participação aqui, no momento que considero ser o mais especial deste trabalho. Praso teve o condão de com o seu talento ofuscar tudo e todos. Não me canso de referir que Praso merecia muito, mas muito mais reconhecimento pelo seu trabalho, que é fantástico.
Neste disco, não há nada a apontar aos produtores, houve um bom trabalho e nalguns casos um excelente labor mesmo, o que justifica o que eu já argumentava há algum tempo atrás. Os produtores estão a ganhar terreno aos rappers pois estão a conseguir inovar, a adquirir novas competências, a arriscar mais e a dar um passo em frente, enquanto que os MC’s sentem uma dificuldade nata, especialmente na variação das temáticas que geralmente se referem às vicissitudes do ego. Se o Benfica ficou àquem das expectativas na época desportiva que findou, também esperava mais e melhor de Beware Jack. Pelo menos, reconheço-lhe capacidade para concretizar algo mais sólido, substancial e marcante no contexto do rap português.
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