sábado, 30 de maio de 2009

Biofonia: General D

General D – nome artístico de Sérgio Matsinhe – nasceu em Moçambique, na antiga Lourenço Marques que conta hoje com a designação de Maputo. Saiu do ventre de sua mãe no dia 28 de Outubro de 1971, experimentando a potência das suas cordas vocais pela primeira vez neste mundo. Quando sorvia há dois anos apenas os perfumes do país da marrabenta, a sua família decidiu viajar para Portugal. Assim, foi nos arredores de Lisboa, capital portuguesa, que o pequeno Sérgio Matsinhe cresceu. A sua juventude foi bastante activa. Na escola, a performance de Matsinhe foi francamente boa. A aptidão escolar estendeu-se ao desporto, constando-se que coleccionou algumas meritórias distinções no atletismo.

A sua sede por África levou-o a vasculhar as suas origens. Ao interesse e à inspiração que lhe provinha dos costumes africanos, General D acrescentou-lhe o ritmo e a essência do rap. Nele encontrou uma forma de se exprimir individualmente mas também era um veículo privilegiado para afirmar a sua africanidade. As preocupações de ordem social e política iriam conduzi-lo ao vínculo com movimentos ligados aos direitos das minorias e ao racismo, sendo inclusive candidato a deputado para o Parlamento Europeu pelo antigo partido “Política XXI”.

Nos alvores da década de 90, General D é já um dos grandes dinamizadores e pioneiros, pois claro, do rap em solo luso. Em 1990, organiza mesmo o primeiro festival de rap em Portugal. Tal acontecimento teve lugar na “Incrível Almadense”, na cidade do Cristo-Rei. De entre o leque de convidados para este evento destacaram-se Black Company, African Power e o próprio General D. Em 1993, tornar-se-ia o primeiro rapper nacional a assinar um contrato discográfico. General D afiliou-se à EMI-Valentim de Carvalho. Passado um ano, saía o EP “Portukkkal é um Erro”. Devido à novidade e ao carácter explícito das letras, Portugal recebeu mal o trabalho do artista. Todavia, a implantação do rap em Portugal estava feita e o nome de General D figuraria para sempre no livro de honra do rap em Portugal, em virtude do seu pioneirismo. O abalo que General D provocou extravasou mesmo as fronteiras de Portugal.



Em 1995, General D inicia um périplo de concertos cujos momentos altos foram a actuação no Festival Imperial, na cerimónia de entrega dos prémios do ainda jornal “Blitz” e na Festa do Avante. Ainda nesse ano, é editado o seu álbum “Pé na Tchôn, Karapinha na Céu”, gravado por General D & Os Karapinhas, contando com a produção de Jonathan Miller. Derivando pela pop e pelos sons afro, o rap de General D foi agora bem recebido pela crítica, particularmente o tema “Black Magic Woman”. Com África sempre no pensamento, a música de General D obrigatoriamente teria de emanar essa estética continental, como se cada nota musical contivesse os sabores e exalasse os cheiros de África. Deste modo, tornava-se claro que o rapper pretendia partir do tambor africano até ao rap. Afro-rap, naturalmente. O ano de 95 foi de tal forma fértil para General D que ainda teve tempo para participar com os temas “Intro”, “Olhar para Dentro” e “Timor” no álbum «Timor Livre». Disco este que foi resultado de um espectáculo no Centro Cultural de Belém em que se prestou tributo e se demonstrou solidariedade em relação ao povo timorense.


Chegou 1997 e General D, após concertos dados dentro e fora de portas, edita “Kanimambo”, cuja produção esteve a cargo de Joe Fossard. Daqui para a frente as aparições de General D foram esporádicas. Participações com Ithaka (“Erase the Slate of Hate”), com Fernando Cunha, membro dos Delfins, (“Pensamento Circular”), e nas colectâneas “Sons de Todas as Cores” e “Onda Sonora”. Foi tudo o que General D nos deu a ouvir. Não sei se se retirou definitivamente, se está a fazer uma longa pausa ou sequer se pensa regressar ao rap. O que sei é que é uma pena que não se tenha mais ouvido falar dele.



General D afirmou em várias entrevistas que não gostava que lhe colocassem o rótulo de pai do rap português. Tal recusa devia-se ao facto de General D pretender que o movimento, que dava os primeiros passos no nosso país, fosse unido. Assim, recusava liminarmente hierarquias, preferindo que se sentisse um clima de “irmandade” – palavra usada pelo próprio General D. Precursor, activista do movimento, General D deu-nos uma óptima lição sobre como viver a música. Pela africanidade que tanto prezava, nada melhor do que lhe agradecer em Ronga, idioma originário de Maputo: Kanimambo (obrigado) General D!

4 comentários:

  1. Só consegui ver o estado de sítio... está fantástico! Rap do bom e do melhor. Os versos finais então, estão soberbos... poesia genuína. E o Melo, tão novinho!
    Ouvir isto dá-me força para acreditar que o rap tem, de facto, coisas muito boas para oferecer a quem às pessoas que o ouvem e às suas vidas. Word up...

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  2. correcção: o "a quem" está a mais.

    Um abraço

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  3. General D fazia realmente bom rap. É incrível como não se soube mais nada dele...

    Também acredito que o rap terá algo sempre de bom para oferecer. Mesmo nas fases menos inspiradas, surge sempre alguém a fazer algo de diferente e a elevar o nível.

    Grande abraço.

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  4. O que ninguem sabe ainda ate hoje e que o General D sumiu por que roubou dinheiro de amigos muitos proximos. Investindo este dinheiro ilicitamente em compra ilegal de diamantes, cheques falsos e desmanche de carros para Africa. A ultima noticia que soube e que ele estava cumprindo pena criminal em Amsterdan.

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