terça-feira, 10 de março de 2009

BIOFONIA: Black Company

A poesia negra

Considerados por muitos os avós do rap nacional (tal como sucede com Kool Herc e Afrika Bambaataa em relação ao movimento hip hop nos EUA, hoje universal), os Black Company nasceram com o movimento em Portugal, retiraram-se aquando do seu crescimento e regressaram com um estilo adequado à época.

Voltando duas dezenas de anos atrás... Foi nas ruas que Maddnigga aka Bambino, Bantú aka Guto e companhia começaram por fazer o que na altura por cá não se ouvia na língua de Camões: rimas faladas em cima de batidas. Obviamente ainda embrião, o rap que inicialmente se apresentava em concertos por esse país fora era sobretudo um jogo de palavras tão puro quanto o mais natural possível. E (naturalmente) ainda pouco compreendido, conhecido e até respeitado em Portugal, o rap dos Black Company sofreu um revés quando, após três anos do seu nascimento, o grupo separou-se. Mas tão rápido quanto o seu desaparecimento foi o regresso de Guto, Bambino e Tucha como Machine Gun Poetry. Desse grupo só restaram mesmo os três elementos, até porque o nome viria a ser mudado definitivamente para Black Company. Makkas e KGB juntaram-se então à formação.

A Rapúblicação de uma Geração Rasca

Depois do primeiro concerto, o grupo da Margem Sul conseguiu espalhar a sua mensagem até chegarem à tv. Daí a virar gravação passou um ano. Em 1994, os Black Company juntaram-se a Boss Ac, Zona Dread, Family, entre outros, numa compilação que marcou tanto uma geração de mc's como uma época de apreciadores da arte que actualmente já apaixona milhões por esse mundo inteiro. A colectânea 'Rapública' ainda hoje é dos álbuns mais vendidos de rap em português. Com esse estrondoso e (talvez) inesperado sucesso, lucraram os rappers que nela deixaram o seu testemunho, lucrou o hip hop nacional e lucraram os Black Company, obviamente. A faixa 'um' ('Nadar') retirada desse cd acomodou-se nos nossos ouvidos e de lá não mais saiu. A não ser quando a letra andou de boca em boca até se consolidar como o primeiro grande clássico do nosso rap. Um ano após esse verão escaldante, ninguém ficou admirado que Bambino e seus manos imortalizassem em disco as suas rimas e batidas. 'Geração Rasca' surgiu com muita expectativa mas desapareceu com falta de reconhecimento. Mesmo assim ficaram faixas como 'Abreu' e 'Geração Rasca'.

Os Filhos fora de série!

Apostados em voltar a retribuir solidamente tudo que de bom o hip hop lhes proporcionava, e depois de três anos em rotação nacional, os Black Company reuniram tropas pra bombardearem-nos com o segundo disco oficial do grupo. 'Os Filhos da rua' saiu directamente para as prateleiras dos críticos e adeptos do movimento. Temas como 'Gina', 'Chico Dread' ou 'Genuíno' ajudaram definitivamente o grupo a marcar o seu território no rap tuga. O hip hop era escutado, era reconhecido, mas, sobretudo, era respeitado!

Sem razão aparente, os Black Company desapareceram do activo. Pelo menos colectivamente, já que continuaram a participar em vários projectos, quer a nível de produção, quer a nível de pequenas participações. Guto abrilhantou o seu caminho a solo com uma parceria discográfica com Boss AC. 'Private Show' foi a contribuição do duo para uma nova abordagem no rap português que passava pelo R&B e a Soul. Seguiram-se 'Chokolate' e 'Corpo e Alma' no repertório de Guto, projectos notoriamente influenciados pelo lado mais soft do rap.

Durante os últimos anos, o rap vem fazendo-se ouvir cada vez mais. E é notório que o movimento hip hop vem sendo cultivado e progressivamente consumido por um número cada vez maior de pessoas, embora nem sempre pelos motivos mais endógenos. Aproveitando este 'boom' da atenção e propaganda dada a este estilo, os Black Company regressaram o ano passado com 'Fora de Série'. Já sem KJB (actualmente na Holanda), os 'filhos da rua' apresentam-se agora num estilo menos old school e mais na onda party. 'Só Malucos' foi single de apresentação e teve direito a participação de Adelaide Ferreira.

Pode-se dizer que os Black Company cultivaram a semente do movimento hip hop em terras lusas, viram crescer o produto (quase) por fora, e voltaram para colher os seus frutos. Nada mais justo.

3 comentários:

  1. bom gostei imenso de ler este artigo pós Black Company faz parte da minha historia cultural hip hop são a minha inspiração para escrever paz e a amor a todo eles e que Deus les muita força para ficarem eternamente unidos com o HH como carne e unha ya

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  2. Obrigado pelo comentário! Os Black Company são, de facto, parte importante na história do nosso Hip Hop.

    Cumprimentos!

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    1. é claro que os Black Company da bomba, eu freestyle com bambino na década de 90 no Miratejo área, mesmo improvisado concerto na onda parque Costa da Caparica, freestyle no miratejo foi terrível, Eu vivo em França, forca portugal

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