quinta-feira, 19 de março de 2009

J Dilla Changed Our Lives

J Dilla mudou as nossas vidas. A de todos os que gostam de Hip Hop. Digo-o peremptoriamente. Poderia basear-me somente na minha pessoalidade e exprimir a admiração que nutro por J Dilla. Porém, coloco definitivamente a afirmação no plural, por ter a plena consciência de que J Dilla não tocou somente o meu coração. Ele conquistou o mundo, com o seu talento, com a sua obra extraordinária, com a sua paixão pela música e pela cultura Hip Hop. Onde quer que esteja hoje, J Dilla deve estar orgulhoso e pode descansar em paz, pois deixou na Terra pegadas intemporais, conservadas pelo estatuto de mito dentro da comunidade Hip Hop.

Natural de Detroit, J Dilla cresceu rodeado de música, por influência directa dos seus pais. Em virtude desse facto, precocemente ganhou uma forte educação e paixão musicais. Há quem diga que J Dilla só veio a este mundo para nos presentear eternamente com o seu primoroso dom. James Dewitt Yancey a.k.a. Jay Dee a.k.a. J Dilla rapidamente se notabilizou, tendo sido o mentor do aclamado grupo Slum Village. No seu currículo, são infindáveis as colaborações que fez enquanto MC e produtor. J Dilla criou batidas para gente ilustre, desde The Pharcyde, Common, passando por De La Soul, A Tribe Called Quest, até Busta Rhymes, entre muitos outros. Essas mesmas figuras do rap eram fãs de J Dilla e beneficiaram muito do toque de Midas do genial produtor. Outros arquitectos de batidas, inclusive mais bem sucedidos em termos de vendas, nunca tiveram pejo em afirmar a influência de J Dilla nos seus trabalhos.

Com uma sonoridade difícil de classificar, em virtude da sua versatilidade mas também pelo experimentalismo característico das suas produções, J Dilla fundou um estilo único, onde o extremo bom gosto impera, catapultando-nos obrigatoriamente para um outro universo sonoro. J Dilla introduziu no jogo das produções uma classe, um brilho, um requinte, um sabor, uma emoção, perfeitamente ímpares. Dominando a MPC, namorando com os instrumentos ou empunhando o microfone, Jay Dee realizou um trabalho maravilhoso e inesquecível. Envolto numa aura magnificiente, J Dilla era acarinhado pelas mais diversas celebridades musicais, tanto pelo seu génio como pela sua postura sóbria.

Então por que partiu J Dilla injustamente tão cedo, três dias depois de completar 32 anos? A vida tem mistérios insondáveis é certo, mas ainda assim Yancey teve oportunidade de deixar um vastíssimo espólio e o seu fantástico exemplo de vida. A doença que ceifou a vida de J Dilla – lúpus – corroera-lhe o corpo durante cerca de quatro anos. Desde 2002, altura em que soube do diagnóstico, até falecer, em 2006, “o produtor favorito do teu produtor favorito” foi resistindo bravamente às agruras da doença. Não deixou que a abominável maleita o afastasse da sua paixão. Assim, J Dilla continuou envolvido em projectos, como até aí tinha feito. Apenas na fase terminal, em que a doença ganhara vantagem na batalha entre a vida e a morte, é que J Dilla foi obrigado a largar definitivamente as notas musicais. Porém, já tinha preparado a sua partida, deixando três álbuns originais prontos para serem editados: “Donuts”, “The Shining” e “Jay Love Japan”.

J Dilla deveria ter vivido muito mais tempo, de modo a presenciar, in loco, a toda a aclamação que lhe devotam. Ele merecia. Todavia, J Dilla vive em cada instrumental que criou. Uma a uma, cada batida é uma gota de genialidade que lhe escorreu da alma. J Dilla faleceu mas legou à humanidade um cardápio de canções que nos faz sentir o valor da vida, que nos transmite a emergência de viver, essa dádiva celestial. Yancey, tal como Alberto Caeiro, era do tamanho do que via. Inovador, visionário, sempre empenhado na perseguição da originalidade. Foi um ser humano altruísta, predestinado a alimentar o espírito de todos os apreciadores da arte e ciência de combinar harmoniosamente os sons. Deu-nos música como quem nos dá matéria essencial para a vida. Preciosa, única, apaixonante. Por isso, é eterna a existência e obra de James Dewitt Yancey.

O exemplo de J Dilla e a sua criação despertam-nos para a vida. Lembram-nos que não há tempo a perder para nos entregarmos ao que realmente amamos. Ele, que preencheu os seus dias a fazer arte, incita-nos através desse modelo a sermos determinados, perseverantes, lutadores e corajosos. A estes predicados juntou-se o talento em J Dilla. A sua música entra-nos pelos canais auditivos, numa osmose de êxtase e de nirvana, atravessa todo o nosso corpo e infiltra-se no nosso espírito até atingirmos a satisfação plena.

O maestro James Dewitt Yancey nasceu a 7 de Fevereiro de 1974 e faleceu a 10 de Fevereiro de 2006 mas, assim como com o mestre Alberto Caeiro, entre a data do seu nascimento e a da sua morte todos os dias foram seus. O mais reconfortante de tudo é saber que os dias vindouros também serão eternamente de J Dilla, pois ele é a luz permanente que irradia, desde o céu, a inspiração!

1 comentário:

  1. Optima descrição,texto bem escrito e sentido..PArabéns

    Continua com isto, este blog tem enorme potencial.Gostei imenso do que fui lendo.

    Grande abraço

    Primouz

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