segunda-feira, 8 de junho de 2009

Se eles são incendiários... (Parte I)

... eu também deito achas para a fogueira!

Já bastante se falou e escreveu sobre a “Incendiários Mixtape”. Não diria que se gastou muito latim porque essa língua agora cinge-se ao Vaticano. Também não ousaria afirmar que se desperdiçaram rios de tinta porque nos dias de hoje tudo se escreve no computador. Porém, esta mixtape teve condimentos vários que fizeram com que ela não pudesse passar despercebida. Agora que, para além das faúlhas, a poeira acentou, numa visão naturalmente pessoal, irei discorrer algumas considerações sobre este álbum. A “Incendiários Mixtape” foi colocada à venda no passado dia 1 de Abril e o Hip Hop português ficou muito mais quente e abalado pelo vulcão de rimas que entrou em erupção. Extra-música, cabeças ferveram e ocorreu um episódio nada edificante, que não abona em favor de ninguém e muito menos do Hip Hop luso. Porém, já se deveria prever – e estando nós em Portugal – que em caso de incêndio há uma crónica propensão para o perigo das explosões sondar os ateadores de serviço. Vale a pena perguntarmo-nos então sobre o que é que esta mixtape ofertou ao rap português.

Partindo de um conceito sugestivo e explorando uma imagem atraente, o melhor de “Incendiários Mixtape” é tudo aquilo que um incendiário florestal sonharia verbalizar quando as chamas brilhassem nas suas íris. O pior da mixtape é que em demasiadas vezes alguns incendiários tentaram atear um fogo em pleno dia de chuva. Ou, pelo menos, quiseram de fósforos molhados pegar fogo ao que quer que fosse. E porque a maioria das pessoas prefere saber as más notícias primeiro para depois se confortar na macieza da bonança, cá vão então as palavras azedas. Brincar com o fogo é perigoso para qualquer um mas também é sabido que quem anda à chuva molha-se, não é?


Sem Chama

Raf Tag esteve num nível glaciar. A sua participação em duas faixas era perfeitamente dispensável. Em ambas, Raf Tag não conseguiu entusiasmar. Atente-se nalgumas expressões do rapper: “o rap vai ser ardido” (???); “faz verter sangue, bebe sangue, vive para o sangue”; “não conheço ninguém, não respeito ninguém”; “usa palavrões”; “sinto-me importante, super arrogante”; “super bonito, não tenhas ilusões”. Se Raf Tag lança a acusação de que alguns “rimam sem sentido”, era engraçado perceber qual o alcance destas expressões. Não me parece que tenha granjeado um único fã nesta sua participação na “Incendiários Mixtape”. Por sua vez, QQ compôs um tema completamente escusado. E nem sei mais o que escrever sobre esta faixa, sinceramente. Brasileiro num belíssimo beat, não acrescentou nada de relevante à mixtape, sendo que rimou muito pouco tempo. Parece ter entrado para fazer número. Lancelot teve uma prestação fraca, tendo em conta o nível a que nos habituou outrora. Este mc de Odivelas já fez de longe muito melhores rimas do que as que se escutaram aqui. Esperava-se mais de Lancelot. A participação de Zuka deixou também bastante a desejar. O rapper que veio do Brasil e que o rap português adoptou relatou-nos como é viver no Catujal, mas duvido que a localidade se tenha sentido representada nas palavras de Zuka.

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