É com muito gosto que escrevo hoje, anunciando a mixtape “Manutenção” de Nocas. Lembro-me perfeitamente da primeira vez que ouvi Nocas. Foi com o tema “Expansão Suspeita”. Uma canção muito forte, considerada por NBC na Hip Hop Nation nº6 como uma das melhores do ano 2003. Fiquei entusiasmado com o potencial deste rapper natural do Porto e aguardei sempre com expectativa novas cenas dele. Agora que, para gáudio dos seus fãs, lançou “Manutenção”, após ouvirmos a mixtape, ficamos sintonizados nas razões que levam Nocas a dar tão poucas canções ao rap nacional.
Como uma casta do Douro necessita de tempo para se tornar excelente, Nocas tem a perfeita consciência de que o passar dos anos é fundamental para existir uma maturação humana e artística. Natural de Aldoar, começou a ouvir rap em 1994 e quatro anos mais tarde dedicou-se a fazê-lo. Passou pelo graffiti e pelo breakdance. Estabeleceu a crew L.C.R. que se extinguiu por volta de 2000. De lá para cá, Nocas tem dado o seu contributo em trabalhos de alguns camaradas seus como Mundo, Berna, Barrako 27, Syzygy, entre outros. Com “Manutenção”, Nocas, que pretende dar-se a conhecer também como Infinito, apresenta seis temas, recorrendo a instrumentais do exterior.
“Não quero vender, prefiro me conhecer”. Uma das mais profundas ambições que temos enquanto seres humanos é conhecermo-nos a nós mesmos. Nocas não é a excepção à regra e abre-nos, em “Manutenção”, as páginas que já conhece do livro da sua vida. Se há algo de intransigente que emerge do seu aglomerado de folhas isso é a liberdade! Nocas assume-se como um autodidacta, que em cada experiência quotidiana encontra as coordenadas para seguir avante. Crê que é responsabilidade nossa construir hoje mesmo o paraíso, caso contrário, “o inferno espera-te lá fora”. Embrenha-se na espiritualidade, seu tesouro, para alcançar a calma, para palpar o pensamento, saboreando a vida e sustentando com músculo os seus ideais. A solidão é a terapia que lhe desintoxica a mente, que a natureza faz voar. Quer professar o êxodo citadino pois é defensor da equação cidade igual a lugar limitativo. Nocas tem noção de que não quer pertencer a uma sociedade boçal, em que uma pessoa não é mais do que uma plasticina ridícula. O tripeiro empenha-se na procura dos instintos que a vida actual faz adormecer. Anseia pela elevação e revolta humanas, pela total liberdade, porto de abrigo por excelência, pelo alastramento da arte e gnose e fidelidade aos mandamentos do nosso coração: “faz amor com a tua deusa e serás abençoado”. Todos nós somos uma súmula de muitas coisas. Em “Influências”, Nocas verte os nomes de todos aqueles em que se inspira e que tem como modelos. Através dessas referências, Nocas explica-se a si mesmo.
Através de “Pacto”, fica expresso que independentemente do que se possa suceder, haverá sempre uma corrente inquebrável entre Nocas e o Hip Hop. Aliás, é na música que suga motivação e energia. Ela é a sua medicina alternativa. No tema “Espiritualidade e Êxodo”, Nocas reforça que a música é o atalho mais certeiro para se atingir o espírito e proporcionar que um sol brilhante raie em nós. Uma das belezas do Universo, considera, é o acontecimento mágico da eclosão da arte, em que um minúsculo estímulo pode desencadear o clique transformista. Nocas aconselha que se tenha calma e persistência pois criar um clássico na música requer muito tempo investido nesse objectivo. Isso não se faz da noite para o dia. Em “Não Preciso”, Nocas conclui que tem uma “carreira refunda”. Por outras palavras, mais do que o mcing, o portuense preza sobretudo a escrita, que lhe é essencial pelo prazer que dela retira. E só a morte lhe pode roubar a paz que uma caneta na mão lhe garante. Nocas admite que é lento na redacção pois tem a paciência necessária para procurar a melhor frase no sentido de se exprimir lapidarmente.
Nocas assinala em “Manutenção” uma afiada crítica à cultura Hip Hop em Portugal. Acusa gente de fugir da essência do Hip Hop como o diabo foge da cruz. O pior é que nadam à deriva porque não conhecem a cultura e sem isso não podem senti-la e muito menos preconizar os seus valores. “Que se foda o movimento, ele já morreu há muito tempo” – causas, segundo Nocas: a má-língua e a ignorância. Já se sabe que mc’s precisam de mudar as atitudes e deixarem-se de zangas e ataques pessoais. Mas lá está, como bem diz Nocas, o que move muitos rappers é a competição e não a criação, que logicamente deveria ser primordial. Salienta ainda a falta de diversidade no nosso meio. Nocas é desprendido. Dispensa tudo aquilo que um artista usualmente quer. Acredita no Hip Hop mas a impressão que lhe dá é a de que existem quatro movimentos para cada vertente do Hip Hop! Se com “Expansão Suspeita” assumia as suas dúvidas quanto à saudável progressão do Hip Hop luso, Nocas hoje concretiza dizendo que já não tem ilusões. De poses, rudeza, contos e ditos, boatos, Nocas não precisa. Nem nós!
Como uma casta do Douro necessita de tempo para se tornar excelente, Nocas tem a perfeita consciência de que o passar dos anos é fundamental para existir uma maturação humana e artística. Natural de Aldoar, começou a ouvir rap em 1994 e quatro anos mais tarde dedicou-se a fazê-lo. Passou pelo graffiti e pelo breakdance. Estabeleceu a crew L.C.R. que se extinguiu por volta de 2000. De lá para cá, Nocas tem dado o seu contributo em trabalhos de alguns camaradas seus como Mundo, Berna, Barrako 27, Syzygy, entre outros. Com “Manutenção”, Nocas, que pretende dar-se a conhecer também como Infinito, apresenta seis temas, recorrendo a instrumentais do exterior.
“Não quero vender, prefiro me conhecer”. Uma das mais profundas ambições que temos enquanto seres humanos é conhecermo-nos a nós mesmos. Nocas não é a excepção à regra e abre-nos, em “Manutenção”, as páginas que já conhece do livro da sua vida. Se há algo de intransigente que emerge do seu aglomerado de folhas isso é a liberdade! Nocas assume-se como um autodidacta, que em cada experiência quotidiana encontra as coordenadas para seguir avante. Crê que é responsabilidade nossa construir hoje mesmo o paraíso, caso contrário, “o inferno espera-te lá fora”. Embrenha-se na espiritualidade, seu tesouro, para alcançar a calma, para palpar o pensamento, saboreando a vida e sustentando com músculo os seus ideais. A solidão é a terapia que lhe desintoxica a mente, que a natureza faz voar. Quer professar o êxodo citadino pois é defensor da equação cidade igual a lugar limitativo. Nocas tem noção de que não quer pertencer a uma sociedade boçal, em que uma pessoa não é mais do que uma plasticina ridícula. O tripeiro empenha-se na procura dos instintos que a vida actual faz adormecer. Anseia pela elevação e revolta humanas, pela total liberdade, porto de abrigo por excelência, pelo alastramento da arte e gnose e fidelidade aos mandamentos do nosso coração: “faz amor com a tua deusa e serás abençoado”. Todos nós somos uma súmula de muitas coisas. Em “Influências”, Nocas verte os nomes de todos aqueles em que se inspira e que tem como modelos. Através dessas referências, Nocas explica-se a si mesmo.
Através de “Pacto”, fica expresso que independentemente do que se possa suceder, haverá sempre uma corrente inquebrável entre Nocas e o Hip Hop. Aliás, é na música que suga motivação e energia. Ela é a sua medicina alternativa. No tema “Espiritualidade e Êxodo”, Nocas reforça que a música é o atalho mais certeiro para se atingir o espírito e proporcionar que um sol brilhante raie em nós. Uma das belezas do Universo, considera, é o acontecimento mágico da eclosão da arte, em que um minúsculo estímulo pode desencadear o clique transformista. Nocas aconselha que se tenha calma e persistência pois criar um clássico na música requer muito tempo investido nesse objectivo. Isso não se faz da noite para o dia. Em “Não Preciso”, Nocas conclui que tem uma “carreira refunda”. Por outras palavras, mais do que o mcing, o portuense preza sobretudo a escrita, que lhe é essencial pelo prazer que dela retira. E só a morte lhe pode roubar a paz que uma caneta na mão lhe garante. Nocas admite que é lento na redacção pois tem a paciência necessária para procurar a melhor frase no sentido de se exprimir lapidarmente.
Nocas assinala em “Manutenção” uma afiada crítica à cultura Hip Hop em Portugal. Acusa gente de fugir da essência do Hip Hop como o diabo foge da cruz. O pior é que nadam à deriva porque não conhecem a cultura e sem isso não podem senti-la e muito menos preconizar os seus valores. “Que se foda o movimento, ele já morreu há muito tempo” – causas, segundo Nocas: a má-língua e a ignorância. Já se sabe que mc’s precisam de mudar as atitudes e deixarem-se de zangas e ataques pessoais. Mas lá está, como bem diz Nocas, o que move muitos rappers é a competição e não a criação, que logicamente deveria ser primordial. Salienta ainda a falta de diversidade no nosso meio. Nocas é desprendido. Dispensa tudo aquilo que um artista usualmente quer. Acredita no Hip Hop mas a impressão que lhe dá é a de que existem quatro movimentos para cada vertente do Hip Hop! Se com “Expansão Suspeita” assumia as suas dúvidas quanto à saudável progressão do Hip Hop luso, Nocas hoje concretiza dizendo que já não tem ilusões. De poses, rudeza, contos e ditos, boatos, Nocas não precisa. Nem nós!
“Loucura?” é um exercício a que Nocas procede, sugerindo que todas as pessoas que pensem ou ajam de forma diferente, estão sujeitas a que a sociedade as recomende para tratamento. Nocas é um rebelde. Viajamos à sua infância. O seu crescimento é-nos explicado com minúcia, o seu processo de transformação, auto-educação, autonomia, até que deixou de se encaixar na sociedade esquematizada. Simplesmente não lhe acredita, nem nas suas instituições. Abomina a educação formatada e a TV. Repele com nojo o consumismo, a ignorância, a moda, que motiva a comprar-se o que não se necessita.
Na sua mixtape, Nocas evoca ainda os tempos em que nas festas circulavam as maquetas. Presta igualmente uma homenagem aos pioneiros nortenhos que davam (dão!) uma lição a todos os que amam esta cultura. Não se coíbe em referir Dealema, Mind da Gap e MatoZoo. Classifica o ambiente daqueles tempos como “contagiante, consciente e inteligente”. No seu entender, esses grupos foram os guardiões da autenticidade do Hip Hop, solidificaram-no a Norte e fizeram-no seguir pelo rumo certo.
“Manutenção” de Infinito Nocas é o trabalho de alguém com bastantes anos de cultura Hip Hop mas que se encontra actualmente desgostoso com ela. Noutra componente, esta mixtape é a afirmação da filosofia de vida que escolheu e o explanar de razões que o levaram a atingir o limite mental e a desdenhar as normas que regem a sociedade. Nocas partilha connosco passos da sua vida e as suas influências. Para além das juras de amor que faz ao Hip Hop, Nocas apresenta-se como um profundo conhecedor e observador do nosso movimento, não se abstendo – e bem – de fazer todos os reparos que entende. Em “Manutenção”, está expresso o pensamento do artista, do crítico, do cidadão, do hiphopper. Neste ponto, ele não se arrepende das horas que dedicou ao Hip Hop. Se nunca teve álbuns ou os seus projectos foram curtos, considera que a sua evolução pessoal deve-a aos versos que glosou. Mc honesto e empenhado, considera que antes de ser praticante é um eterno seguidor da mensagem que o Hip Hop veicula. Nocas faz da simplicidade a sua arte.
P.S.:Uma vez que se afigura algo pesado e lento o download de “Manutenção” no myspace do artista, tomámos a liberdade de facultar o acesso mais rápido à mixtape através dum novo empacotamento dos sons. Tudo para que não tenham desculpas para baixar este trabalho, que merece ser ouvido. “Manutenção” de Infinito Nocas aqui.
“Manutenção” de Infinito Nocas é o trabalho de alguém com bastantes anos de cultura Hip Hop mas que se encontra actualmente desgostoso com ela. Noutra componente, esta mixtape é a afirmação da filosofia de vida que escolheu e o explanar de razões que o levaram a atingir o limite mental e a desdenhar as normas que regem a sociedade. Nocas partilha connosco passos da sua vida e as suas influências. Para além das juras de amor que faz ao Hip Hop, Nocas apresenta-se como um profundo conhecedor e observador do nosso movimento, não se abstendo – e bem – de fazer todos os reparos que entende. Em “Manutenção”, está expresso o pensamento do artista, do crítico, do cidadão, do hiphopper. Neste ponto, ele não se arrepende das horas que dedicou ao Hip Hop. Se nunca teve álbuns ou os seus projectos foram curtos, considera que a sua evolução pessoal deve-a aos versos que glosou. Mc honesto e empenhado, considera que antes de ser praticante é um eterno seguidor da mensagem que o Hip Hop veicula. Nocas faz da simplicidade a sua arte.
P.S.:Uma vez que se afigura algo pesado e lento o download de “Manutenção” no myspace do artista, tomámos a liberdade de facultar o acesso mais rápido à mixtape através dum novo empacotamento dos sons. Tudo para que não tenham desculpas para baixar este trabalho, que merece ser ouvido. “Manutenção” de Infinito Nocas aqui.
Grande texto "Hip Hop Pulsaçao"
ResponderEliminarNocas em grande...
Continuaçao de um bom trabalho
Simplesmente genial e a pedir a atenção dos médias em geral, para que seja exemplo a ouvir e a seguir na forma e na arte. Obrigado Nocas
ResponderEliminarNocas, penso que ainda devia ficar mais tempo amadurecer :) Nada surpreendente. Já esperava. És tu próprio. 1 Abraço amigo. Parabéns.
ResponderEliminarAss: SACL LCR
Obrigado pelos vossos comentários! Sem dúvida que o Nocas está de parabéns!
ResponderEliminarCumprimentos.
É sem duvida uma das poucas mixtapes profunda e sincera, fico contente por ainda haver alguma alma no hip hop português, parabéns ao nocas e continuaçao dum optimo trabalho.. abraços pvz csm
ResponderEliminarNocas LCR, sempre forte liricalmente, sem duvida um dos melhores mc´s do Porto!! One mano Nocas!
ResponderEliminarDruco, a ti já nem vale a pena dizer nada pela tua escrita impecavel, mas ok, lá vai: Parabéns por mais um texto bem redigido. Continua o bom trabalho, a scene precisa deste blog.
SimpLe!
www.batalhao50.com
ResponderEliminarwww.batalhao50.blogspot.com
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