quinta-feira, 9 de julho de 2009

Monstro Robot: O Ataque Pt.1

No início do manifesto de Monstro Robot, em que Stray é o porta-voz, encontramos indícios irrefutáveis para descortinarmos a causa de Portugal estar a ser atacado por três seres híbridos que, cada um à sua maneira, se expressam de forma tão eloquente. Stray confessa-o: “Não aguento este relento reles dentro de portas”. Ele admite o insucesso na adaptação ao mundo em que nasceu. Criou um universo paralelo e agora conta com Monstros e Robots para efectuar a revolução. Aquilo em que pensou Stray confirma um traço português muito intrínseco. No século XVI, os portugueses preferiram meter-se em caravelas e abalar daqui. A claustrofobia de Stray é compreensível mas, fruto dos novos tempos, a fuga já não se faz em gamelas flutuantes. Na época dos Descobrimentos, os portugueses tornaram-se grandes pela sua audácia e coragem, levando a sua portugalidade a outros pontos do globo. Stray sabe que também para onde quer que rume levará consigo a estranheza que lhe é inata. Encham-lhe a chávena com “Combustível de Foguetão” que a viagem começa aqui. Curiosamente, a batida de DarkSunn, por si só, já bastava para nos pôr a gravitar em torno de qualquer planeta!

E se DarkSunn já tem com as batidas forma de voar, Stray já parece ter-se desenrascado, como nos conta em “Asas no Correio”. Ai não sabiam que era possível? Estamos sempre a aprender! Foram os deuses que lhas enviou, provocando-lhe excitação. Porém, os deuses quiserem colocar Stray no seu lugar provando que ainda são mais loucos do que ele. Ou não fossem deuses, claro! Então, pregaram-lhe uma partida, enviando-lhe as instruções de montagem das asas em japonês, pasmem-se! Todavia, a galvanização de Stray era de tal forma latente que não havia meio de lhe destruírem ou simplesmente lhe adiarem o sonho de voar e ganhar a sua autonomia. Recorrendo ao instinto, com uma boa dose de paciência e imaginação, Stray cumpriu com sucesso a montagem das asas, sem que infelizmente tivesse conseguido evitar alguns percalços como o entornamento do café. Oxalá, não tenha sujado a roupa. E se os deuses não se vêem à nora, como nós, com a justiça, não têm escapatória relativamente à catalogação dos códigos postais. À pois é, sofram também! Só que como eles escrevem em linhas tortas isso é mais um estratagema para não lhes descobrirmos a careca e não lhes enchamos as caixas do correio com missivas amargas. Mas vá lá que satisfizeram prontamente o desejo de Stray e não cobraram um balúrdio como os padres cobram a quem queira entrar no paraíso (há-de lá estar muita gente, há-de, com esses preços!). Devidamente equipado, Stray sabe que qualquer sonho está agora à distância de um bater de asas, como adormecer em cima dum telhado. Stray alcançou a sua liberdade e nem que tenha de ir sozinho seguirá desafiando o vento.

Dono do seu destino, convém-lhe agora estar “Vestido a Rigor”. Acordado ou não, há que se fazer de quando em vez uma bela vadiagem. Com asas nas sapatilhas ou chamando um táxi lá da zona mais conhecido por “nuvem mágica”, interessava era ver e ser visto. Contacta com uma miúda, após uma atribulada aterragem, que estava cheia de curiosidades, confrontando-o com os seus rendimentos e chamando-o à pedra sobre o seu comportamento lunático. Pobre Stray, ainda não tinha engatado a rapariga e já ela denunciava querer prendas e infernizar-lhe a vida com aquelas perguntas que só esse género especial sabe fazer. Continuando com a sua sede em socializar, ruma à floresta, fornecendo o seu código especial de acesso. O lugar secreto revela personagens tão peculiares como o próprio Stray. Melhor do que isto, só assistindo ao “Desfile”! E provando que a vingança se serve tão fria como uma raposa do Ártico, a própria castiga o amigo narrador com uma poderosa e certeira estalada, por núpcias mal resolvidas. Era hora de voltar ao lar. Defraudado com os resultados da viagem mas com muitas lições para rever quando se deitasse na cama antes de adormecer. Ou no telhado, que também servia perfeitamente para reflectir.

Mesmo com asas, a vida não era um mar de rosas para Stray. O pecado também sabia voar e alimentava-se com uma sumarenta “Maçã”. A cama de cartão de Stray estava mais fria por ter um colchão de fita adesiva. Mas esse era o desejo da sua vida e nada se pode fazer contra isso. Melhor do que aguentar com as tragédias quando elas aparecessem, era antecipá-las para não ser apanhado de surpresa. Stray fá-lo. Todos os seus erros e quedas não são mais do que aquilo que ele sempre quis e sempre pensou que atingiria. Solitário que busca a companhia do pecado, pecador que oferece o colo à inocência mascarada. Já não tem coração, tem uma pedra sedimentada por um golpe duma ladina. Mas provando o seu poder de superação, Stray até que acha piada à destruição da sua vida. Pudera, está paulatinamente a construir uma nova!

Mas vaguear pela Terra e conviver com as pessoas desgasta-nos, ficamos com “Cabelos Brancos”. A sina de Stray é a minha também. É como diz alguém: as pessoas é que são o inferno. Sim, são os outros que nos infligem o castigo. Depois, não se pode preservar a riqueza que é a solidão. Forçam-nos ao convívio e já se desconfia claro que isso irá descambar em problemas. Aturar as pessoas é fazer com que as nossas pequenas células capilares morram e revelem a cor que afinal é comum e natural a todos – a branca. Totalmente encavacados, titubeando, sem capacidade para falar com as outras pessoas, mais vale demitirmo-nos de falar para lhes pouparmos o incómodo, não é, Stray? O colapso está ao virar da esquina e a extinção humana ainda está um bocadinho longe de acontecer. Era um regalo também para mim ter o mesmo sonho que Stray: viver sozinho com as próprias ideias, reflexões, numa casa situada numa copa duma árvore. Porém, ao contrário dele, era capaz de não dispensar as saídas com as super modelos. Eu acho que essas falam muito pouco, Stray. E se estiverem com o pó-de-arroz a espirrar pelo nariz, ainda falam menos (ai o que eu fui dizer!...).

Há sempre uma distância entre aquilo que nos consideramos e o que outros pensam sobre nós. Stray sente a amargura de ser considerado “Velho” por alguns «miúdos». O mestre de cerimónias de Monstro Robot é um amante incurável da extravagância, do caos, do complexo, do contraditório, do surreal, do vanguardismo e, claro, do café. Enamorado por tais paixões e disposto a lutar por elas, na verdade, não é Stray que deve ser considerado o “velho”. Reavivando a História de Portugal, sempre que alguém quis ir mais além foi achincalhado, apontado, reprimido, condenado. Quem tem vontade de conquistar, independentemente da idade, tem sempre um espírito jovem. Estes putos de hoje em dia é que, coitados, surgem como os novos “Velhos do Restelo”. Sois vós quem fica mal no fim da história, putos!

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